Com a alternância de dias de chuvas e outros de temperaturas altas, situações típicas do verão, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros está alertando os 54 municípios que compõem a sua área de atuação para o reforço do repasse de orientações à população sobre os riscos de acidentes com animais peçonhentos. Entre 2023 e janeiro deste ano a região contabiliza 14.448 casos notificados de acidentes com animais peçonhentos e ocorrência de 14 óbitos.

Durante o verão, período mais quente e mais chuvoso do ano, aumenta o número de acidentes com animais peçonhentos, tanto em áreas urbanas quanto rurais. Isso porque, o calor favorece a reprodução e, nos dias de chuvas, os animais procuram abrigos dentro de domicílios ou em áreas próximas.

“Diante de números tão significativos de acidentes ocorridos no Norte de Minas entre 2023 e o início deste ano, é de fundamental importância que os gestores de saúde e a população em geral redobrem os cuidados, especialmente em relação às crianças, que constituem o grupo mais suscetível ao envenenamento sistêmico grave”, alerta a coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes. 

Em janeiro deste ano, 36 municípios da área de atuação da SRS Montes Claros notificaram a ocorrência de 339 acidentes com animais peçonhentos: Montes Claros (199 casos); Bocaiúva (13); Janaúba (12); Guaraciama e Porteirinha (11); Espinosa (9); Capitão Enéas e Francisco Sá (8); Jaíba (7); Claro dos Poções, Nova Porteirinha e São João do Paraíso (4); Coração de Jesus, Cristália, Francisco Dumont, Mamonas, Mato Verde, Mirabela, Novorizonte e Serranópolis de Minas (3); Engenheiro Navarro, Grão Mogol, Indaiabira, Itacambira, Jequitaí, Juramento, Lagoa dos Patos, Riacho dos Machados e Vargem Grande do Rio Pardo (2); Joaquim Felício, Matias Cardoso, Pai Pedro, Rio Pardo de Minas, Santo Antônio do Retiro, São João da Lagoa e Verdelândia (1).

Em 2024 todos os municípios da área de atuação da SRS notificaram a ocorrência de acidentes com animais peçonhentos, totalizando 7.056 casos, e ocorrência de cinco óbitos distribuídos da seguinte forma: três por picadas de abelhas ocorridos em Janaúba (2) e Catuti (1); e dois óbitos causados por serpentes, sendo um em Montes Claros e outro em Bocaiúva. 

No somatório geral, em 2024 as localidades que registraram a maior quantidade de acidentes foram: Montes Claros (3.071); Salinas (390); Jaíba (375); Bocaiúva (310); Janaúba (273); Porteirinha (256); Coração de Jesus (250); Francisco Sá (127); Capitão Enéas (109) e Taiobeiras (104).

Já em 2023 ocorreram 7.053 acidentes com animais peçonhentos nos municípios da área de jurisdição da Superintendência Regional de Saúde, com ocorrência de nove óbitos distribuídos da seguinte forma: quatro foram causados por picadas de escorpiões: Jequitaí (2); Montes Claros e Salinas (1 caso em cada localidade). Três óbitos foram causados por serpentes, sendo dois casos em Serranópolis de Minas e um em Mirabela. Em Curral de Dentro e Montes Claros foram notificados dois óbitos causados por animais peçonhentos não identificados.

    Agna Menezes alerta que, em razão da alta incidência de acidentes com animais peçonhentos, incluindo a ocorrência de óbitos, as secretarias municipais de saúde devem fazer a análise epidemiológica dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) para compreender as particularidades do agravo e identificar quais ações precisam ser priorizadas em cada localidade. “Os municípios também devem realizar ações de promoção à saúde e prevenção dos acidentes, com o repasse de orientações à população; divulgação ampla do fluxo para atendimento das pessoas nas unidades de saúde em casos de acidentes; disponibilização dos protocolos vigentes; qualificação e capacitação dos profissionais de saúde para o manejo adequado de pacientes”, observa a coordenadora.

 Foto: Fernanda Moreira Pinto/SES-MG

 

Prevenção

A referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS, Amanda de Andrade Costa reforça que “a prevenção contra acidentes com animais peçonhentos deve ser redobrada, sobretudo no caso dos escorpiões. No Norte de Minas, os acidentes envolvem especialmente a espécie Tityus serrulatus, mais conhecida como "escorpião amarelo”. 

Entre as medidas de prevenção estão: uso de calçados e luvas nas atividades rurais e de jardinagem; examinar calçados, roupas pessoais, de cama e banho antes de usá-las; afastar camas das paredes e evitar pendurar roupas fora de armários; não acumular entulhos e materiais de construção; limpar regularmente móveis, cortinas, quadros, cantos de parede; vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos, forros e rodapés.

Também é recomendada a utilização de telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; manter limpos os locais próximos das casas, jardins, quintais, paióis e celeiros; evitar plantas tipo trepadeiras e bananeiras junto às casas e manter a grama sempre cortada; limpar terrenos baldios, pelo menos na faixa de um a dois metros junto a muros ou cercas.

 

Tratamento

Agna Menezes explica que, em caso de acidentes com escorpiões, ocorre a instalação imediata de dor, podendo expandir para o membro afetado, acompanhada de parestesia (sensação de formigamento ou dormência); eritema (manchas vermelhas na pele) e sudorese local. O quadro mais intenso de dor ocorre nas primeiras horas após o acidente.

Já as manifestações sistêmicas ocorrem após poucos minutos ou até entre duas a três horas após o acidente. Principalmente em crianças, podem surgir sintomas como sudorese excessiva; agitação psicomotora; tremores; náuseas; vômitos; sialorreia (perda não intencional de saliva pela boca); hipertensão ou hipotensão arterial (a pressão arterial cai a ponto de provocar sintomas como tonturas e desmaios); arritmia cardíaca; insuficiência cardíaca congestiva; edema pulmonar agudo e choque. A presença dessas manifestações indica a suspeita do diagnóstico de escorpionismo, mesmo na ausência de história de picada ou identificação do animal.

O diagnóstico de envenenamento dos acidentes com escorpiões é eminentemente clínico-epidemiológico. O tratamento é feito, de preferência, com soro antiescorpiônico ou, na falta deste, com soro antiaracnídico. 

 

Soroterapia

Para agilizar o atendimento de pessoas vítimas de acidentes com animais peçonhentos, a Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros mantém 18 polos de soroterapia na região.

A localização leva em consideração informações epidemiológicas e geográficas. Em Montes Claros, o Hospital Universitário Clemente de Faria é o centro de referência para o atendimento de vítimas de acidentes com animais peçonhentos. Outras 17 unidades hospitalares de referência estão sediadas em Bocaiúva; Coração de Jesus; Espinosa; Grão Mogol; Francisco Sá; Jaíba; Janaúba; Mato Verde; Mirabela; Monte Azul; Montezuma; Ninheira; Porteirinha; Rio Pardo de Minas; São João do Paraíso; Salinas e Taiobeiras.

“Crianças têm uma tendência a um pior quadro clínico diante do envenenamento por picada de animal peçonhento devido ao baixo peso corporal. Pessoas com problemas cardíacos também correm mais risco de complicações de saúde, por isso a manutenção dos polos de soroterapia visa agilizar o atendimento de vítimas de acidentes em municípios com localização estratégica nas microrregiões de saúde. Isso possibilita o início dos tratamentos no menor espaço de tempo, reduzindo com isso as possibilidades de óbitos”, observa a referência técnica, Amanda Costa. 

Por Pedro Ricardo