Centenas de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem participaram na tarde desta quarta-feira, 25 de outubro, de videoconferência organizada pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, com foco na atualização de conhecimentos sobre o diagnóstico precoce e o tratamento da sífilis. Mais de 100 profissionais de saúde acessaram a videoconferência diretamente no link disponibilizado pela SRS Montes Claros e, em vários municípios, os gestores disponibilizaram aos profissionais auditórios ou salas de reuniões para assistir a videoconferência de forma coletiva.

A tendência de aumento dos casos de sífilis detectada nos últimos dois anos pelo Ministério da Saúde (MS) foi um dos temas abordados durante a videoconferência, levando em conta o aumento da testagem rápida para o diagnóstico da doença. 

25.10.2023.Montes-Claros-sífilis-videoconferência-Taiobeiras

“Durante a pandemia da covid-19 houve redução dos casos de sífilis, em virtude das restrições de acesso da população às Unidades Básicas de Saúde (UBS). Porém, a partir de 2022, houve aumento dos atendimentos nas UBS, bem como a disponibilização de testagem rápida em todos os 54 municípios que compõem a área de atuação da SRS Montes Claros. Com isso, a tendência é que ocorra aumento dos casos diagnosticados de sífilis, levando em conta o incremento das testagens rápidas”, observou a referência técnica em sífilis na SRS Montes Claros, Adriana Barbosa Amaral. 

Na oportunidade, a referência técnica chamou atenção para a importância dos profissionais de saúde ficarem atentos para a notificação compulsória dos casos de sífilis, pois é a partir desses dados que tanto o Ministério da Saúde como a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) viabiliza a adoção de políticas públicas voltadas para o controle da doença. 

“Como se trata de um agravo sexualmente transmissível exclusivo do ser humano, a notificação compulsória de casos, a busca ativa da população vulnerável e o diagnóstico de casos em gestantes, são medidas necessárias e eficazes para conter o avanço da transmissão da doença, inclusive da forma congênita (das mães para os bebês durante a gestação ou amamentação)”, pontuou Adriana Barbosa.

Por sua vez a pediatra Janer Aparecida Silveira Soares, atuante no Serviço Ambulatorial Especializado (SAE), administrado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Montes Claros, reforçou que o aumento de casos de sífilis no Brasil e no mundo constitui um desafio para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que trabalha com a meta de eliminar a transmissão congênita da doença. 

“Atualmente o Brasil apresenta taxa de 9,9 casos de sífilis por mil nascidos vivos. Isso demonstra que temos falha grave nos serviços de pré-natal, devido ao não diagnóstico precoce da doença e tratamento das gestantes e de seus parceiros sexuais”, destacou a médica. 

Para conter essa situação, Janer Silveira observou que o diagnóstico preciso da doença é de fundamental importância com a realização de exames sorológicos e radiológicos, além do tratamento adequado com penicilina e o monitoramento de pacientes, inclusive das gestantes e das crianças, mesmo após o parto.

“Para acabar com a cadeia de transmissão da sífilis é importante a busca ativa e o tratamento dos parceiros sexuais. A meta da OMS de eliminar a transmissão da sífilis congênita para 0,5 casos por mil nascidos vivos no Brasil constitui um sério desafio pois, atualmente, a taxa de transmissão da doença das gestantes para bebês está em 9,9 casos por mil nascidos vivos”, alertou a doutora em ciências da saúde do Serviço Ambulatorial Especializado (SAE) de Montes Claros, Ana Paula Ferreira Holzmann. 

Ao falar sobre a implantação do tratamento da sífilis nas Unidades Básicas de Saúde, Ana Paula Holzman destacou que “o ideal seria que as mulheres adotassem métodos de prevenção antes de engravidar. Nesse contexto, o planejamento familiar é medida importante a ser adotada, porém isso ainda não constitui método adotado pela maioria das famílias brasileiras”, observou. 

Por outro lado, além da atualização contínua dos profissionais de saúde, Ana Paula Holzmann lembrou que as Unidades Básicas de Saúde precisam possuir estrutura adequada para o atendimento das demandas da população, entre eles testes rápidos para diagnóstico de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), bem como medicações para tratamento dos pacientes com exames positivos. Além disso, as UBS precisam ter profissionais capacitados para a realização de busca ativa de pacientes para o tratamento adequado das ISTs, evitando, com isso, a continuidade de transmissão de doenças.  

Por Pedro Ricardo / Foto: Prefeitura Municipal de Taiobeiras