A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) realizaram, nesta quinta-feira (01/06), o 1° Simpósio colaborativo: Morte Materna e Responsabilidade Social. Cerca de 200 pessoas participaram do evento, direcionado para os profissionais da saúde e referências das Regionais de Saúde envolvidos na assistência à saúde da mulher e na vigilância do óbito no Sistema Único de Saúde (SUS), além de graduandos nos cursos superiores de Enfermagem e Medicina e membros de Comitê Estadual de Prevenção à Mortalidade Materna, Infantil e Fetal.

O simpósio tem como objetivo pensar a saúde das mulheres na atualidade, refletindo sobre a representação social do óbito materno, bem como as estratégias institucionais para redução da mortalidade materna. O evento marca o Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, comemorados no último dia 28 de maio. Para conferir as fotos do simpósio na nossa galeria de imagens, clique aqui.

Crédito: Marcus Ferreira / SES-MG.

Para o Subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde, Rodrigo Fabiano do Carmo Said, o simpósio traz reflexões importantes sobre as ações que estão sendo realizadas para diminuir a atual taxa de mortalidade materna no estado.

“A morte materna é uma violação dos direitos humanos de mulheres e crianças e um grave problema de saúde pública. Com um impacto social extremamente negativo. A redução da mortalidade materna é ainda um desafio para os serviços de saúde e para a sociedade como um todo. Nesse sentido o trabalho dos comitês de morte materna é muito importante, porque regionaliza um estudo profundo sobre as causas, permitindo melhorar as ações preventivas. Além disso, ajuda o estado a compreender como as diferenças regionais afetam os índices de mortalidade”, explica.

Para a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marlise Matos, a mortalidade materna está relacionada a uma situação social de exclusão e opressão a qual as mulheres estão submetidas. Segundo a professora, embora nos últimos anos tenha ocorrido uma melhoria significativa na situação das mulheres, movida pelos movimentos de luta femininos, persistem, no entanto, enormes desigualdades, que constituem uma das principais marcas do Brasil.

“A maioria das mortes ocorrem entre mulheres pobres, negras e de pouca escolaridade. Inseridas em uma estrutura social profundamente patriarcal e opressora, que as submetem a violências físicas, à desnutrição, a pobreza, ao subemprego. As melhorias que percebemos nas taxas de mortalidade materna ocorrem principalmente entre as mulheres brancas e de classe média”, pondera.

Já o vice-presidente da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), Paulo Tarcísio, falou sobre o impacto da morte materna na sociedade e nas famílias: “Precisamos discutir sempre o impacto social e as estratégias para intervir e modificar essa realidade que afeta tão profundamente a sociedade brasileira. Essas mortes trazem marcas profundas e incuráveis para família e pra a sociedade”.

Segundo Francisco José Machado Viana, diretor da Maternidade da FHEMIG, 90% das mortes maternas são evitáveis: “Estas mortes são consequências de problemas na rede de atenção à mulher. Ainda temos maternidades que não seguem as normas sugeridas para o parto; serviços básicos que não atendem segundo o protocolo; atraso no referencialmente das gestantes; entre outros problemas”.

Regina Amélia Aguiar, Presidente do Comitê estadual de Prevenção à Mortalidade Materna, Infantil e Fetal do Estado de Minas Gerais, disse que o simpósio é um momento importante para os trabalhadores de saúde, porque permite trocar experiências e compartilhar informações: “nossa tarefa aqui hoje é enriquecer o trabalho de todos que estão envolvidos com a saúde materna”.

Crédito: Marcus Ferreira / SES-MG.

Para a técnica de enfermagem, Edilene Márcia Ferreira, o seminário permite pensar e estar mais atenta às adversidades cotidianas que aparecem no atendimento das grávidas. Trabalhando na maternidade do hospital Júlia Kubistchek, ela afirma que o cuidado é muito importante para garantir um tratamento adequado e um parto seguro. “O profissional deve estar atento às queixas e ao modo de tratamento à mulher. A atenção e o cuidado é um passo importante para a saúde das futuras mamães”.

Maria Esther Vilela, representante do Ministério da Saúde, disse que o problema da mortalidade materna deve ser enfrentado com estratégias que melhorem o contato das mulheres com as unidades de saúde e fortalecem a autonomia feminina. “As estratégias que devem ser adotadas são: fortalecer o planejamento reprodutivo das mulheres; qualificar o pré-natal; formação de enfermeiro obstétrico; atenção humanizada ao abortamento e distribuição de contraceptivos como o DIU”, enumera.

Mortalidade materna em Minas

Em 2016, foram apurados 92 óbitos maternos em Minas Gerais, o que representa cerca de 38 óbitos por 100 mil nascidos vivos. Desse modo, a meta do milênio ainda não foi alcançada pelo Estado. Pela análise dos dados de mortalidade materna do ano de 2014 (último ano com informações oficiais do Sistema de Nascidos Vivos), as cinco maiores causas da mortalidade materna no estado foram: hemorragia obstétrica; hipertensão na gravidez; aborto; embolia obstétrica; infecção puerperal. Essas causas podem estar relacionadas aos vazios assistenciais no pré-natal e/ou parto e/ou puerpério; altas taxas de cesarianas e a aspectos sociais interferentes no cuidado. 

Por Juliana Gutierrez