Numa iniciativa da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), a Regional de Saúde de Montes Claros iniciou, nesta terça-feira (29/11), a implantação do Projeto Zero Morte Materna por Hemorragia Pós-Parto.

​O Projeto visa, entre outros objetivos, qualificar médicos e enfermeiros obstetras que atuam em hospitais, serviços de atenção básica e os que atendem mulheres que vivem em áreas remotas nas regiões de saúde, bem como formar multiplicadores no manejo da hemorragia pós-parto. Problema que representa principal causa da morte de gestantes no Brasil, e a escolha do Norte de Minas, como região pioneira na implantação do projeto, leva em conta o mapeamento da rede de assistência existente e as causas raízes das mortes maternas por hemorragias.

Crédito: Pedro Ricardo.

As oficinas de implantação estão sendo realizadas no auditório do Hospital Universitário Clemente de Faria, em Montes Claros, envolvendo a participação de profissionais de saúde atuantes em hospitais sediados em vários municípios do Norte de Minas. Durante a abertura, a superintendente Regional de Saúde de Montes Claros, Patrícia Aparecida Afonso Guimarães Mendes, destacou que a escolha do Norte de Minas como região pioneira na implantação do Projeto vem de encontro com uma série de ações que a SES-MG está implementando visando dotar as microrregiões de saúde de melhor infraestrutura para atendimento das demandas da população. 

“Além da melhoria e ampliação dos serviços de saúde nas microrregiões do Norte de Minas, o investimento na capacitação de profissionais tem se constituído numa ação permanente da Regional de Saúde. Nesse contexto o Projeto Zero Morte Materna por Hemorragia Pós-Parto possibilita ampliarmos as ações que já estão em curso”, ressaltou.

No caso da atenção às gestantes e recém-nascidos, recentemente hospital do município de Porteirinha passou a atender gestantes de risco habitual, o que possibilita ao município vizinho de Janaúba se concentrar no atendimento de gestantes de alto risco. Já em Taiobeiras está prestes a entrar em funcionamento uma UTI neonatal, serviço este que já foi implantado em Pirapora. Por outro lado, dependendo apenas de decisão judicial, brevemente outra UTI neonatal deverá ser instalada em Brasília de Minas.

A implementação possibilitará a médicos e enfermeiros obstetras, atuantes em 53 municípios que compõem a área de atuação da Regional de Saúde de Montes Claros, a utilização de trajes anti-choque não-pneumático que o Ministério da Saúde importou e está distribuindo nos estados participantes das oficinas de capacitação. Trata-se de nova tecnologia de estabilização de mulheres em condições hemorrágicas e hemodinamicamente instáveis (choque hemorrágico) em áreas de difícil acesso. Essa tecnologia já vem sendo utilizada em vários países da América e da África e tem demonstrado eficácia no tratamento de hemorragias pós-parto ou pós-abortamento, principalmente em locais onde não há disponibilidade imediata de hemoterapia.

Protagonista

Por sua vez a técnica do Ministério da Saúde, Terezinha Moreira observou que Montes Claros sempre desempenhou papel de protagonista na área da saúde e o Projeto Zero Morte Materna por Hemorragia Pós-Parto além de confirmar essa situação vai possibilitar aos profissionais de saúde avaliar, junto com as instituições governamentais, os motivos pelos quais o problema se constitui na principal causa de morte de mulheres em todo o país. Na opinião da técnica, o Projeto vai “possibilitar a complementação e o fortalecimento de boas iniciativas voltadas para a saúde da gestante e de recém-nascidos, como é o caso da Rede Cegonha que já está sendo implementada em Minas Gerais”.

Por sua vez a médica, Regina Amélia Aguiar, integrante do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal observou que o sucesso da implementação do Projeto ficará sob a responsabilidade dos profissionais que atuam diretamente nos serviços de saúde. “A hemorragia pós-parto é a principal causa de morte materna no Estado e a reversão dessa situação cabe a todos os profissionais que atuam na área da saúde”, salientou a médica.

Na mesma linha de raciocínio a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Juliana Silva Barra destacou que “já passou da hora das instituições de ensino superior compartilhar conhecimentos com a sociedade, com vistas à redução da mortalidade materna no país”. Nesse contexto, a professora entende que a UFMG juntamente com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) tem uma contribuição muito importante a dar à sociedade, saindo do contexto acadêmico e atuando diretamente nas causas que contribuem para a ocorrência de altos índices de mortalidade materna no Estado.

Meta

A redução da mortalidade materna é prioridade do Ministério da Saúde. Apesar dos avanços alcançados nos últimos vinte anos com a redução de óbitos em 43%, o Brasil não conseguiu atingir a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de reduzir em 75% a taxa de mortalidade materna até 2015.

De acordo com a OPAS/OMS, além das complicações devido a abortos, as principais causas da morte materna são hemorragia, hipertensão e infecções. No Brasil, a hemorragia se configura como a segunda causa de morte materna, sendo que, em alguns estados e capitais, ela se apresenta como a primeira causa de morte de gestantes, representando 12% de todos os óbitos registrados de acordo com dados divulgados em 2013 pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

A referência técnica em saúde da mulher da Regional de Saúde de Montes Claros, Ludmila Gonçalves Barbosa destaca a importância da inserção do Norte de Minas como prioridade na implementação do Projeto Zero Morte Materna por Hemorragia Pós-Parto, considerando que a região foi pioneira nos investimentos para qualificação da assistência ao pré-natal e parto advindos com a implantação da Rede Cegonha, mas ainda não conseguiu diminuir a taxa de mortalidade materna conforme a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Por Pedro Ricardo