“Peguei sarampo quando era criança. Na minha casa, éramos oito filhos e cinco tiveram a doença. Tivemos febre alta, falta de apetite e passamos um aperto muito grande, já que não existia vacina naquela época”, conta Ana Dalva de Almeida Corrêa, de 70 anos.

Crédito: Ricardo Maciel

A costureira Pautila Belmira Caetano, de 85 anos, também se lembra da experiência da sua família com o sarampo. “Meus cinco filhos tiveram sarampo e ficaram mal, com muita febre, olhos vermelhos e muita disenteria. Hoje nem ouvimos falar porque tem vacina disponível para todo mundo”, comemora.

Minas Gerais não registra casos autóctones (com transmissão no território) de sarampo desde o ano de 2020, quando 22 casos foram confirmados. A imunização em massa também foi fundamental para o Brasil zerar o registro de casos de outras doenças de impacto na saúde pública, como a varíola, erradicada no país em 1973, e a poliomielite, eliminada em 1994.

Para evitar a volta dessas doenças, é fundamental ampliar o acesso à vacinação durante todo o ano e alcançar a meta de cobertura vacinal de 95%, preconizada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), de forma homogênea nos municípios mineiros.

Por isso, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), trabalha continuamente para aumentar e diversificar as oportunidades de acesso às vacinas do calendário de rotina, que protegem contra doenças que preocupam pelo potencial de transmissibilidade de pessoa a pessoa.

“Com o Programa Vacina Mais, Minas, estamos atuando em duas frentes. A primeira estratégia é o incentivo à vacinação extramuros. Já investimos, desde 2023, R$165 milhões para que os municípios realizem a vacinação fora das salas de vacina, como no ambiente escolar, e, assim, aumentem a cobertura vacinal”, destaca o subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi.

Segundo ele, a segunda linha de ação dentro do programa são os vacimóveis, veículos equipados para funcionar como unidades itinerantes de vacinação. Com investimentos de mais de R$100 milhões do Governo de Minas, 77 municípios mineiros foram contemplados e receberam recursos para aquisição do veículo. Os demais municípios do estado serão atendidos por meio de 51 Consórcios Intermunicipais de Saúde.

“As vacinas de rotina estão disponíveis em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que costumam funcionar de segunda a sexta-feira. Mas sabemos que muitos responsáveis trabalham nesse mesmo período, o que torna inviável levar as crianças para vacinar”, pontua.

“Por isso, é tão importante contarmos com o vacimóvel em locais como praças e rodoviárias, onde realmente a população circula. Os veículos já foram adquiridos, estão em fase de adaptação pela montadora e logo estarão rodando”, detalha.

Alerta

Entre janeiro e julho de 2024, foram registrados, em Minas, 144 casos de catapora (varicela) e um óbito entre crianças menores de 10 anos. Em 2023 não houve registro de óbito nesse mesmo grupo etário, mas foram 587 casos da doença.

Quanto à meningite, foram 100 casos e 11 óbitos de janeiro a julho de 2024, entre os menores de 10 anos.

A médica infectologista do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs Minas), Daniela Caldas, explica que a vacinação segue sendo a estratégia mais eficaz para o controle dessas e de outras doenças.

“Identificar rapidamente um caso confirmado de doença infecciosa, fazer o tratamento adequado e isolar o paciente quando necessário também ajuda no controle da transmissão do vírus, mas até essa confirmação acontecer, outras pessoas já foram expostas àquela doença. Por isso, a imunização é primordial. Ou seja, mesmo que a pessoa seja exposta ao vírus, se ela estiver adequadamente vacinada, não vai adoecer, ou ainda, não de forma mais grave”, ressalta.

Daniela Caldas pontua que a atenção dos responsáveis com a caderneta de vacinas da criança precisa se manter inclusive após a primeira infância.

