O Transtorno do Espectro do Autismo afeta o desenvolvimento neurológico, comprometendo a comunicação, o comportamento e a interação social 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo. Já no Brasil, a estimativa é de que 2 milhões de pessoas possuam algum grau do transtorno. Com níveis de comprometimento classificados em graus leve, moderado ou severo, a síndrome pode atingir uma a cada 50 crianças, sendo sua prevalência maior em meninos, na proporção de 3 homens para 1 mulher. Diante desse cenário e em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) aborda o tema.

Crédito: Ana FTG

Denominado como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o distúrbio afeta o desenvolvimento neurológico, caracterizando prejuízos na comunicação, na interação social e no comportamento. Segundo a psicóloga e referência técnica em Autismo da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Cristina Guzmán Siácara, quanto antes for realizado o diagnóstico, maior é a possibilidade dos processos de intervenções garantirem um melhor resultado. “É preciso estar atento aos sinais precoces. Para avaliação clínica da criança, três aspectos devem ser observados. Primeiro, o atraso no desenvolvimento da comunicação e linguagem. Em seguida, observar se existem padrões específicos de comportamento, como estereotipias e áreas restritas de interesse, como o interesse por um objeto específico. Por último e mais importante, o prejuízo em situações sociais, no contato com o outro. O olhar da criança para os pais, a forma de se comunicar com as pessoas e o jeito de brincar são importantes aspectos que podem ser observados no dia-a-dia, podendo dar algumas pistas sobre um desenvolvimento saudável. Nesse sentido, é fundamental a participação da família e da escola no processo diagnóstico”, explicou.

Para Siácara, esses prejuízos podem estar presentes desde o nascimento ou no começo da infância, por isso é fundamental a detecção e intervenção precoce dos problemas de desenvolvimento em bebês, pois podem estar futuramente associados ao TEA. “Não há uma causa específica para o transtorno, mas alguns estudos sugerem que fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais possam estar associados ao Autismo. No espectro, os graus de gravidade variam desde pessoas que apresentam um quadro leve, com total independência e pequenas dificuldades de adaptação, até aquelas pessoas que apresentam um quadro grave com grande dependência para as atividades diárias, ao longo de toda a vida. Uma das razões para essa grande variação da apresentação clínica do Autismo é a presença de comorbi­dades como exemplo a Síndrome do X Frágil (origem genética) e a deficiência intelectual (origem multifatorial)”, disse.

Tratamento

O tratamento do autismo é multiprofissional e pode haver ou não o uso de medicamentos, conforme os sintomas apresentados por cada pessoa. Envolve a terapia psicológica, psicoeducacional, fonoaudiológica, terapia ocupacional, psicomotricidade e orientação familiar. Alguns casos ainda podem se beneficiar de outras terapias como a equoterapia, musicoterapia e também de um planejamento nutricional específico. Ressalta-se que para cada paciente a equipe deve elaborar um Projeto Terapêutico Individualizado (PTI) possibilitando que cada paciente receba um tratamento mais adequado.

Em Minas, além dos serviços existentes na Rede de Atenção Psicossocial, existem 142 serviços de reabilitação intelectual da Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência que oferecem tratamento às pessoas com TEA no âmbito do SUS/MG. Destes, 130 são Serviços Especializados em Reabilitação da Deficiência Intelectual (SERDI) e 12 Centros Especializados em Reabilitação (CER).

Níveis de Autismo

A Escala de Avaliação do TEA na Infância - Childhood Autism Rating Scale (CARS) aborda 15 itens que auxiliam o diagnóstico e identificação de crianças com autismo e diferencia o grau de comprometimento do Transtorno. Entre os quesitos avaliados estão: interação com as pessoas; imitação; resposta emocional; uso do corpo; uso de objetos; adaptação à mudança; reação a estímulos visuais e auditivos; a resposta e uso da gustação, olfato e tato; medo ou nervosismo; comunicação verbal e não verbal; nível de atividade; o nível e a coerência da resposta intelectual e, finalmente, as impressões gerais.

Diagnóstico

O diagnóstico do autismo é clínico, sendo realizado através de observação direta do comportamento da criança e de entrevista com os pais ou responsáveis. Segundo a Referência Técnica, Cristina Siácara, os sintomas podem estar presentes antes dos 3 anos de idade. “É importante que se faça um diagnóstico diferencial, identificando a presença de quadros associados e patologias, para que sejam feitas intervenções apropriadas a cada caso. A abordagem multiprofissional e o uso de escalas e instrumentos de triagem e avaliação padronizados são de grande valia nesse processo, possibilitando assim uma maior segurança no estabelecimento do diagnóstico”, explicou.

Programa de Intervenção Precoce Avançado

Com o objetivo de dar uma diretriz às políticas demandadas a esse público, a SES/MG instituiu em 2013 a Comissão Técnica para implementação de política pública estadual de saúde para a população com TEA no âmbito do SUS/MG. As principais funções dessa comissão são propor diretrizes para implantação de serviços de saúde, organizar e criar fluxos entre os variados pontos de atenção à saúde.

“Sabemos que é importante avançarmos na ampliação dos serviços que atendem esse público, assim como investir em capacitações que possibilitem maior qualificação dos profissionais envolvidos no tratamento da pessoa com TEA. Além disso, é importante avançar também na criação de dados mais específicos referentes à população de Minas Gerais e na construção de uma Linha de Cuidado que direcione melhor o fluxo de tratamento no SUS, considerando a esfera da atenção primária, atenção especializada e atenção terciária”, finalizou.

Também em 2013 foi criado o Programa de Intervenção Precoce Avançado (PIPA), concebido diante da necessidade de se planejar e priorizar o foco da assistência à saúde no acompanhamento dos neonatos de risco e na intervenção precoce, visando à prevenção de deficiências, ao diagnóstico e ao tratamento precoce. Ao identificar sinais iniciais de problemas de desenvolvimento na criança será possível a instauração imediata de intervenções extremamente importantes, uma vez que os resultados positivos em resposta a terapias são mais significativos quanto mais precocemente instituídos.

Por Miria César