Realizadas em todo o mundo, as ações da Campanha de Promoção à Saúde do Homem têm o objetivo de estimular o diagnóstico de casos de câncer de próstata logo no início, quando as chances de cura ultrapassam os 90%. Segundo estatísticas do Hospital Alberto Cavalcanti (Fhemig), referência estadual para o tratamento do câncer, até o final do mês de outubro deste ano, 76 novos pacientes iniciaram tratamento do tumor de próstata na Unidade e 33 foram submetidos à cirurgia para retirada do órgão. No ano passado, foram 107 novas admissões. Em âmbito nacional, os números impressionam. Somente em 2014, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 69 mil novos casos foram registrados, com uma média de sete novos casos a cada hora.

Em 2013, mais de 13 mil homens morreram em razão da doença, o que representa quase um quinto do total de novos casos registrados em 2014 no Brasil.Para se ter uma ideia da gravidade da questão, se comparado às ocorrências do câncer de mama, o de próstata supera em 12 mil o número de novos casos daquele tumor, que deve atingir mais de 57 mil pessoas em 2015 (a maioria mulheres).

Aumento dos diagnósticos

Ao contrário do que as estatísticas sugerem, os números não indicam necessariamente um aumento das taxas de incidência, e sim o aumento do número de diagnósticos, resultado, dentre outras causas, do aumento da conscientização dos homens em relação à importância dos exames, principalmente no que diz respeito ao exame de toque.

“A cada ano, o comportamento do homem experimenta uma mudança. Está havendo uma quebra de paradigmas em relação à masculinidade”, constata o médico urologista e gerente Assistencial do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), Adriano Pivoto. Opinião compartilhada pelo urologista do Serviço de Urologia do HAC, Ricardo Nishimoto, “o tabu em relação ao (exame de) toque vem diminuindo. Ele está sendo desmistificado. Os homens estão mais conscientes”, pondera.

Se esse novo cenário deve ser creditado ao sucesso das campanhas de conscientização, ele também deve muito ao papel das mulheres como grandes incentivadoras dos homens quanto à importância dos exames preventivos, haja vista que o diagnóstico precoce é essencial para cura. Muitas vezes, a parceira (seja a esposa ou a companheira e até mesmo uma amiga ou filha) é que marca a consulta para o homem.

Parceria feminina

Nishimoto conta que nos consultórios é perceptível o papel das mulheres como incentivadoras da atitude preventiva. Elas não somente marcam a consulta, como cobram o comparecimento dos homens e os apoiam no momento dos exames. No entanto, ainda há muito que ser feito, é o que revela o estudo realizado este ano pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) que constatou que 51% dos homens nunca consultaram um urologista. Diante disso, o especialista ressalta a importância dos homens fazerem os exames acima dos 50 anos, se não houver histórico familiar, e a partir dos 45, se houver casos da doença na família.

Dupla eficaz

A análise dos níveis de PSA, feita por meio de exame de sangue, associada ao exame de toque retal, é a forma mais eficaz para a detecção da doença. Se houver qualquer alteração evidenciada pelo PSA e/ou toque, parte-se para a biopsia. Como 70% dos tumores ficam situados na periferia (borda) da próstata o exame de toque retal é muito eficiente para constatar alterações na região. Mas, isoladamente, o exame de PSA não é capaz de determinar se o indivíduo está doente. Isso porque o nível da proteína também cresce em decorrência de algumas infecções ou do crescimento benigno da próstata.

Portanto, somente a associação dosdois exames é capaz de apurar possíveis alterações indicadoras da existência do tumor maligno. A presença de sintomas, geralmente, é um indício de que o tumor está num estágio avançado. “Quando a doença é localizada, as chances de cura são de 80% a 90%. A maioria dos pacientes do HAC tem chegado com a doença em estágio inicial”, ressalta o médico. Vale lembrar que, no início, a doença é assintomática.

Expectativa de vida

Por outro lado, os pacientes de médio e alto risco se beneficiam muito com os tratamentos, com ganho de expectativa de vida. “O tumor de próstata tem um comportamento clínico variável, há tumores que são de crescimento indolente, enquanto outros são bastante agressivos. Os urologistas usam ferramentas na tentativa de classificar os tumores em baixo, médio e alto risco de progressão da doença para individualizar o melhor tratamento para cada caso”, afirma Adriano Pivoto.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata são a idade (quanto mais velho o homem, maiores são as chances de se desenvolver a doença), a etnia (os negros têm maior predisposição), fatores dietéticos, tabagismo, hábitos de vida e genética. Quem possui parente de primeiro grau com histórico de câncer de próstata tem quatro vezes mais chances de desenvolver a doença. Além disso, a precocidade da sua manifestação, na história familiar, aumenta as chances de o indivíduo vir a desenvolver o tumor.

Câncer de pênis, pouco conhecido e perigoso

De acordo com o Departamento de Informática do SUS (Data/SUS), todos os anos, são realizadas cerca de mil amputações de pênis no país. A doença está diretamente relacionada às baixas condições socioeconômicas e de informação e à higiene íntima inadequada. Em regiões com menor índice de desenvolvimento humano (IDH), ele é mais prevalente e pode chegar a 10% dos tumores que acometem os homens residentes nessas localidades do país.

Dependendo da extensão da área atingida, o tratamento do câncer de pênis é mutilante, pois implica na amputação do membro, o que provoca grande repercussão psicológica para o homem, com abalo de sua autoestima. Às vezes, também é necessário o esvaziamento dos gânglios da coxa que é o principal local de metástase.

A doença se manifesta como uma ferida, verruga ou caroço. Qualquer lesão que não cicatriza deve ser investigada por meio de uma consulta ao urologista, tendo em vista que, na fase inicial, as chances de cura são grandes.

Água e sabão

A tendência é o paciente ignorar a lesão. Essa atitude faz com que a doença evolua e produza mau cheiro, o que provoca a baixa exposição social do homem acometido, gerando um círculo vicioso. “A prevenção é barata, basta água e sabão, caro é o tratamento”, pondera o médico Ricardo Nishimoto.

Como os demais tipos de câncer, o tratamento do tumor de pênis requer uma abordagem multidisciplinar, de modo a atender a todas as necessidades de assistência do paciente, como, por exemplo, a atenção psicológica.

Por Fhemig