Doença milenar, tão antiga quanto a humanidade, a malária foi descrita de maneira minuciosa, pela primeira vez, no século 5 a.C, por Hipócrates. Antes disso, a crença era de que ela era um castigo dos deuses aos maus espíritos. O nome, porém, deriva de mal aire, que em italiano significa “mau ar” e surgiu no século 18, uma vez que se acreditava que a enfermidade fosse transmitida pelo ar insalubre de certas regiões pantanosas. Quase 200 anos depois, no final do século 19, início do século 20, foi enfim descoberto o papel dos insetos na transmissão do parasita que causa a doença.
A doença é endêmica em regiões tropicais, sobretudo na África, na Ásia e em partes das Américas, e atinge, sobretudo, populações mais pobres. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a estimativa é de que mais de um milhão de pessoas morrem a cada ano vítimas da malária. É classificada como uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada da fêmea infectada do mosquito do gênero Anopheles, também conhecido como mosquito-prego.
Considerando que a malária tem tratamento, ela poderia ser erradicada do mundo caso todas as pessoas infectadas fossem tratadas ao mesmo tempo. E, para tratar, é essencial que seja realizado o diagnóstico. Nesse contexto, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) exerce um papel fundamental, uma vez que a instituição é responsável pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), referência no diagnóstico da malária no Estado.
Para a referência Técnica em diagnóstico parasitológico e molecular para malária, do Serviço de Doenças Parasitárias (SDP) da Funed, Job Alves de Souza Filho, o acesso precoce ao diagnóstico e tratamento também é estratégia importante para a prevenção de doença grave e da morte por malária. “Aí entra o papel da Funed, de colaborar com a descentralização, ampliação, qualidade e rapidez do diagnóstico”, reforça. O Serviço atua coordenando, juntamente com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, as ações que envolvem o diagnóstico da malária. Confira as cinco principais:
Conheça mais sobre o trabalho da Funed no controle da malária neste vídeo.
Dados sobre a doença
No Brasil, a maioria dos casos de malária se concentra na região amazônica, composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Na região extra-Amazônica, composta pelas demais unidades federativas e o Distrito Federal, apesar das poucas notificações, a doença não pode ser negligenciada, pois se observa uma alta letalidade que chega a ser 100 vezes maior que na região amazônica.
O estado de Minas Gerais tem um número muito menor de casos que a região amazônica. Contudo, a letalidade fora de uma área com alto número de casos é consideravelmente maior, devido à falta de suspeita clínica, diagnóstico precoce e tratamento oportuno. “Assim, o menor número de casos deixa o diagnóstico ainda mais desafiante, pois é necessário manter os municípios e profissionais de saúde preparados para realizar o diagnóstico clinico e parasitológico a qualquer momento”, sinaliza a referência Técnica da Funed, Job Alves.
O pesquisador enfatiza, ainda, que a vigilância para malária deve ser constante, pois o estado é receptivo para a doença. “Assim, bastaria um caso sem o devido tratamento para o potencial surgimento de um surto de malária”, aponta. Somente em 2022, foram avaliadas na Funed cerca de 161 amostras de casos suspeitos. Segundo dados do Sivep-Malária, em 2022 houve 27 casos notificados em Minas Gerais (3,4% dos casos da região extra-Amazônica), 27 casos em 2021 e 29 casos em 2020, sendo 581 casos notificados nos últimos 10 anos.
As ações de vigilância da doença são realizadas em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) que, por sua fez realiza um mapeamento da ocorrência dos agravos. Segundo a subsecretária de Vigilância em Saúde da SES-MG, Hérica Vieira Santos, as informações obtidas indicam os municípios de ocorrência e atendimento dos pacientes, assim como a definição de microrregiões, regionais e macrorregiões de saúde. “Esse mapeamento possibilita a avaliação de locais de maior ou menor prevalência, bem como a avaliação de presença de fatores predisponentes à ocorrência de casos nas localidades avaliadas, para intervenção e adoção de medidas de prevenção e controle”, reforça. As informações sobre a ocorrência dos agravos são divulgadas por meio de boletins epidemiológicos e painéis temáticos, disponibilizados no Portal da Vigilância em Saúde.
Saiba mais sobre a doença
A malária não é uma doença contagiosa, ou seja, uma pessoa doente não é capaz de transmitir a doença diretamente a outra pessoa. É necessária a participação de um vetor, que no caso é a fêmea do mosquito Anopheles (mosquito-prego), infectada por Plasmodium, um tipo de protozoário. Esses mosquitos são mais abundantes nos horários crepusculares, ao entardecer e ao amanhecer. Todavia, são encontrados picando durante todo o período noturno, porém em menor quantidade.
Ela tem cura e o tratamento é eficaz, simples e gratuito. Entretanto, a doença pode evoluir para suas formas graves se não for diagnosticada e tratada de forma oportuna e adequada. A exemplo disso, sem tratamento, a malária por P. falciparum pode progredir para doença grave, levando à morte em um período de poucos dias ou mesmo dentro de 24 horas dependendo da evolução da doença. Saiba mais sobre a doença no site do Ministério da Saúde.
Em 2021, o servidor Job Alves recebeu o primeiro lugar no Prêmio Inova, com o projeto de criar um auxílio diagnóstico remoto para a malária e com o ensaio de proficiência 3D. Saiba mais sobre o trabalho na matéria disponível no site da Funed.
Conheça mais sobre o trabalho da Funed na série sobre as Doenças Negligenciadas disponível no site da Funed.