Em comemoração ao Janeiro Roxo, mês alusivo à conscientização e ao combate à hanseníase, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, por meio da referência técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi), Mônica Maria de Sena Fernandes Cunha, divulgou o Boletim de Vigilância Epidemiológica da Hanseníase. O estudo abrange os anos de 2017 a 2024 e levou em consideração os casos ocorridos em toda a área da SRS Ponte Nova (30 municípios), dividida nas microrregiões de Saúde de Ponte Nova e Viçosa.
A doença, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, é transmitida por meio das vias respiratórias (tosse, espirro, secreções nasais e fala da pessoa contaminada e sem tratamento). Atinge a pele e os nervos periféricos como os das mãos e pés, causando a perda de sensibilidade e, se não tratada, pode comprometer os movimentos dos membros.
A publicação traz, conforme registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que o número de casos na microrregião de Ponte Nova decresceu dos anos de 2017 a 2020, passando de 7,06 a 1,42 caso por 100 mil habitantes. De 2021 a 2023, houve um pequeno crescimento, passando de 1,90 a 4,28 casos. Em 2024, voltou a cair para 0,48%. Na microrregião de Viçosa, houve uma variação de detecção ao longo da série histórica, representando números bem abaixo dos da microrregião de Saúde de Ponte Nova, com exceção dos anos de 2020 e 2024, quando alcançou 2,16% e 1,43%.
“A meta do Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase (PEEH) é aumentar a detecção geral de casos novos em 10%. Porém, a SRS Ponte Nova não alcançou o percentual, o que pode ser justificado pelo elevado número de municípios silenciosos, pelo período de pandemia da covid-19, pela falta de profissionais capacitados em ações de controle da hanseníase, entre outras motivações”, explicou Mônica.
Para a autora, é de extrema importância que os municípios assumam, na Atenção Primária à Saúde (APS), todas as ações voltadas para a detecção precoce da doença, intensificando a busca ativa, bem como o acompanhamento e monitoramento dos casos de hanseníase e de seus contatos.
Dados epidemiológicos
O boletim enfatiza a taxa de detecção anual de casos novos em menores de 15 anos por 100 mil habitantes, um dos mais importantes indicadores de monitoramento da doença, que permite inferir sobre a circulação recente do Mycobacterium leprae e sua transmissão ativa. “Um caso de hanseníase em menor de 15 anos é tido como um evento sentinela, sinalizando para a transmissão recente da doença na comunidade e as dificuldades dos programas de saúde no controle”, apontou.
Os casos novos de hanseníase em menores de 15 anos por 100 mil habitantes, no período avaliado, ocorreram na microrregião de Ponte Nova, em 2018, e na micro Viçosa, em 2023. A detecção alcançada foi de 5,24 e 4,29 casos, respectivamente, atingindo um parâmetro de média endemicidade nas duas micros. “A detecção nessa faixa etária deve ser tratada com muita responsabilidade pela saúde pública, seguindo todos os protocolos específicos, para assegurar que esses casos sejam avaliados de forma completa e tratados, evitando sequelas nos pacientes”, alertou Mônica.
Outro ponto levantado no boletim está relacionado à ocorrência da hanseníase por faixa etária e sexo. No período analisado, nas microrregiões de Ponte Nova e Viçosa, a faixa etária mais incidente foi de 50 a 59 anos, com sexo feminino mais predominante na microrregião de Viçosa e sexo masculino mais predominante na microrregião de Ponte Nova (nesta faixa etária). No entanto, nas demais faixas da série, o sexo masculino ocorreu com mais frequência. Já em relação à raça/cor, a mais incidente foi a parda, seguida da branca e preta. No âmbito da SRS Ponte Nova, a predominância foi de 47,67% para a cor parda, 30,23% para a cor branca e 19,77% para a cor preta.
Reflexões
Mônica Sena destacou a importância de se qualificar os sistemas de informação. “As notificações deverão ser inseridas no Sinan e os dados atualizados durante o tratamento do paciente até a sua cura, por meio de operadores habilitados e comprometidos com a veracidade dos dados. Os dados, quando bem utilizados, poderão gerar informação e, assim, propiciar um planejamento com ações preponderantes e eficazes para a população”, destacou.
Como considerações finais, a referência técnica do Nuvepi da SRS Ponte Nova chamou a atenção para a necessidade de se fazer chegar à população e aos profissionais de saúde, por meio da Educação em Saúde e informações sobre a hanseníase, com a finalidade de aumentar a detecção de casos no território. “Isso é primordial para reduzir preconceitos, proporcionar uma assistência ampla e humanizada, bem como propiciar qualidade de saúde aos indivíduos acometidos pela doença e suas sequelas”, refletiu.
O boletim ainda traz análises sobre a proporção de casos novos de hanseníase com grau de incapacidade física, proporção de casos novos de hanseníase segundo classificação operacional, escolaridade, esquema terapêutico atual, frequência de casos por baciloscopia e proporção de casos de hanseníase segundo tipo de saída. O conteúdo completo está disponível aqui.