As arboviroses, como bem se sabe, constituem um ponto de atenção que movimenta constante trabalho das equipes de gestão municipal, seja na organização e logística da execução da vigilância, seja na conscientização da população para compreender a importante função que têm os agentes de endemias ao adentrarem uma residência.

Pôde-se ver, nas últimas semanas, sinais de alerta quanto a aumentos de casos de arboviroses no Sul de Minas, como a dengue e a chikungunya. Somente nas últimas 4 semanas epidemiológicas, foi registrada nos municípios de abrangência da Superintendência Regional de Saúde de Varginha (SRS) uma incidência geral de 22,4% de casos de dengue. Se comparada com as 4 primeiras semanas epidemiológicas do ano, onde a incidência geral marcava 7,4%, nota-se a grande elevação. E, em busca de novas alternativas que otimizem o serviço de rotina de combate a essas doenças, profissionais têm se debruçado sobre maneiras de qualificar esse trabalho.

“É um trabalho minucioso que as equipes municipais de endemias realizam para que se tenha um cenário real e tangível, sobre o qual possam ser elaboradas estratégias de combate mais efetivas”, afirma Roselaine Silva, referência técnica do Controle Vetorial da SRS.

Um exemplo de inovação neste sentido foi o caso de Varginha. O município registrou, em 2022, mais de 600 casos notificados de dengue em toda a sua extensão, sendo 37 confirmados. Em busca de aprimoramento de estratégias e da ação dos agentes, o município desenvolveu, através de uma parceria entre Vigilância Ambiental e Departamento de Tecnologia da Informação da Prefeitura, um aplicativo que traz todos os campos para preenchimento do boletim diário por meio dos agentes. A aplicação desenvolvida utiliza os bancos de dados do sistema ArcGIS e são alimentados pela aplicação ArcGIS Survey123, disponível gratuitamente na biblioteca de aplicativos Play Store para smartphones com sistema operacional Android.

Créditos: Divulgação Secretaria Municipal de Saúde de VarginhaSegundo Vânia Aparecida Silvério Nobre, encarregada do Setor de Vigilância Ambiental de Varginha, a implantação do aplicativo, iniciada no começo de 2022, trouxe facilidades em diversos aspectos na rotina dos agentes de endemias da cidade. Uma delas foi a possibilidade de se atender a uma exigência do Ministério Público acerca da necessidade dos agentes registrarem eletronicamente seus pontos. Através do aplicativo, cada agente consegue registrar seu ponto com a coleta da localização feita pelo sistema GPS do smartphone, dando fim ao problema logístico de cada agente necessitar comparecer a um prédio público para este fim, o que se faz inviável tendo em vista a dimensão do município e as diferentes localidades cobertas por cada agente.

Outro ponto destacado por Vânia, que trouxe importantes benefícios ao trabalho das endemias, foi a otimização adquirida através da praticidade de se poder realizar a conferência do serviço de maneira mais rápida por parte dos supervisores, já que não se faz mais necessário realizar a somatória manual de todos os serviços e conferir um a um no papel. “A quantidade de erros tende a diminuir e, de quebra, reduz consideravelmente o uso de formulários em papel, o que traz vantagens na organização e se apresenta como uma alternativa mais sustentável”, afirma Vânia.

Com a aplicação, é possível também realizar a geração de mapas de calor na cidade, pois com a coleta de localização GPS do serviço efetuado e sua classificação de risco - novidade implementada no aplicativo, até então inexistente no formulário de papel - é possível identificar de maneira mais rápida locais com risco mais elevado para a proliferação do mosquito. Para tal, foi acrescido ao formulário um campo de classificação de risco.

Vânia explica que o funcionamento técnico do aplicativo é bastante simples. “A coleta de dados efetuada pelos agentes é igual ao formulário do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), pois a aplicação foi desenvolvida com base no mesmo, acrescida da classificação de risco”.

Varginha possui, atualmente, 59 agentes de endemias em campo percorrendo os mais de 71.400 imóveis da cidade. O sistema foi implantado para uso de todos os agentes e supervisores em atividade.

“O uso do celular e do aplicativo trouxe para nós muita agilidade na conferência e no monitoramento do trabalho em tempo real, além de reduzir o peso da bolsa. Outra vantagem é que os dados das amostras enviadas para laboratório são cadastrados ali na própria vistoria, completando o formulário”, relata Jorge Luiz Azevedo Carvalho, supervisor da Equipe de Ponto Estratégico do município e usuário do sistema.

Por Tânia Corrêa