O Serviço de Doenças Parasitárias (SDP) da Fundação Ezequiel Dias (Funed), por meio do Laboratório de Entomologia, ao longo deste primeiro semestre de 2023 realizou ações para controle de agravos como febre maculosa, leishmanioses e as arboviroses. Elas contaram com a parceria da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e tiveram como foco a atuação na vigilância epidemiológica, por meio do trabalho de vigilância entomológica e controle vetorial, de forma a diminuir e prevenir novos casos das doenças ou até mesmo prever epidemias que possam vir a ocorrer.

Wendy Cristina de Jesus Silva | Funed

Foram realizadas capacitações relacionadas às arboviroses e à febre maculosa, além de levantamento entomológico para vigilância e controle das leishmanioses. Ana Lúcia Pedroso, referência técnica do Laboratório de Entomologia da Funed, falou sobre a importância do protagonismo da Funed nas capacitações. “Os treinamentos geralmente têm resultados positivos, seja pela sensibilização dos profissionais quanto à importância das ações de vigilância epidemiológica e da relevância de um diagnóstico em tempo oportuno e correto para a saúde da população, ou para suprir a constante necessidade de capacitar os novos técnicos que atuam nesse cenário. Isso é necessário tendo em vista que muitas dessas atividades são feitas por profissionais do Ministério da Saúde (antiga Funasa), que estão próximos da aposentadoria, e pela grande rotatividade de servidores municipais que atuam no combate das endemias”, completa Ana Lúcia. A referência técnica explicou ainda como aconteceu cada ação promovida nos municípios mineiros.

Febre amarela

As ações relacionadas à febre amarela foram decorrentes de um óbito humano pela doença no município de Monte Santos de Minas. Ao todo, sete municípios participaram dos trabalhos: Monte Santo de Minas, Arceburgo, Itamogi, São Sebastião do Paraiso, Guaranésia, Jacuí e São Pedro da União. Em 21 dias de trabalho em campo, foram realizadas atividades de vigilância de epizootias de Primatas Não Humanos (PNH) e vigilância entomológica por meio da captura de vetores para confirmação do local provável de infecção e fechamento do caso de febre amarela ocorrido no município.

Após as coletas em campo, os vetores (mosquitos) são enviados à Funed para identificação das espécies e para confirmar, por ensaios moleculares, se eles estão infectados, bem como se há circulação do vírus amarílico no território investigado. No caso da constatação de epizootias de PNH, a necropsia é feita in loco pela equipe de Entomologia da Funed. As amostras das vísceras são coletadas e também encaminhadas à Fundação para detecção molecular para febre amarela.

Leishmanioses

No que envolve as leishmanioses, a equipe de Entomologia atua em conjunto com a Coordenação de Zoonoses e Vigilância de Fatores de Risco Biológicos da SES-MG para realizar o levantamento entomológico, atendendo às premissas do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral em municípios que são silenciosos em relação à notificação de casos, bem como em municípios que necessitam de investigação de casos suspeitos e confirmados.

Até o momento, três Unidades Regionais de Saúde (URS) participaram das ações, sendo o trabalho de levantamento entomológico realizado em oito municípios, dos 32 previstos para este ano. Municípios trabalhados neste primeiro semestre: Santo Antônio do Itambé, Queluzito, Caranaiba, Santana dos Montes, Senhora dos Remédios, Barão de Cocais e Ressaquinha e Carmésia. Também foi feita uma investigação de caso de leishmaniose visceral na Aldeia Pataxó Kãnã Mihay, localizada no município de Carmésia. Nessa aldeia indígena, o objetivo da investigação foi verificar se havia a presença do vetor da doença. Após a captura, os flebotomíneos são encaminhados ao Laboratório de Entomologia do SDP onde foi realizada a identificação taxonômica das espécies capturadas e a verificação da presença do vetor da doença.

Job Alves, analista e pesquisador no Serviço de Doenças Parasitárias (SDP), comentou sobre a ação relacionada à leishmaniose. “A identificação da presença de flebotomíneos, conhecidos popularmente com mosquito palha, em uma região, indica que o local pode ser receptivo ao parasito Leishmania infantum, agente etiológico da leishmaniose visceral”, detalha. Job exemplifica ainda que, se um cão que testou positivo para leishmaniose visceral chega em uma cidade que possui vetores flebotomíneos, há um risco de transmissão da doença para humanos.

“Nos locais onde não foi detectada a presença do vetor, essas ações também são de grande importância para alertar os cidadãos, principalmente quando é possível realizar palestras sobre a leishmaniose, como foi feito por nós no município de Ressaquinha”, comenta o pesquisador. Por fim, Job explica que a transmissão da leishmaniose visceral é extremamente difícil de ser controlada, pois o vetor se multiplica em matéria orgânica e o parasito pode infectar, a princípio, qualquer mamífero, doméstico ou silvestre. “Porém, se a transmissão for detectada no início em um município, é possível impedir que a doença se espalhe. Sendo assim, não podemos negligenciar os municípios ainda sem transmissão, uma vez que essa doença está disseminada em Minas Gerais e no Brasil”, completa.

Febre maculosa

O Laboratório de Entomologia, em parceria com o Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose da Funed e com a SES-MG, ministrou o Curso Prático para Profissionais na Atuação de Vigilância Epidemiológica em Ambientes de Ocorrência da Febre Maculosa (FM) e outras Riquetsioses para Unidades Regionais de Saúde do Estado. Em 2022, o treinamento também foi feito em dez Regionais, contemplando 88 municípios. Neste primeiro semestre, nove municípios da Regional de Saúde de Pouso Alegre já foram treinados e, entre os dias 12 e 16 de junho, os municípios da Regional de São João Del Rei recebem a capacitação. O curso conta com uma parte teórica, ministrada pela referência técnica do Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose, Ana Íris Duré, e pela referência técnica do Laboratório de Entomologia, Ana Lúcia Pedroso. Nessa parte, é abordado o ciclo da doença, o modo de transmissão, o diagnóstico laboratorial, biossegurança, o acondicionamento e o transporte correto das amostras para o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG). A parte prática, realizada em campo, envolve a coleta de vetores no solo e em hospedeiros domésticos.

Arboviroses

Outro treinamento ofertado foi o Curso Teórico e Prático de Identificação Larvária e Contagem de Ovos para o Gênero Aedes sp., voltado para profissionais que atuam no controle vetorial da dengue e demais arboviroses urbanas. Na capacitação, os agentes de endemias municipais que realizam o Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti (LIRAa) são treinados para realizar a identificação taxonômica de formas imaturas do gênero Aedes sp. e para fazer a contagem de ovos desse gênero em armadilhas de ovitrampas utilizadas no controle da dengue. Até o momento, o treinamento foi realizado para o município de Itabirito e Matozinhos.

No segundo semestre, a previsão é de que mais capacitações sejam ministradas. Entre elas estão o Curso Prático de Identificação Taxonômica e Parasitológico de Triatomíneos, o Curso Prático de Captura de Flebotomíneos, Vetores das Leishmanioses e o Curso Prático de Instalação de Ovitrampas para Vigilância Entomológica de Mosquitos das Espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus. Todos os treinamentos oferecidos são uma iniciativa da Funed, enquanto o planejamento é feito em parceria com a SES-MG.

Por Ana Luíza Adolfo, sob supervisão de Ana Paula Brum (FUNED)