Febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, diarreia, dor abdominal e muscular constante são os sintomas mais comuns associados à febre maculosa. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), somente de janeiro a 28 de agosto deste ano foram confirmados 25 casos de febre maculosa no estado, dos quais dois evoluíram para morte. Nos últimos três anos, foram confirmados 155 casos da doença no estado.
 
 
Embora a febre maculosa possa ocorrer durante todo o ano, a doença é mais frequente no período de seca, sobretudo entre os meses de abril a outubro. Em Minas Gerais, observa-se que o pico de casos acontece entre os meses de maio a agosto, com maior incidência nas macrorregiões de Saúde Centro, Vale do Aço, Leste e Leste do Sul.
 
A doença é causada por uma bactéria da família Rickettsiaceae, transmitida pela picada do carrapato, mais conhecido como carrapato-estrela, que pode se hospedar em capivaras e em outros mamíferos. De acordo com a referência técnica do Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Ana Íris Duré, como os sintomas da doença podem ser confundidos com outras enfermidades, a informação é a principal ferramenta para evitar casos graves. “Sabe-se que 40% das pessoas picadas por carrapatos se esquecem de relatar esse fato no primeiro contato na unidade de saúde. Esse vínculo é relevante, já que com base nesse dado é recolhida a primeira amostra de sangue que será encaminhada para o exame laboratorial”, explica.
 
Segundo a especialista, o paciente leva em torno de 10 a 20 dias para desenvolver os anticorpos, de modo que é indispensável o envio de outra amostra nesse intervalo de tempo para fechar o diagnóstico. “Se você tem apenas um resultado positivo para a doença, não é conclusivo, porque pode se tratar de uma reação cruzada ou inespecífica”, complementa.
 
As autoridades de saúde reforçam que não é necessário esperar a confirmação laboratorial do caso para dar início à administração de antibiótico específico, já nos primeiros dias, caso tenha havido manifestação dos sintomas ou contato com carrapatos, a fim de evitar complicações. Caso a doença não seja tratada em tempo oportuno, pode paralisar as pernas, subindo para os pulmões, inclusive, o que pode levar a uma parada respiratória. De acordo com a SES-MG, a taxa de letalidade média do estado, ao longo dos anos, é de aproximadamente 30%. Historicamente, as faixas etárias mais acometidas pela doença estão compreendidas entre 41 a 60 anos, e os casos confirmados são, na maioria das vezes, em homens.
 
A bactéria causadora da febre maculosa, de acordo com a referência técnica da Funed, Ana Íris, tem comportamento similar ao de um vírus, tanto no diagnóstico quanto na própria infecção. “Antigamente, chamávamos de ‘bactéria incompleta’, porque ela precisa da célula viva para se multiplicar. Ao contrário da maior parte das bactérias, que crescem no meio de cultura, a Rickettsia tem esse comportamento diferenciado”, comenta.
 
Como a Febre Maculosa se enquadra no rol das doenças negligenciadas, há bastante dificuldade para aquisição de kits importados utilizados no diagnóstico. Diante desse quadro, desde de 2010 a Fundação iniciou a produção dos insumos para realizar o diagnóstico; O Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose é a referência nacional quando se trata de febre maculosa e outras riquetsioses. Atualmente, a instituição recebe amostras para o diagnóstico de todo o país, exceto do estado de São Paulo, e conta com um laboratório de Nível III de biossegurança (NB3), seguindo os mais rigorosos critérios para produção dos kits para diagnóstico da doença. “Nós cultivamos a bactéria em células, assim obtemos estes microrganismos isolados para a produção dos kits diagnósticos. É um ganho para o Sistema Único de Saúde (SUS), porque um procedimento desse tipo, em um laboratório particularseria oneroso para a população. Para se ter ideia, somente um exame poderia chegar a um custo de mais de mil reais. Essa é uma das contribuições da Funed para o SUS”, defende.
 
A SES-MG reforça que a atuação conjunta entre as regionais de saúde é crucial para conter a disseminação da febre maculosa no estado. Entre as medidas adotadas pela pasta, se destaca o monitoramento semanal do banco de notificações de casos suspeitos e confirmados da doença, o que contribui para a caracterização do cenário epidemiológico e direcionamento das ações de educação em saúde e comunicação de risco.
 
Além disso, a divulgação periódica de materiais técnicos com notas, manuais, publicações e boletins para profissionais da assistência e da vigilância em saúde municipais contribui para o aprimoramento dos fluxos e procedimentos locais. Assim como a promoção de ações permanentes de capacitação e atualização dos profissionais de saúde para o diagnóstico rápido e para o tratamento adequado da doença.
 
As capacitações anuais para o monitoramento ambiental em áreas de risco e de Vigilância Entomológica (Acarológica), em parceria com a Funed, com foco nos profissionais da vigilância em saúde das unidades regionais de saúde e dos municípios, também fazem parte do escopo das ações, possibilitando o fortalecimento do combate à doença no estado.
 
Saiba como se prevenir
 
As pessoas que residem ou frequentam regiões com maior incidência de carrapatos devem redobrar os cuidados, principalmente nessa época do ano. O Ministério da Saúde recomenda que as dicas abaixo devem ser observadas:
 
•Sempre que possível use roupas claras. Isso ajuda na identificação do carrapato, uma vez que ele é escuro.
 
•Utilize calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas.
 
•Evite andar em locais com grama ou vegetação alta.
 
•Use repelentes de carrapatos.
 
•Verifique se você e seus animais de estimação estão com carrapatos.
 
•Se encontrar um carrapato aderido ao corpo, remova-o com uma pinça.
 
•Não aperte ou esmague o carrapato, apenas puxe-o com cuidado e firmeza.
 
•Depois de remover o carrapato inteiro, lave a área da mordida com álcool ou sabão e água.
 
•Quanto mais rápido retirar os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença.
 
•Após a utilização das roupas, coloque todas as peças de roupas em água fervente para a retirada dos carrapatos.
 
•Procure assistência médica o mais rápido possível caso seja picado ou apresente os sintomas da febre maculosa.
 
Clique aqui e confira a cartilha na íntegra elaborada pelo Ministério da Saúde.

Por Janaína Santos/ACS Funed