“Orientamos que pais, mães e responsáveis busquem a Unidade Básica de Saúde mais próxima, para que um profissional possa avaliar a caderneta de vacinas da criança e administrar as doses oportunas e necessárias”, recomenda.

A médica infectologista comenta ainda que a dose de reforço é importante para a proteção da criança, conforme esquema previsto para alguns imunizantes no calendário nacional de rotina.

“É muito importante garantir que as crianças tenham o esquema vacinal completo, inclusive respeitando os prazos indicados para cada dose de reforço. Isso ajuda a aumentar a imunidade e otimizar a resposta imunológica dos pequenos”, explica a Daniela Caldas.

Davi Lucas Alcântara, de 11 anos, morador do município de Couto de Magalhães de Minas, no Vale do Jequitinhonha, já sabe: "A picadinha da vacina é uma picadinha de amor, não tem por que ter medo", diz ele, que foi até a Unidades Básica de Saúde se vacinar contra a influenza.

A coordenadora de Imunização de Couto de Magalhães de Minas, Bárbara Maria Freitas Gomes, destaca que o pequeno município atingiu a meta da cobertura vacinal em grande parte das vacinas do PNI. Para ela, o resultado obtido na vacinação do público infantil é reflexo do comprometimento da equipe na busca ativa, bem como do trabalho de comunicação e mobilização social na sensibilização da população.

“Graças a Deus estamos com uma cobertura bem elevada, conquistada por meio das nossas buscas com carros de som nas ruas, nas redes sociais e pelas agentes de saúde. Vacinar é um ato de amor e de cura”, declara.

A mãe do pequeno Davi, Linamara Alcântara, ressalta a responsabilidade e o compromisso que tem com a saúde dos filhos, mantendo as cadernetas sempre atualizadas.

"Tenho três filhos e os cartões de vacina deles estão todos em dia. Hoje vim trazer o Davi para tomar a vacina da gripe. A vacina é muito importante e salva vidas", conclui.

Confira o Calendário Nacional de Vacinação da Criança.

Mobilização

O município de Passos, no sudoeste de Minas, já se mobiliza para promover a vacinação em praças, creches, escolas e empresas. A coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Regional de Saúde de Passos, Paula Fabiana Tavares, explica que, além de facilitar o acesso às vacinas, as equipes de saúde também estão focadas em conscientizar a população sobre a importância da vacinação.

“Precisamos sensibilizar pais, responsáveis, adultos e idosos sobre a importância de se imunizar contra doenças que são preveníveis”, afirma.

Na Unidade Básica de Saúde (UBS) Compartilhada da Estratégia de Saúde da Família Coimbras I e Coimbras II, no Jardim Califórnia, a enfermeira Marcela de Ávila Bueno atua como vacinadora há seis anos. Ela reforça a importância da mobilização e comunicação para que os pais entendam a segurança e eficácia das vacinas de rotina.

“Essas vacinas protegem contra doenças que podem deixar sérias sequelas nas crianças e até causar morte, como a poliomielite, catapora e meningites. Então, venham, tragam as crianças aqui, com toda segurança e dedicação de todos nós”, convoca.

Mãe de dois filhos, uma jovem de 23 anos e um menino de dez, a enfermeira Míriam Lemos de Oliveira conta que sempre foi muito rigorosa com a vacinação deles, mesmo antes de trabalhar na área da saúde. Na última semana, Míriam levou o pequeno David para tomar uma dose da vacina contra a dengue, mas o seu cartão de vacinas está em dia com a vacinação de rotina.

“Eu sempre tive o comprometimento com o cartão vacinal, assim como a minha mãe também sempre me vacinou. Ela me falava muito, por exemplo, da poliomielite, das sequelas da doença, por causa daquelas mães que não levavam as crianças para se vacinarem. Então, eu sempre tive isso em mente”, finaliza.

 

Por Fernanda Rosa, com Eduardo Wanderley, Ricardo Maciel e Ênio Modesto