Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), através da coordenadoria Estadual de Saúde Indígena, com apoio da Superintendência Regional de Saúde de Governador Valadares (SRS-GV), em parceria com o Ministério da Saúde e o Distrito Sanitário Especial Indígena de Minas Gerais e Espírito Santos (DSEI-MG/ES), finalizou ontem (28/04) no salão de eventos do Hotel Pedra Negra em Valadares, a capacitação para implantação do modelo de Atenção à Saúde Ocular Indígena. O treinamento teve como objetivo a capacitação dos profissionais na padronização   das ações de vigilância epidemiológica do tracoma e ações básicas de saúde ocular, como controle de doenças de Eliminação (Tracoma e Geo Helmintíase (verminoses).

O evento que durou três dias, teve a participação  de equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena e de Saúde municipais, referências Técnicas regionais e a equipe da Casa da Saúde Índio – CASAI, representando municípios e regionais (Itabira, Governador Valadares, Pouso Alegre e Teófilo Otoni) que possuem jurisdição Indígena.

“A capacitação foi uma oportunidade ímpar no Brasil quanto a questão do Tracoma. Já há dois anos a coordenadoria vem desenvolvendo um projeto de trabalho para início da implantação do trabalho com o Tracoma nas áreas indígenas. A partir  desse treinamento os profissionais capacitados deverão replicar  aos membros das equipes locais na vigilância, promoção e prevenção em saúde, com atividades comunitárias  e visitas domiciliares, difundindo mais informações para evitar problemas de saúde ocular”, ressaltou a coordenadora de Saúde Indígena da SES-MG, Simone Faria de Abreu.

Já a superintendente Regional de Saúde de Governador Valadares, Sheila Aparecida Ribeiro Furbino destacou o trabalho de investigação do tracoma que a SRS-GV fez especificamente para ser apresentada  na capacitação. “ Uma força tarefa composta de servidores da Regional de Valadares, Teófilo Otoni e Divinópolis realizou uma investigação sobre Tracoma em sete escolas de Governador Valadares. Proponho a coordenação da SES-MG que esta capacitação seja estendida além do público alvo, que é o índio, para a população da nossa região ampliada de saúde que envolve 51 municípios”, pontuou.

Já o representante do Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e também palestrista do evento, Paulo Canineo, afirmou que a proposta é realmente de multiplicar essas capacitações  em todo País. “Estamos neste evento numa parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, buscando reduzir drasticamente o número de casos de doenças de eliminação, como Tracoma, Geo Helmentíases, esquistossomose  e a Hanseníase. A proposta é expandir essas capacitações em todo o Estado e no País para efetivamente desenvolvermos ações de controle dessas doenças”, declarou.

A Tracoma é uma doença inflamatória dos olhos, causada por bactéria, que na forma crônica forma lesões que provocam o atrito da pálpebra com a córnea, podendo ocasionar a cegueira.

Programação

O evento, além de Paulo Canineo, contou também com a  participação efetiva dos profissionais especialistas que estão envolvidos com o programa Saúde Ocular Tracoma e outras doenças de eliminação no Brasil, como Jaime  Costa da Silva do DSEI,  Norma Helen Medina  de São Paulo  e Neusa Aparecida de Tocantins, que apresentaram os principais  temas: Prevenção e controle de Geo Helmintíase; ações de saúde ocular, em nível primário, secundário e terciário; principais estruturas oculares – anatomia e fisiologia ocular e desenvolvimento da visão; prevenção da incapacidade ocular na Hanseníase; Vigilância Epidemiológica, Diagnóstico Clinico, Laboratorial e tratamento do Tracoma; exame ocular, medida de acuidade visual e critérios de encaminhamento, entre outros.

Para o enfermeiro de Itapecerica, da região de Saúde de Divinópolis, Bruno Pereira Arantes, que atua na aldeia Pataxó Muá Mimatxi com 32 indígenas, a capacitação forneceu bons subsídios ao trabalho que desenvolve. “Tivemos aqui um embasamento teórico  e prático seguro que difundirei junto aos colegas da equipe de trabalho  e que precisará também agora do apoio do DSEI no que se refere a  recursos e insumos”, comentou.

O médico Marcos Eustáquio de Araújo de São João das Missões que trabalha junto aos indígenas da etnia Xacriabá, fez também um balanço positivo do evento. “Foi um acréscimo de informações muito bom, principalmente sobre o Tracoma, já que nunca temos esta noção que esta doença pode levar a perda de visão”, disse.

Investigação do Tracoma  

A referência técnica em Oftalmologia Social da SRS-GV, Nilma Simões apresentou um balanço do trabalho de busca ativa do Tracoma quem a Regional vem realizando, foram visitadas  63 escolas municipais e 22 estaduais na região que apresenta menor índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo, que é a microrregião de saúde Bipolar de São João Evangelista/Santa Maria do Suaçui. Nestas escolas foram realizados os exames em 9.439, que incluem alunos, professores e serviçais, sendo que foram notificados 169 casos de tracoma.

Na busca ativa realizada em abril deste ano em  Governador Valadares, especificamente para o evento de capacitação, foram visitadas 7 escolas, quando 876 alunos foram examinados, sendo confirmados  47 crianças  com o Tracoma.

Nilma Simões finalizou sua apresentação, apresentando algumas considerações visando a melhoria nas ações de controle do Tracoma: a necessidade de implantação de uma rede oftalmológica ; que haja espaço e tempo para  uma investigação epidemiológica dos casos ; que seja estendida a busca ativa a pré-escolares e idosos, já que nas ações que realizaram apareceram também casos confirmados em alunos dessa faixa etária; a necessidade de campanhas educativas sobre higienização (uso de papel toalha ou toalha individual, com água e sabão) nas escolas mobilizando alunos e professores e comunidade e também  a necessidade de uma capacitação para técnicos de Tracoma.

Por Frederico Bussinger