O câncer do colo do útero é considerado o terceiro mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e colorretal. Estimativas da Organização Mundial de Saúde apontam que 290 milhões de mulheres no mundo sejam portadoras da doença e que, todos os anos, 270 mil morrem devido a esse tipo de câncer.
Responsável pela morte de quase 14 mulheres no Brasil todos os dias, o câncer do colo do útero é causado por uma infecção persistente na parte inferior do útero, em decorrência da contaminação pelo vírus HPV. Na maioria dos casos a infecção é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição ao vírus, mas o acompanhamento médico e tratamento adequado são fundamentais para a prevenção do câncer. Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas é possível prevenir a doença em 100% dos casos.
A boa notícia é que desde o ano passado o combate ao câncer ganhou uma importante aliada, a vacina contra o vírus HPV disponível em todos os postos de saúde para meninas com idade entre 9 a 11 anos. A campanha de vacinação pode representar a primeira geração de mulheres livres do câncer do colo do útero, já que vai combinar a proteção da vacina com a do exame preventivo Papanicolau.
Segundo a referência técnica e enfermeira do Programa Estadual de Controle do Câncer do Colo do Útero e Mama, Leila Itaborahy, a vacinação e o exame preventivo vão se complementar como ações de prevenção do câncer. “Mesmo as meninas vacinadas, quando atingirem a faixa etária adequada e já tiverem vida sexual ativa, deverão fazer o exame preventivo periodicamente. Isso porque a vacina, mesmo sendo eficaz, não protege contra todos os tipos de HPV que causam o câncer”, afirma.
As alterações celulares causadas pelo HPV são facilmente descobertas através do exame preventivo, o Papanicolau. Em 2014, foram realizados em Minas 931.228 exames em mulheres na faixa etária de rastreamento, de 25 a 64 anos (dados parciais). Para ter acesso ao exame, basta procurar a unidade básica de saúde mais próxima.
Infecção pelo HPV
A infecção pelo vírus HPV é considerada comum. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos do vírus em algum momento da vida e essa porcentagem pode ser ainda maior em homens. Estima-se que entre 25% e 50% da população feminina e 50% da população masculina em todo o mundo esteja infectada pelo HPV. Por ser sexualmente transmissível, uma das principais formas de prevenção é o uso de camisinha em todas as relações sexuais.
Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, mas a maioria das infecções é considerada assintomática e transitória. Isso significa que tanto homens quanto mulheres podem estar infectados pelo vírus e não desenvolver nenhum tipo de sintoma. Os tipos 16 e 18 do vírus são considerados de maior risco para desenvolvimento do câncer, uma vez que estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero. Já os tipos 6 e 11, por exemplo, são responsáveis pelo aparecimento de verrugas genitais.
A vacina contra o HPV é utilizada para a proteção contra as infecções causadas pelo vírus e que também estão relacionadas a vários tipos de câncer, entre eles o do colo do útero, boca e garganta. A vacina é altamente eficaz na prevenção de infecções pelos subtipos 16 e 18 (os mais graves) e pelos subtipos 6 e 11 (responsáveis pelas verrugas genitais). Para garantir 100% de proteção, cada adolescente precisa tomar as três doses da vacina, sendo a segunda seis meses depois da primeira e a terceira e última etapa, cinco anos após a primeira. Na vida adulta, a vacina contra o vírus não dispensa o uso da camisinha, já que diversas outras doenças também são transmitidas por via sexual. Além disso, a vacina não protege contra todos os tipos do vírus.
A coordenadora de Imunização da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Tânia Brant, lembra que a vacina é altamente segura e eficaz e que a maior parte dos eventos adversos relacionados a ela ocorrem por fatores psicológicos. “Assim como qualquer outra vacina, a que protege contra o HPV possui alguns efeitos colaterais considerados normais. Os principais são dor no local de aplicação, dor no corpo e indisponibilidade. Casos de meninas que se sentem mal a ponto de desmaiar estão relacionados a fatores psicológicos causados pelo medo. Também é importante ressaltar que não há nenhuma relação entre a vacina e aumento da libido”, afirma.
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