Várias instituições ligadas ao segmento da saúde estão encerrando o mês de abril, em que se comemora o Dia Mundial da Doença de Chagas, com a realização de várias ações em Montes Claros, voltadas para a mobilização de profissionais de saúde e a população em geral para os cuidados com um dos agravos de maior importância no mundo.

Na quarta e quinta-feira, 26 e 27 de abril, a Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, com apoio da Superintendência Regional de Saúde (SRS), Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Grupo de Mulheres do Brasil, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Centro São Paulo-Minas Gerais para Tratamento da Doença de Chagas (SaMi-Trop), está realizando, no auditório das Faculdades Pitágoras, capacitação de médicos e enfermeiros atuantes nos serviços de Atenção Primária à Saúde. 

Projetos investem no diagnóstico precoce da doença de Chagas no Norte de Minas - Foto: Projeto SaMi-Trop

Sexta-feira, 28 de abril, entre 8 e 13 horas na Praça Dr. Carlos, no centro de Montes Claros, profissionais da saúde vão mobilizar a população alertando sobre os cuidados para com a doença de Chagas. Além do repasse de orientações sobre a doença e o vetor, as pessoas interessadas terão a oportunidade de realizar exames de aferição da pressão e para diagnosticar a doença, além do acesso a orientações jurídicas. 

A coordenadora de vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes avalia que a mobilização de profissionais de saúde e da população em geral “é muito importante por se tratar de uma doença silenciosa, não apenas por seu curso clínico lento e, muitas vezes sem apresentar sintomas”

A doutora em parasitologia e professora de pós-graduação da Unimontes, Thalita Maria Vieiratambém reforça a importância do tema ser abordado de forma ampla nos diversos segmentos da sociedade, levando em conta a dimensão que o problema tem na saúde pública mundial. “Estou realizando uma exposição sobre os vetores da doença de Chagas, para que os profissionais da saúde possam aprofundar os conhecimentos e saber informar a população sobre o manejo ideal”, explica a professora.

Tratamento

 Para viabilizar o diagnóstico e tratamento precoce da doença de Chagas, a referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde da SRS Montes Claros e pesquisadora do SaMi-Trop, Renata Fiúza Damasceno, explica que no Norte de Minas estão sendo implementados três projetos. Um deles é o Projeto Cuida Chagas – Comunidades Unidas para a Inovação, Desenvolvimento e Atenção para a doença de Chagas. Trata-se de uma iniciativa internacional que contempla em caráter pioneiro os municípios de Janaúba e Montes Claros. O objetivo é testar, tratar e cuidar de pessoas diagnosticadas com a doença na América Latina. 

A iniciativa está sendo conduzida pelo Instituto Nacional de Infectologia (INI), integrante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Até 2025 o Instituto pretende consolidar modelos de implementação para a doença de Chagas, incluindo a utilização de testes rápidos eficazes para diagnóstico e formas de tratamento de pacientes.

Por meio da SRS Montes Claros a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) também está envolvida na implementação do Projeto, que conta com a participação da Fundação para o Desenvolvimento Científico Tecnológico Saúde (Fiotec), que atua em parceria com instituições de saúde sediadas na Bolívia, Colômbia e Paraguai. O projeto envolve ainda a Aliança Global para Diagnósticos (FIND), com financiamento da Unitaid, agência global ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS) e cofinanciado pelo Ministério da Saúde.

Os municípios de Espinosa e Porteirinha, também integrantes da área de atuação da SRS, receberam em fevereiro deste ano equipes técnicas da SES-MG, do Ministério da Saúde e da Fiocruz, visando a implementação do Projeto Integra Chagas Brasil. As duas localidades estão entre os cinco municípios prioritários para a execução do projeto estratégico, que tem o objetivo de ampliar o acesso da população à detecção e tratamento da doença de Chagas crônica nos serviços de atenção primária à saúde. 

Em caráter pioneiro, a Fiocruz utilizará o Kit NAT Chagas, teste diagnóstico molecular desenvolvido desde 2012 e aprovado no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O Integra Chagas é coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas em parceria com a Universidade Federal do Ceará. Além de Espinosa e Porteirinha, a iniciativa contemplará os municípios de São Desidério, sediado na Bahia; Iguaracy, em Pernambuco; e São Luís de Montes Belos, em Goiás. 

“Outro projeto que também está sendo desenvolvido no Norte de Minas é o “Implementa SaMi-Trop. Ele visa identificar as barreiras relacionadas ao diagnóstico e tratamento de pacientes com doença de Chagas, e implementar intervenções baseadas em evidências para permitir que a Atenção Primária à Saúde forneça o cuidado integral a esses pacientes. Estão participando desse projeto os municípios de Francisco Dumont e Verdelândia”, explica Renata Damasceno.

A doença

A doença de Chagas é potencialmente fatal, causada pelo microrganismo Trypanosoma cruzi. Ela é transmitida aos seres humanos por insetos conhecidos como barbeiros, transfusão de sangue ou transplante de órgãos; consumo de alimentos contaminados ou durante a gravidez e o parto. 

Essa doença é quase 100% curável se detectada e tratada precocemente. Até 30% dos pacientes com a doença desenvolvem problemas cardíacos, e até 10% apresentam problemas digestivos, neurológicos ou mistos. O diagnóstico e tratamento desta doença são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“Na América Latina, cerca de 70 milhões de pessoas estão sob risco de infecção e 104 mil podem morrer por ano pela doença de Chagas. Para vencer essa realidade, é urgente integrar as políticas de combate à doença, e garantir a oferta de cuidados nas Unidades Básicas de Saúde ou Postos de Saúde, que são os serviços de saúde mais próximos da vida das pessoas”, pontua Renata Damasceno.

 

Por Pedro Ricardo