Aos 16 anos de idade, Rafael (nome fictício) tem uma vida sexual ativa. Sua primeira relação aconteceu aos 13. No entanto, seu conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST) é mais recente. Aprendeu sobre essas enfermidades há cerca de 4 meses, em uma palestra realizada pela empresa onde trabalha. Diagnosticado com HPV (papilomavírus humano) em dezembro do ano passado, o jovem passou por momentos de muita angústia enquanto aguardava o resultado dos exames. O temor de um diagnóstico positivo para o HIV fez o rapaz rever seus hábitos e, hoje, sexo sem proteção não faz mais parte de sua vida. “Eu tinha vergonha de perguntar pro meu irmão mais velho e os meus pais só diziam para eu usar camisinha, mas nunca conversavam comigo sobre essas doenças. Peguei de uma menina com quem fiquei um dia e nunca mais vi. Agora, eu digo para todos os meus amigos usarem camisinha”, conta.

Rafael está em tratamento no Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig (referência estadual para o tratamento de doenças infectocontagiosas). Seu histórico de exposição ao risco é comum a uma extensa parcela de jovens brasileiros com idade entre 15 e 24 anos. Não por coincidência, os casos de aids cresceram 40% nesse grupo etário nos últimos oito anos (de 2006 até agora), conforme revela recente pesquisa do Ministério da Saúde (MS). Somente em Minas Gerais, segundo dados do SINAM/MG, quase a metade (48%) dos novos doentes de aids no Estado têm idade entre 15 anos e 34 anos.

Foco nos jovens

Para fazer frente a essa realidade, durante o carnaval deste ano, o foco das ações será esse grupo de jovens. Intituladas #PARTIUTESTE e “A pegada do Carnaval é usar camisinha”, as campanhas federal e estadual, respectivamente, buscam reforçar a prevenção das DST e aids especialmente nos dias de folia. Ao longo do feriado, serão distribuídas em Minas Gerais (na capital e nas 28 regionais de saúde do Estado) mais de cinco milhões de camisinhas e material informativo.

Assim como quase toda a população brasileira sexualmente ativa (94%), Rafael sabe que a camisinha é a melhor forma de prevenção às DSTs e aids, mas, do mesmo modo que 45% das pessoas no país, não costumava usar o preservativo em todas as relações sexuais com parceiros eventuais, como mostra a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP), divulgada pelo MS no final do mês passado e que ouviu homens e mulheres de 15 a 64 anos.

A coordenadora do Ambulatório de Infectologia do HEM, Luciana Paione, ressalta que, embora a Aids ainda seja, das DST, a doença que causa maior temor social, devido a todo o estigma e preconceito a que está sujeito o paciente HIV positivo, o fato de quase metade da população sexualmente ativa e, de modo particular, os jovens, não se protegerem, e, portanto, se exporem ao risco de forma cotidiana, representa um grave problema de saúde pública que requer estratégias com abordagens mais efetivas, pois além de evitar o vírus HIV, o preservativo também previne outras doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada, pondera.

Diante deste cenário, neste ano, em que se completam três décadas de luta contra a aids, órgãos e instituições da saúde pública, dentre eles o Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), reforçam as ações para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das DST, haja vista que existe um consenso entre os pesquisadores da área de que a prevenção das DST/aids necessita adotar uma perspectiva que ultrapasse o uso exclusivo dos preservativos.

Prevenção combinada

Dados do Ministério da Saúde mostram que, de um universo de quase 750 mil pessoas com Aids no país, aproximadamente 150 mil desconhecem seu diagnóstico. Paralelamente, a cada ano, são registrados 39 mil novos casos da doença. Diante desses números, o Brasil adotou, em dezembro de 2013, a estratégia de prevenção combinada que abrange práticas de sexo seguro, testagem regular de HIV, adesão ao tratamento antirretroviral, redução de danos e profilaxia pós-exposição.

Álcool e vulnerabilidade

Durante as comemorações do carnaval, principalmente os jovens, adotam atitudes de maior liberalidade em relação ao consumo de bebidas alcóolicas o que aumenta sua vulnerabilidade em relação às doenças sexualmente transmissíveis, uma vez que existe uma relação direta entre o abuso de álcool e a maior exposição ao risco. Mais de um terço dos rapazes e moças (34%) entre 18 e 29 anos admite ter transado sem usarem camisinha depois do consumo de drogas lícitas ou ilícitas, conforme explicita a pesquisa “Juventude, Comportamento e DST/Aids”, coordenada pela Caixa Seguros, com o acompanhamento do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde. Considerando que, de cada 10 brasileiros, quatro estão na faixa etária entre 15 e 29 anos, o que representa um contingente de 50 milhões de brasileiros e brasileiras, pode-se ter uma ideia do desafio.

Por Assessoria da Fhemig