Em 1988, o Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Fhemig, iniciava sua trajetória de combate à AIDS, o que o tornaria referência estadual para o tratamento da enfermidade. Naquele ano, o HEM recebeu o primeiro paciente portador de HIV do Estado.

Crédito: Alexandra Marques

“Profissionais do Hospital Eduardo de Menezes criaram uma das primeiras enfermarias do Estado para tratamento de pacientes infectados pelo vírus”, lembra o médico infectologista Marcelo Oliveira. Inicialmente, havia 14 leitos destinados aos pacientes soropositivos. “Ainda hoje, o hospital é o que oferece mais vagas para internação pelo SUS em Minas Gerais”, afirma.

Marcelo Oliveira conta ainda que o HEM foi também precursor na montagem do atendimento dia (hospital-dia). Pacientes com HIV que necessitam receber medicações injetáveis, transfusões de sangue e outros tratamentos que exigem uma estrutura mais complexa utilizam o serviço, sem necessidade de internação. 

Atualmente a instituição responde pelo atendimento de quase um terço (26%) dos casos em Minas Gerais. A assistência abrange atenção ambulatorial e domiciliar (realizada por equipe multidisciplinar), internação e hospital-dia, de modo a oferecer todos os níveis de atenção ao paciente com HIV/AIDS, inclusive com CTI especializado. São 84 leitos de enfermaria, dez de CTI e oito de hospital-dia. Em média, são realizadas 600 consultas e 70 internações por mês na unidade.

Perdas e ganhos

De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), desde o início da epidemia até o ano passado, A AIDS já tirou 39 milhões de vidas no mundo. Em contrapartida, mais de 12 milhões (12,9 milhões) de homens, mulheres e crianças, faziam tratamento com antirretroviral, no final de 2013, em todos os países.  Para este ano (2015), estima-se que esse contingente passe para 15 milhões de pessoas.

Apenas em território nacional, da década de 1980 até a metade do ano passado, mais de 757 mil pessoas tornaram-se portadoras do vírus HIV, com uma taxa média de detecção de 20,5 casos para cada 100 mil habitantes, registrada na última década.

Prevalência entre jovens

Ainda segundo informações do UNAIDS, foi verificado um crescimento de 11%, entre 2005 e 2013, do número de pessoas infectadas com o vírus HIV no país. Outro aspecto que chama a atenção da entidade é o crescimento dos casos entre os jovens brasileiros. Os dados revelam que, no mesmo período, a epidemia aumentou mais de 50% na faixa etária dos 15 aos 19 anos. Para completar esse cenário, o Brasil foi responsável por 47% dos novos casos registrados na América Latina.

O infectologista do HEM destaca que os casos de infecção pelo HIV aumentaram principalmente entre os jovens homossexuais. Segundo Marcelo Oliveira, isso se deve à “sensação de invulnerabilidade, falta de informação, falhas na comunicação com este grupo, uso de drogas, discriminação dos homossexuais e não uso de preservativo”, completa. Ele ressalta, ainda, que a maioria dos pacientes atendidos pelo hospital são homens e jovens (entre 20 e 40 anos).

Em todas as situações de crescimento da epidemia em território brasileiro, os homens ainda são os mais afetados pelo vírus, embora a diferença em relação às mulheres tenha caído. No final da década de 80 (1989), havia seis homens para cada mulher infectada. Em 2011, essa relação reduziu-se para 1,7 casos.

Desconhecimento

A taxa de mortalidade experimentou uma redução de 13% no período entre os anos de 2000 e 2013, conforme estatísticas do Ministério da Saúde. No entanto, as estimativas para o número de pessoas que ignoram sua condição de soropositivas apontam para um universo de 150 mil indivíduos. 

Protagonismo

Há dois anos, ao adotar o tratamento contra a AIDS para todos os pacientes portadores do vírus HIV, independente do estágio de desenvolvimento da doença, o HEM antecipou o protocolo que, à época, estava sob consulta pública e tornou-se, no final daquele ano, regra do protocolo clínico e das diretrizes terapêuticas adotadas pelo Ministério da Saúde.

Com o novo procedimento, verificou-se entre os pacientes atendidos pelo HEM a efetiva redução dos níveis de transmissão e também a menor incidência das infecções oportunistas. A resposta à nova abordagem experimentada pelo HEM e pelos demais hospitais do Brasil e do mundo foi confirmada por pesquisas desenvolvidas por centros internacionais que demonstram que o uso precoce dos medicamentos antirretrovirais reduz em, aproximadamente, 96%, a transmissão do vírus.

Por Alexandra Marques