Somente neste ano, devem ocorrer 60 mil novos casos de câncer de próstata e mais de 12 mil mortes em razão da doença; além de mil amputações parciais ou totais do órgão sexual masculino, num universo de três mil casos de câncer de pênis. Para 2014, as estimativas se mantêm no mesmo patamar.

Este cenário tem como suas principais causas a falta de informação, o receio e resistência dos homens em se submeterem aos exames preventivos. O quadro fica ainda mais preocupante se for levado em conta que o câncer de próstata é o segundo câncer mais comum nos homens, estando atrás apenas do câncer de pele.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, um a cada seis homens terá câncer de próstata e um a cada 36 morrerá da doença. Em todo o mundo, quase dois terços dos diagnósticos são realizados em homens com 65 anos ou mais. A idade é o principal fator de risco para a doença, isto é, quanto mais velho, maior a chance de ter câncer de próstata.

Saúde do homem

Todos os anos, o Hospital Alberto Cavalcanti (da Rede Fhemig), referência estadual no tratamento do câncer, recebe pacientes acometidos por esses dois tipos de câncer, além de diversos outros como o de pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral, laringe e bexiga. A trajetória dos pacientes até a entrada no hospital é bastante diversificada e revela a multiplicidade de fatores que tornam a saúde do homem um tema bastante complexo e carregado de estigmas e preconceitos, situação que leva quase a metade (44%) da população masculina, do país, a não se consultar com um urologista.

Histórias diferentes, mesma doença

O aposentado Alírio Joaquim Viana, de 76 anos de idade, fez parte dessa estatística até os 74 anos e revela que não tinha o hábito de ir ao médico. Sua presença no consultório de um urologista dependeu da insistência de uma amiga da família e enfermeira do posto de saúde do Alípio de Melo, bairro onde vive o aposentado. Ele conta que somente foi à consulta para não desagradá-la. Os exames de toque retal e PSA (dosagem de Antígeno Prostático Específico) indicaram anomalias que foram confirmadas, por meio de biópsia, como câncer de próstata.
Acostumado a enfrentar desafios (ele já atuou como garimpeiro em Serra Pelada e boiadeiro em diversos lugares do país, além de ter sido cigano por um período de sua vida), Alírio se viu, pela primeira vez, entregue ao desespero. “Eu chorava muito, não conseguia dormir, perguntava a Deus o que ia acontecer comigo”.

 

Médico urologista Ricardo Nishimoto e o paciente Alírio Joaquim Viana (no Hospital Alberto Cavalcanti).

O câncer estava em estágio inicial e foi indicada a cirurgia. Dois meses após, Alírio voltou a sorrir. Hoje, dois anos depois, ele é praticamente um ativista da causa da prevenção. “Eu falo para os meus filhos, irmãos e amigos para eles fazerem o exame, porque câncer não é brincadeira. Feliz é aquele que faz o exame do toque, sem ele, eu tinha morrido. Depois de tudo isso, eu vivo uma vida muito boa, graças a Deus”, conta com um sorriso nos lábios. Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre o suposto desconforto ou dor, o ex-garimpeiro garante que o exame de toque retal não dói e é muito rápido.

A história do também aposentado Edirson de Souza Morais, de 57 anos de idade, é bastante diferente da de Alírio. Desde os 40 anos, ele fazia, anualmente, o PSA e o exame de toque retal como forma de prevenção do câncer de próstata. Aos 52, a doença foi detectada e ele foi submetido à cirurgia para a retirada do tumor. “Eu acho uma bobagem ter receio de fazer o exame de toque. Ninguém deixa de ser homem por causa disso”.  Ele conta que, quando souberam do seu diagnóstico, os irmãos e cunhados marcaram consultas com o urologista e decidiram fazer os exames necessários.

Novembro Azul

Dos cerca de 200 tipos de tumores malignos existentes, o de próstata está entre os mais curáveis desde que seja detectado prematuramente. Assim, para ajudar a combater a desinformação e o preconceito, durante este mês, denominado Novembro Azul, em todo o mundo, são realizadas ações para orientar a população masculina sobre a importância da adoção de medidas de prevenção, a fim de se evitar a proliferação dos diversos tipos de câncer e, em particular, para promover o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

Risco desnecessário

A resistência em realizar o exame de toque retal pode ser atribuída a um conjunto de fatores como a falta de informação, o medo, o constrangimento e os tabus sobre a masculinidade, o que é confirmado pelo fato de que apenas um terço dos homens brasileiros já fizeram o exame. Segundo o urologista do Serviço de Urologia do Hospital Alberto Cavalcanti, Ricardo Nishimoto, “O exame de toque é rápido (leva apenas alguns segundos), indolor e não é necessário nenhum preparo prévio”. Nishimoto explica que quando detectado no início, as chances de cura do câncer de próstata são superiores a 90%. Como, na maioria das vezes, o tumor localizado não apresenta sintomas, as campanhas para a detecção precoce da doença adquirem um papel crucial para a redução do número de casos.

