Entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro, a Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) promoveram a primeira edição do Simpósio Mineiro de Políticas Públicas de Saúde (SIMPOPS 2023), que neste ano teve como tema as "Práticas Integrativas e Complementares (PICS): saberes e práticas nos territórios mineiros".

O objetivo do Simpósio foi criar um espaço de discussão, de reflexão e de troca de experiências sobre políticas públicas temáticas implementadas e pensadas pelos diferentes atores que integram o SUS de Minas Gerais. O evento foi presencial, na sede da ESP-MG, em Belo Horizonte e teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
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Conforme a trabalhadora da ESP-MG e coordenadora do Simpósio, Maria Nogueira, a proposta é que os Simpósios aconteçam todos anos, configurando-se como um espaço democrático para gestores, profissionais da saúde, alunos interessados e a comunidade da Escola para discutir as políticas públicas de saúde. Sobre a escolha das Práticas Integrativas e Complementares para este primeiro Simpósio, a coordenadora explica que a maior motivação se relaciona com a invisibilidade ainda existente sobre esta política, em relação a outras políticas de saúde já consolidadas.

"Muitos gestores nunca ouviram falar que há uma política estadual para esta área, então consideramos importante difundi-la, tendo em vista que a mesma já está completando 15 anos. É essencial que a população conheça as Práticas Integrativas e Complementares e que possam reconhecer as práticas como um caminho complementar para a recuperação e promoção da saúde", pontuou.
Estiveram presentes na mesa de abertura oficial do Simpósio, que aconteceu no dia 31/08, sexta-feira, a Superintendente de Educação e Pesquisa da ESP-MG, Patrícia Oliveira e a Diretora de Promoção da Saúde e Políticas de Equidades da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

A Superintendente da ESP-MG, Patrícia Oliveira destacou a importância do SIMPOPS, pois ao se apresentar as experiências dos municípios, há um grande potencial de promover o fortalecimento dessas práticas nos territórios. Já a Diretora da SES-MG, Daniela Souza Lima, reforçou o trabalho estadual para a implementação das políticas das PICs e salientou que o Simpósio foi uma ótima estratégia para fomentar e dar visibilidade à política no estado.

Após a abertura formal do Simpósio, a professora, enfermeira-obstetra, historiadora e doutora em ciências da Saúde da Fundação Oswaldo Cruz e Universidade de Évora (Portugal), Tânia Almeida, fez uma apresentação sobre as Práticas integrativas e complementares e a saúde da mulher. A pesquisadora destacou que, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, 60% dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) é composto por mulheres e que dentro deste grupo, 65% são mulheres negras (pretas e pardas) e que essas cidadãs são as principais cuidadoras da família.
No entanto, essas mesmas mulheres muitas vezes não conseguem cuidar de si mesmas, em razão da falta de tempo e sobrecarga de trabalho, mas que as PICs se apresentam como uma possibilidade para auxiliar nesta questão. Nesse sentido, a professora também apresentou alguns exemplos sobre a aplicação das PICs com o público feminino como forma de minimizar os agravos de saúde e o excesso de medicalização.

Experiências e aprendizados

O Simpósio foi marcado por palestras, debates, troca de conhecimentos, práticas e exibição de 24 vídeos enviados por profissionais das PICs de várias regiões do estado, que apresentaram iniciativas implementadas em seus municípios. Nesses dois dias de trabalhos, o SIMPOPS contou com a participação de cerca de 130 profissionais, de mais de 60 municípios e também com referências da área que trabalharam com a temática.

O primeiro dia de atividades foi marcado por palestras e debates. Já no segundo dia, além das discussões, os participantes puderam experienciar algumas das práticas integrativas, como a aromaterapia, treinamento perfumado, yoga, escalda pé, dança circular e Tai Chi Chuan.

O compartilhamento de experiências e aprendizados também deram o tom do Simpósio e uma das participantes que teve a oportunidade de aprender e também ensinar nesses dias, foi a senhora Dalila dos Santos, de 82 anos, que é Freira, terapeuta e moradora de Belo Horizonte. Ela relata que seu campo de atuação é a educação e saúde voltada para as pessoas marginalizadas e comentou que trabalha com as pessoas em situação de rua.

"Acho muito importante incluir as Práticas Integrativas e Complementares no SUS, porque as pessoas que mais necessitam terão chance de fazer esses tratamentos, porque é um cuidado não apenas com parte corporal, mas também com a mente", ressaltou. A senhora Dalila também nos contou que gostou muito da organização do evento e que ficou encantada com os assuntos abordados no Simpósio e enfatizou que ficou muito feliz em ter participado.

Já a nutricionista da equipe multiprofissional do município de Raul Soares, a Yara Veríssimo Fiorovante, também participou do Simpósio e enviou um vídeo, em que compartilhou sua experiência enquanto profissional de saúde com as PICs no atendimento de pacientes. Ela relatou que seu município está começando a implementar as Pics e iniciaram com o trabalho com auriculoterapia destinada aos pacientes oncológicos.

Yara Veríssimo comenta que os pacientes saem de Raul Soares e vão fazer o tratamento em Muriaé, cidade referência para esse procedimento, e quando retornam de viagem, chegam cansados, com o corpo debilitado e com muito enjoo. Então a profissional vai até a residência desses pacientes e realiza o tratamento com a auriculoterapia e de acordo com ela, os resultados tem sido muito positivos. "Nossos pacientes têm relatado melhora nos sintomas e também a diminuição no uso dos medicamentos. Eles nos dizem que gostam muito do tratamento e nem pensam em parar", conta.
As PICs

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) são reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como parte da Medicina Tradicional e Complementar (MTC), que engloba diversas formas de cuidado à saúde que existem há milhares de anos em diferentes culturas e regiões do mundo.
No Brasil, as PICS fazem parte do SUS por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), criada em 2006 pelo Ministério da Saúde. Atualmente, o SUS oferece, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de PICS à população. Os atendimentos começam na Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS, mas podem estar presentes em todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde.

As PICs devem ser complementares e integradas aos tratamentos convencionais ofertados pelo SUS, podendo potencializá-los e reduzir o uso de medicamentos e melhorando a qualidade de vida. Algumas das práticas mais conhecidas: acupuntura, a fitoterapia, a homeopatia, o reiki, a Yoga, e a terapia floral.
Em Minas Gerais, as PICS foram implementadas como política pública em 2009, pela Resolução SES-MG nº 1.885. Desde então, os procedimentos têm se fortalecido como um sistema complementar à medicina ocidental, contribuindo para uma visão ampliada do processo saúde/doença e da promoção do cuidado integral, além de proporcionarem autonomia dos sujeitos, empoderamento do usuário e valorização do saber popular.

Atualmente, o SUS oferece, de forma integral e gratuita, 29 práticas integrativas à população. Para mais informações, acesse: www.saude.mg.gov.br/pics

Por Vívian Campos (ASCOM ESP-MG)