Iniciativa pioneira no país, resultado da parceria entre a Fhemig e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o Protocolo Sentinela de Investigação de Casos de Hanseníase Notificados em Áreas de Ex-Colônias, foi o destaque da cerimônia dos 70 anos de fundação da CSPD, comemorados na última terça-feira (15) em Ubá.

O protocolo (criado a partir do esforço conjunto da Presidência da Fhemig, através do Grupo de Apoio e Assessoramento à Gestão das Casas de Saúde, da Diretoria Assistencial – DIRASS – da Fundação e da SES-MG, através do Departamento de Dermatologia Sanitária e da Coordenação de Doenças Crônicas não Transmissíveis) é uma norma técnica a ser executada pelos médicos, enfermeiros e profissionais da reabilitação na realização de exames dermatoneurológicos e laboratoriais para diagnóstico, acompanhamento e tratamento de casos de hanseníase.

Crédito: Juliana Cota

De acordo com o assessor da DIRASS, Tiago Possas, o protocolo foi posto em prática neste mês de dezembro e vai atender à necessidade de vigilância, atenção e controle epidemiológico da hanseníase nas áreas das ex-colônias e municípios da microrregião que referenciam seus pacientes aos serviços de referência em hanseníase das Casas de Saúde. “O protocolo trará o benefício do cuidado em saúde na área da hanseníase, promovendo a prevenção, o diagnóstico precoce, o tratamento correto e o seu acompanhamento às pessoas que dele necessitarem”, resume Tiago Possas.

Investigação organizada e sistemática

O presidente da Fhemig, Jorge Nahas, sublinhou que esta é a primeira vez que o protocolo da hanseníase é posto em prática na instituição. “Nós vamos fazer uma investigação organizada, sistemática, de acordo com as portarias e determinações do Ministério da Saúde, em todos os povoados das Colônias. Isso é uma atividade importante que tem sido negligenciada nos últimos anos. É um esforço conjunto de todos nós”.

O presidente argumentou que a Fhemig é uma instituição grande e que as quatro Casas de Saúde (Padre Damião, Santa Fé, Santa Izabel e São Francisco de Assis) estão inseridas num universo de 12 mil servidores e 20 Unidades Assistenciais. “Desde o princípio, decidimos enfrentar muitas questões das colônias que tinham ficado, de alguma maneira, como se fossem um problema tão diferente, tão difícil, que ninguém queria enfrentar porque iria ter dificuldades. A gente decidiu juntar as forças, colocar todo mundo no mesmo barco, todo mundo conversando, o Morhan, a Fhemig, a Secretaria de Estado, os companheiros todos da instituição, todo mundo que tenha acuro a esse respeito, colocar junto e enfrentar os problemas de uma forma organizada e total”, enfatizou o presidente.

Nahas completou sua fala homenageando a instituição. “Parabéns à Colônia. 70 anos maravilhosos. Eu espero que a gente continue mudando, não sei por quantos anos, mas que a Colônia continue avançando. Uma instituição moderna. É isso que nós queremos”, finalizou.

Preconceito

A comemoração contou com a presença da multiartista Elke Maravilha apoiadora do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). Voluntária do Morhan há mais de duas décadas, Elke reafirmou a premissa de que a hanseníase tem cura e de que deve ser detectada o mais rápido possível. A multiartista salientou que a doença não deve ser tratada como um tabu. Segundo ela, “o preconceito muitas vezes é o que dificulta o esclarecimento da doença. Os ricos, por exemplo, quando contraem a doença dizem que estão com dermatose, já os pobres dizem que estão com lepra, mas não há diferença, a doença é a mesma para todos. Nós não podemos ter preconceito”, afirmou.

A solenidade teve ainda a participação do prefeito de Ubá, Edvaldo Baião, do diretor de Vigilância de Doenças Crônicas e de Agravos não Transmissíveis da SES-MG, Kleber Rangel, da diretora da CSPD, Mônica Vallone, e do coordenador do Núcleo do Morhan em Ubá, Ivair Ambrósio, dentre outras autoridades, além de profissionais e pacientes da CSPD, e moradores do município.
Semana de ações

Entre os dias 14 e 17 de dezembro, a população local pode contar com tendas distribuídas em pontos estratégicos da cidade com o objetivo de realizar exames, diagnósticos e esclarecer dúvidas dos moradores. No dia do aniversário da Casa de Saúde também foi inaugurada a quadra poliesportiva da escola municipal que leva o nome do médico Heitor Peixoto Toledo que atuou no hospital por mais de 30 anos.

