Mulheres e homens negros são a maioria da população de Minas Gerais, na comparação com homens brancos e mulheres brancas. Entre os quase 21 milhões de mineiros, 57% são pretos ou pardos, enquanto 42,8% se autodeclaram brancos, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015, do IBGE.

Crédito: Marcus Ferreira

Entre o grupo de mulheres, 54% delas se autodeclaram pretas ou pardas, contra 45% de mulheres autodeclaradas brancas. Isso equivale dizer que, no Estado, cerca de 28% da população é composta de mulheres e negras.

Um dado importante que a pesquisa do IBGE aponta é que a série história, desde 2004, mostra redução da população branca e aumento das demais. Segundo o Instituto, esse percentual não tem relação com o aumento da taxa de natalidade entre os negros e pardos, e sim que a auto declaração, ou seja, o reconhecimento dos indivíduos enquanto pessoas negras têm aumentado.

Para discutir questões de saúde que envolvem esse grupo tão expressivo da população mineira, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) promoveu nesta sexta-feira (27) uma roda de conversa sobre o tema. O encontro reuniu gestores, técnicos e profissionais em sua maioria da Saúde e dos Direitos Humanos, e levantou questões importantes como racismo estrutural, discriminação nos serviços de saúde, como também a questão da representatividade e da solidão da mulher negra.

 Crédito: Marcus Ferreira

A diretora de Políticas de Promoção da Equidade em Saúde da SES-MG, Lorena Luiza Lemos, mulher negra, mediou o debate e lembrou os presentes sobre a amplitude do conceito de saúde, sobretudo quando se fala da saúde de mulheres negras. “Saúde tem que perpassar pelo conceito de integralidade, e isso vai dizer da nossa cultura, da nossa história e também das nossas relações; por isso o nosso debate, feito no coletivo, é tão importante”, disse.

Yone Maria Gonzaga, mulher negra, superintendente de Políticas Afirmativas e Articulação Institucional da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (SEDPAC), trouxe para o debate a potencialidade da presença de mulheres negras na gestão das políticas públicas que serão dirigidas a outras mulheres negras. “É muito importante que a gente reflita sobre a nossa representatividade, sobre a nossa forma de fazer a política pública de saúde de maneira humanizada, partindo do nosso olhar e das nossas experiências, mas pensando no que usuários e usuários esperam da saúde pública”.

Larissa Amorim Borges, mulher negra e subsecretária de Políticas para as Mulheres da SEDPAC, frisou a importância de um olhar mais amplo sobre o conceito e o entendimento em saúde. “Nós mulheres negras precisamos e temos direito ao cuidado, ao respeito, ao amor, ao descanso, sem culpa, sem medo. As políticas já estão desenhadas, o que a gente precisa é que elas aconteçam de fato. A saúde da mulher negra diz de uma saúde que se faz integral, que não se restrinja apenas ao bem estar físico, mas ao direito de bem viver, sem opressão; e nesse sentido, temos um grande desafio em mãos”, destaca Larissa.

Também presente no encontro, Valéria Regina Neves, mulher negra e trabalhadora da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), na assessoria da Direção de Gestão de Pessoas, narrou um pouco de sua experiência de vida e de sua trajetória enquanto militante do movimento negro e convidou à reflexão. “Aqui todos nós já sabemos o que está colocado no plano político; mas talvez o que a gente precise começar a fazer agora sejam avaliações, a partir de todo o arcabouço trazido pelos movimentos sociais, sobre essas questões políticas: onde elas alcançam, e aonde ainda não chegaram”, questiona Valéria.

Crédito: Marcus Ferreira

SUS com equidade e sem racismo

Dados do Ministério da Saúde demonstram que uma mulher negra recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. Enquanto 46,2% das mulheres brancas tiveram acompanhantes no parto, apenas 27% das negras utilizaram esse direito. As taxas de mortalidade materna e infantil na população negra são muito acima das registradas entre mulheres e crianças brancas. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde revelam que 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34% entre as brancas.

Esses dados apontam também como o racismo institucional coloca em risco a saúde de pessoas por causa da cor da sua pele, ao prejudicar a qualidade do acolhimento, do acompanhamento pré-natal, assim como o acesso à informação sobre cuidados em saúde.

O reconhecimento da influência do racismo na qualidade do cuidado é essencial para o seu combate nos espaços de saúde. Por meio do Disque Saúde 136, é possível denunciar qualquer situação de racismo ou obter informações sobre doenças mais comuns entre a população negra e que exigem um maior acompanhamento.

Por Pollyana Teixeira