O próximo período chuvoso já se aproxima e a população de Minas Gerais ainda sente os impactos da epidemia de arboviroses que ocorreu no início deste ano e atingiu seu pico nos meses de março, abril e maio. A maior circulação pelo estado dos vírus causadores da dengue, da Chikungunya e da zika contribuíram para um aumento significativo no número de casos, como foi demonstrado no boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), da última segunda-feira (11/9). 

Crédito: Divulgação Funed

A Fundação Ezequiel Dias (Funed), como Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (Lacen-MG), é responsável pelas análises laboratoriais das amostras de arbovírus vindas dos 853 municípios mineiros. Até agosto deste ano, foram mais de 105 mil exames realizados, dentre eles os de biologia molecular e de sorologia. Número esse 450% maior, quando comparado ao mesmo período de 2022. Para a referência técnica do Laboratório de Arbovírus da Funed, Marília Rocha, o período epidêmico se manteve como em anos anteriores, porém o número de casos foi muito maior. “Como os sintomas de dengue, zika e chikungunya são muito parecidos, a conduta adotada pelo Lacen-MG de pesquisar por biologia molecular essas três doenças, independente da principal suspeita, tem sido fundamental no fechamento dos casos e na assistência do paciente. Isso porque o exame de biologia molecular permite a possibilidade de detecção precoce da infecção e a identificação do sorotipo circulante do vírus dengue (DENV). Além disso, a biologia molecular é uma metodologia de alta sensibilidade e especificidade, o que elimina a ocorrência de reações cruzadas. ”, enfatiza. 

Sobre o período chuvoso que se aproxima e a possibilidade de um novo aumento das doenças transmitidas pelos arbovírus, a referência em Arbovírus da Funed sinaliza que, apesar de ter ocorrido em Minas Gerais uma grande epidemia de chikungunya em 2023, ainda há regiões do estado que não notificaram ou que apresentaram poucos casos. “Essas áreas são propícias ao surgimento de novos casos, pois o vírus pode se deslocar e infectar muitas pessoas. Além disso, sempre há uma preocupação com a incidência dos arbovírus, já que o clima e a presença do mosquito transmissor são favoráveis à sua disseminação”, reforça Marília. 

A analista do Laboratório de Arbovírus da Funed, Maira Pereira, também destaca outro aspecto relevante, que é o ressurgimento do sorotipo 3 do vírus da dengue em alguns locais do Brasil. “Há mais de 15 anos esse sorotipo viral não causa epidemias no país. O possível retorno faz acender o sinal de alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença, devido à baixa imunidade da população e a possibilidade de casos mais graves por esse sorotipo”, frisa. Por isso, cuidados básicos como eliminar possíveis criadouros da doença devem ser reforçados ao longo de todo o ano. 

Referência genômica 

Além das amostras de Minas Gerais, a Funed atua como referência no sequenciamento de amostras positivas para dengue e chikungunya provenientes dos estados da Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Piauí, realizando a vigilância genômica de arbovírus desde 2017. Segundo a analista do Laboratório de Sequênciamento Genético da Funed, Talita Adelino,  

neste ano a epidemia de arboviroses no estado de Minas Gerais foi marcada pela cocirculação de chikungunya, dengue sorotipo 1 e dengue sorotipo 2. “Nós realizamos o sequenciamento de amostras positivas provenientes de Minas Gerais para febre amarela (n=1), dengue (sorotipo 1 = 56, sorotipo 2 = 36) e chikungunya (n=136)”, detalha.  

Talita explica ainda que, para as amostras de febre amarela, chikungunya e dengue sorotipo 1, os genótipos circulantes foram os mesmos já detectados nos anos anteriores em MG e demais estados brasileiros (febre amarela: genótipo South American 1; chikungunya: genótipo East-Central-South-African (ECSA); dengue sorotipo 1: genótipo V). Já para as amostras de dengue sorotipo 2, foi observada uma circulação sustentada de dois genótipos diferentes em Minas Gerais: genótipo III (também conhecido como genótipo asiático-americano, que circula aqui há vários anos) e genótipo II, também conhecido como genótipo cosmopolita, que foi detectado no Brasil pela primeira vez em 2022 no estado de Goiás. 

De acordo com o chefe do Serviço de Virologia e Riquetsioses da Funed, Felipe Iani, a Vigilância Genômica é utilizada como forma de prever o comportamento da próxima epidemia e monitorar a introdução de novas linhagens. “Isso contribui para a intensificação das ações de vigilância e para a tomada de decisão de políticas públicas de Saúde com o objetivo de reduzir o impacto de uma possível nova epidemia em Minas Gerais”, destaca. 

Por Assessoria Funed