A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) é uma doença infecciosa, grave, não contagiosa, que acomete os cães. É transmitida por meio da picada da fêmea infectada do inseto flebotomínio, popularmente conhecido como mosquito palha. Com o objetivo de fortalecer a estratégia de controle da doença na região, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Teófilo Otoni promoveu, entre os dias 28 a 30 de novembro, uma capacitação sobre o Programa de Controle da Leishmaniose Visceral Canina destinado aos agentes de endemias e médicos veterinários dos municípios pertencentes à área de abrangência da unidade.
A proliferação do inseto é propiciada pela falta de higiene no ambiente Na sua forma de larva, o mosquito palha se alimenta de matéria orgânica, como lixo doméstico (restos de comida), frutos apodrecidos, folhas de árvores, vegetais em decomposição e fezes de animais.
A referência técnica em leishmanioses da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Teófilo Otoni, Maryana Prates, reforça que o controle da LVC exige uma ação conjunta entre o poder público e sociedade. “Cabe ao poder público adotar medidas de controle do vetor e à sociedade cabe em entender o ciclo da doença, eliminado em suas residências possíveis focos que podem favorecer a proliferação do vetor além de ter a posse responsável dos cães”, ressalta Maryana Prates.
Estratégias de controle da doença
Em 2006, o Ministério da Saúde (MS) lançou o Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, que prevê a realização, de forma integrada, de medidas de controle que visam o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos, o controle do reservatório canino e do vetor.
A região da SRS Teófilo Otoni é considerada endêmica para a LVC. Dos exames de diagnóstico realizados em cães na região, em 2023, 72% deram resultado positivo para a doença. Apesar dos números, apenas 10 dos 32 municípios pertencentes à unidade regional implantaram o programa. “O cão é a principal fonte de infecção do vetor na área urbana, por isso, as ações de vigilância são muito importantes. Fazer o controle da doença na população canina, possibilita a redução de ocorrência da leishmaniose visceral humana. Esse é o nosso principal objetivo com essa capacitação”, explica Maryana Prates.
Cão infectado com LVC
O protozoário Leishmania infantum chagasi é o causador da Leishmaniose Visceral Canina (LVC). Ele compromete as células de defesa do organismo do animal, causando alterações em seus órgãos vitais. O cão doente pode apresentar fraqueza, emagrecimento, lesões no focinho e nas orelhas e crescimento anormal das unhas.
É uma doença de evolução crônica e alguns animais infectados podem não apresentar sintomas, como é o caso da cadela Meg, que teve o diagnóstico da doença após se submeter a uma cirurgia de retirada da mandíbula. “Para a realização da cirurgia, Meg precisou fazer alguns exames de sangue. Os resultados acusaram que ela estava com anemia e problemas renais. A partir daí levantou-se a suspeita quanto à doença, ocasião em que solicitaram exames mais específicos. Porém, o diagnóstico veio tarde”, relata S.S.P., 23 anos, tutora da cadela, que há sete meses faleceu em decorrência de complicações da LVC.
A médica veterinária do município de Teófilo Otoni, Marla Oliveira D’esquivel, explica que, a partir do momento que o cão é confirmado para leishmaniose visceral, o resultado deve ser comunicado ao tutor que, por sua vez, deverá optar pela entrega do animal para a realização da eutanásia ou recusar esse procedimento. “No caso da recusa, o tutor é orientado sobre a utilização imediata da coleira à base de deltametrina, para evitar que o vetor sugue o sangue do cão e faça o repasse sanguíneo, transmitindo assim a doença para os humanos ou outros animais”, pontua D’esquivel.
Os exames para o diagnóstico da doença são realizados gratuitamente na rede pública de saúde, mas o tratamento do cão é particular, Não é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a médica veterinária, o único medicamento autorizado pelo Ministério da Agricultura para o tratamento da Leishmaniose Visceral Canina é o Milteforan e deve ser utilizado durante toda vida do animal e sob acompanhamento de médico veterinário particular. Ela ainda destaca que a Leishmaniose Visceral Canina não tem cura e que o animal precisa estar apto fisiologicamente para receber o tratamento. “Geralmente esses animais já estão com os órgãos bem debilitados, não respondendo adequadamente ao tratamento, podendo inclusive, gerar para o tutor uma situação de maus tratos”, ressalta.
Prevenção
As medidas mais utilizadas para prevenir a doença são:
- Controlar os vetores (flebotomíneos) por meio da limpeza de quintais e terrenos, recolhendo folhas e galhos.
- Podar árvores, aumentando a insolação e evitando assim o sombreamento do terreno para não propiciar condições favoráveis à multiplicação do flebotomíneo.
- Descartar adequadamente o lixo orgânico para que animais hospedeiros do parasita, como ratos e gambás, não se aproximem das casas.
- Utilizar medidas de proteção individual, como o uso de repelentes, especialmente no final da tarde e à noite, telas nas janelas e portas e mosquiteiros.
- Realizar limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos.
- Manter os animais domésticos fora das casas à noite, para não atrair os insetos vetores.
- Evitar construir as casas muito próximas às matas, respeitando uma distância de 400 a 500 metros.
- Promover ações de educação em saúde com a sociedade.