Evolução lenta

Em geral, os tumores localizados levam em torno de 12 ou 13 anos para evoluírem. Nesse período eles atingem, aproximadamente, um centímetro de diâmetro. Portanto, os homens podem viver muitos anos sem apresentarem qualquer sintoma do câncer de próstata.
O procedimento cirúrgico é realizado somente nos estágios iniciais da doença. Nos casos avançados, são adotados os procedimentos de quimioterapia e/ou radioterapia.

Juntos, salvam vidas

A análise dos níveis de PSA feita por meio de exame de sangue, associada ao exame de toque retal, é a forma mais eficaz para a detecção da doença. Desse modo, se houver qualquer alteração evidenciada pelo PSA e/ou toque, parte-se para a biopsia. Como 70% dos tumores ficam situados na periferia (borda) da próstata o exame de toque retal é muito eficiente para constatar alterações na região.
É importante ressaltar que, isoladamente, o exame de PSA não é capaz de determinar se o indivíduo está doente. Isso porque o nível da proteína também cresce em decorrência de algumas infecções ou do crescimento benigno da próstata. Portanto, somente a associação dois exames é capaz de apurar possíveis alterações indicadoras da existência do tumor maligno. A presença de sintomas, geralmente, é um indício de que o tumor está num estágio avançado.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata são a idade (quanto mais velho o homem, maiores são as chances de se desenvolver a doença), a etnia (os negros têm maior predisposição), fatores dietéticos, tabagismo, hábitos de vida e genética. Quem possui parente de primeiro grau com histórico de câncer de próstata tem quatro vezes mais chances de desenvolver a doença. Além disso, a precocidade da sua manifestação, na história familiar, aumenta as chances de o indivíduo vir a desenvolver o tumor.

O papel das mulheres

Em um grande número de vezes, a parceira (seja a esposa ou a companheira e até mesmo uma amiga ou filha) é quem marca a consulta para o homem. Nos consultórios, é perceptível o papel das mulheres como incentivadoras da atitude preventiva. Elas não somente marcam a consulta, como cobram o comparecimento dos homens e os apoiam no momento dos exames. A atitude das mulheres é justificada pela constatação de que os homens somente procuram um médico quando estão doentes.

Exames preventivos

Até o mês de outubro deste ano, havia a recomendação de que os exames preventivos fossem realizados, anualmente, a partir dos 40 anos de idade, caso houvesse histórico familiar, e a partir dos 45 anos, em caso negativo.

No entanto, a partir deste mês de novembro, a Sociedade Brasileira de Urologia, com base em trabalhos científicos desenvolvidos nos últimos anos, revisou esta recomendação e passa a indicar o exame de toque retal a partir dos 50 anos para homens sem casos na família e aos 45 anos para aqueles que possuem histórico familiar.

Alimentação saudável e exercícios físicos

Segundo o Ministério da Saúde, uma alimentação rica em verduras, legumes, grãos, cereais integrais e frutas e com pouca gordura animal, ajuda a reduzir o risco do desenvolvimento de tumores malignos, bem como de outras doenças crônicas. A ingestão de alimentos saudáveis deve estar aliada à prática de exercícios físicos regulares (pelo menos 30 minutos diários), e ao não consumo de álcool e cigarros.

Câncer de pênis, pouco conhecido e perigoso

O câncer de pênis é uma doença pouco conhecida pela população e está ligado às questões socioeconômicas. Em regiões com menor índice de desenvolvimento humano (IDH), ele é mais prevalente e pode chegar a 10% dos tumores que acometem os homens residentes nessas localidades do país.

Dependendo da extensão da área atingida, o tratamento do câncer de pênis é mutilante, pois implica na amputação do membro, o que provoca grande repercussão psicológica para o homem, com abalo de sua autoestima. Às vezes, também é necessário o esvaziamento dos gânglios da coxa que é o principal local de metástase.

A doença se manifesta como uma ferida, verruga ou caroço. Qualquer lesão que não cicatriza deve ser investigada por meio de uma consulta ao urologista, tendo em vista que, na fase inicial, as chances de cura são grandes.

Água e sabão

No entanto, a tendência é o paciente ignorar a lesão. Essa atitude faz com que a doença evolua e produza mau cheiro, o que provoca a baixa exposição social do homem acometido, gerando um círculo vicioso. “A prevenção é barata, basta água e sabão, caro é o tratamento”, pondera o médico Ricardo Nishimoto.

Como os demais tipos de câncer, o tratamento do tumor de pênis requer uma abordagem multidisciplinar, de modo a atender a todas as necessidades de assistência do paciente, como, por exemplo, a atenção psicológica.

Por Alexandra Marques/ACS-Rede Fhemig