Com o objetivo de qualificar profissionais para compor equipe nacional de investigação e vigilância ecoepidemiológica de mamíferos silvestres e seus agentes infecciosos, Minas Gerais é o primeiro estado a sediar - entre os dias 9 e 16 de setembro - treinamento prático em investigação para doenças zoonóticas (hantavirose e peste), com foco em roedores e cães.
A capacitação está sendo realizada em Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, envolvendo referências técnicas de vigilância epidemiológica e de saúde integrantes de Unidades Regionais de Montes Claros, Diamantina, Uberaba, Divinópolis e Governador Valadares, além da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Um técnico que atua no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), em Juiz de Fora, também participa das atividades.
A capacitação é fruto de parceria entre a SES-MG e o Ministério da Saúde (MS), por meio da Coordenação Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial. Também integram os trabalhos o Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Serviço Nacional de Referência em Peste do Instituto Aggeu Magalhães, sediado em Pernambuco. O Instituto está trabalhando na capacitação de profissionais para a utilização de teste rápido sorológico para a vigilância da peste nos estados focais do país.
Considerando que o estado de Minas Gerais é pioneiro na realização das ações de monitoramento e vigilância de hantavirose e peste, o Ministério da Saúde decidiu iniciar a capacitação de profissionais por Minas. As atividades são direcionadas a técnicos que já possuem experiência de trabalhos de campo nas áreas de vigilância epidemiológica e de saúde, zoonoses e epizootias, uma vez que atuarão como multiplicadores do treinamento nas regiões de origem. Além disso, os participantes também estão recebendo orientações da Fiocruz para a utilização de teste rápido sorológico para a vigilância da peste.
A primeira etapa da capacitação foi realizada online nos dias 26 e 27 de agosto, abordando aspectos teóricos sobre a hantavirose e a peste. Já na parte prática de campo, que está em andamento em Virgem da Lapa, os profissionais estão divididos em duas equipes: uma para a captura de roedores silvestres e outra para a coleta de amostras de sangue em cães, para análise com a utilização de testes-rápidos.
“A realização do treinamento possibilita a aquisição de novos conhecimentos que posteriormente vamos repassar para as referências técnicas de vigilância epidemiológica e de saúde dos municípios que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros”, explica Bartolomeu Teixeira Lopes. Ele é referência técnica em entomologia da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica da SRS. Ronildo Barbosa, também referência técnica da SRS de Montes Claros com foco na vigilância da peste, avalia que “a troca de experiências entre profissionais do Ministério da Saúde e da Fiocruz com equipes das unidades regionais da SES-MG reforça a importância do trabalho de vigilância em saúde. Além disso, a introdução de teste rápido sorológico para a peste possibilitará maior agilidade no diagnóstico da doença e, consequentemente, no atendimento de demandas de saúde da população nos serviços de atenção primária e especializada”.
Segundo o Ministério da Saúde, a formação de multiplicadores das ações de capacitação em hantavirose e peste em Minas Gerais também visa a incorporação do Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo) como ferramenta complementar. “Trata-se de um sistema de base computacional para melhorar a qualidade dos dados de localização, fluxo de notificação e operação de investigação com coleta de amostras, diagnóstico e resposta aos casos de hantavirose e peste”.
Hantavirose
A coordenadora de vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que a hantavirose é uma zoonose viral infecciosa aguda, transmitida entre animais e pessoas. Na América do Sul, por causar importante comprometimento cardíaco, a doença passou a ser denominada de Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus.
Os roedores silvestres são os reservatórios naturais da doença e podem eliminar o vírus Hantavírius pela urina, saliva e fezes. A doença pode se manifestar por diferentes formas, desde doença febril aguda inespecífica até quadros pulmonares e cardiovasculares mais severos, podendo evoluir para a Síndrome da Angústia Respiratória (SARA).
A transmissão da doença ocorre mais frequentemente pela inalação de aerossois (partículas sólidas ou líquidas suspensas no ar), formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados. A disseminação da doença também pode ocorrer por meio de escoriações cutâneas ou mordedura de roedores; contato do vírus com a mucosa conjuntival, da boca e do nariz por meio de mãos contaminadas com excretas de roedores. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre de forma esporádica.
Agna Menezes explica que os sintomas da fase inicial da doença são: febre, dor nas articulações, cabeça, lombar e abdominal, além de sintomas gastrointestinais. Na fase cardiopulmonar a doença evolui para febre; dificuldade da pessoa respirar ou respiração acelerada; tosse seca, pressão baixa e aceleração dos batimentos cardíacos.
Devido a evolução rápida e progressiva da doença para insuficiência respiratória grave e, até mesmo, choque circulatório, para evitar óbito o paciente com hantavirose deve ser transportado acompanhado de médico habilitado e em condições que assegurem, entre outras situações clínicas, estabilidade hemodinâmica, parâmetros ventilatórios adequados e controle cardiovascular.
“A doença é de notificação obrigatória imediata, por parte de todos os serviços de saúde. Não existe tratamento específico para as infecções por hantavírus. As medidas terapêuticas de suporte são fundamentais, conforme a situação de cada paciente”, observa a coordenadora.
Entre outras medidas de prevenção contra a hantavirose, o Ministério da Saúde recomenda: limpeza de terrenos em volta das casas, dar destino adequado a entulhos, manter alimentos guardados em recipientes fechados e à prova de roedores.
Peste
A peste é uma doença infecciosa aguda, transmitida principalmente pela picada de pulga infectada. Segundo o Ministério da Saúde, a peste (que também é conhecida popularmente como peste negra, febre do rato ou doença do rato), ocorre principalmente na região Nordeste, além de Rio de Janeiro e Minas Gerais, e desde 2005 não há registro de casos humanos da doença. Porém, a peste “é um perigo potencial para as populações devido à persistência da infecção em roedores silvestres. Se não tratada corretamente pode levar à morte”, alerta o Ministério da Saúde.
A doença tem como sintomas febre alta; calafrios; confusão mental; olhos avermelhados; pulso rápido e irregular; dor de cabeça intensa; dores generalizadas; falta de apetite; náuseas; vômitos; pressão baixa; prostração e mal estar geral.
Na fase inicial a peste pode ser confundida com leishmaniose tegumentar. O diagnóstico é feito mediante o isolamento e a identificação da bactéria Y. pestis em amostras de aspirado de bubão, escarro e sangue. Para ser eficaz, o tratamento precisa ser precoce e correto, sendo o ideal nas primeiras 15 horas após o início dos sintomas.