Nova realidade

O ano de 2015 simboliza uma nova realidade para os portadores de hanseníase atendidos pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), devido à criação do Grupo Especial de Apoio e Assessoramento à Gestão das Casas de Saúde. Essa é a primeira vez que a Fhemig institui um grupo exclusivo para definir diretrizes de ação com o objetivo de desenvolver terapia individualizada, novas modalidades de atenção e acolhimento mais moderno.

Ranking mundial

O coordenador do Núcleo do Morhan em Ubá, Ivair Ambrósio, lembrou que o país convive com novos casos da doença todos os anos. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de incidência da doença, atrás apenas da Índia. “Isso para o Brasil é uma vergonha mundial, num país que já era para ter erradicado esse mal”, ponderou.

Reconhecimento

Em sua fala, a diretora da CSPD, Mônica Vallone, fez uma retrospectiva da história da Casa de Saúde, ao citar todos os profissionais que assumiram a missão de dirigir a instituição ao longo das últimas sete décadas. Vallone destacou também o nome da médica Vânia Lúcia Soares Jacob, primeira mulher a ocupar a função de diretora do hospital e do médico Heitor Peixoto Toledo. “O Dr. Heitor e a Colônia Padre Damião se confundem. É difícil falar o que é a colônia Padre Damião e que é o Dr. Heitor. A gente viveu, vive e viverá pensando no Dr. Heitor porque ele dedicou a vida dele a essa colônia”, concluiu.

Saúde Pública

O diretor de Vigilância de Doenças Crônicas e de Agravos não Transmissíveis da SES, Kleber Rangel, destacou os desafios que o campo da saúde pública enfrenta. “Todos nós temos um desafio diário que é construir um sistema de saúde universal e de qualidade, equitativo para todos os 200 milhões de brasileiros”. Kleber Rangel disse ainda que os 70 anos da Casa de Saúde sublinham a história de luta e de resistência da instituição.

Diferentes

O prefeito de Ubá, Edvaldo Baião, assegurou que a Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo prima pela qualidade do ensino. “Essa escola, para homenagear o Dr. Heitor tinha que ser uma escola de qualidade, tinha que ser uma escola diferente, como foi diferente o Dr. Heitor durante toda a sua vida”, sublinhou.

História

Inaugurada em 15 de dezembro de 1945 pelo Governo de Minas Gerais, a Casa de Saúde Padre Damião nasceu com a missão de prestar assistência aos hansenianos em regime de segregação social, de acordo com as diretrizes da época. Recebeu inicialmente o nome de Leprosário Padre Damião, em homenagem ao belga Joseph de Veuster, nome de batismo do Padre Damião, mundialmente conhecido como o apóstolo dos leprosos. A CSPD era vinculada à Fundação Estadual de Assistência Leprocomanial (FEAL) e passou para a integrar a Fhemig em 1977, ano da criação da Fundação.

Heitor Peixoto Toledo

Em um tempo em que os doentes eram internados à força, em regime de isolamento, a atuação humanista do Dr. Heitor (como o médico era mais conhecido) provocou várias modificações na assistência e no relacionamento com os doentes hansenianos. Contrariando a comunidade científica da época, o médico questionou as informações predominantes sobre contágio da doença, contribuindo para romper com o drama da separação de pais e filhos, que eram levados para educandários distantes logo após o nascimento.

Pedagogia Waldorf

A Escola Municipal Dr. Heitor Peixoto Toledo é única escola pública em Minas Gerais a adotar a Pedagogia Waldorf, método de ensino que se baseia nas conferências realizadas pelo filósofo alemão Rudolf Steiner no início do século XX, e que trabalha o desenvolvimento da criança aliando os aspectos físicos, sociais e individuais, com a divisão dos alunos em faixas etárias e não em séries.

 

Por Alexandra Marques, FHEMIG