Iniciada dia 17 de agosto, a Campanha Nacional de Vacinação Antirrábica já imunizou mais de 56,6 mil animais em 54 municípios que compõem a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS). As ações estão sendo implementadas pelas secretarias municipais de saúde e, num prazo de 45 dias, tem previsão de alcançar mais de 232 mil cães e gatos.

A raiva é uma doença infecciosa viral aguda que acomete mamíferos, inclusive o homem. É uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós exposição ao vírus. Trata-se de uma doença passível de eliminação no seu ciclo urbano pela vacinação de cães e gatos, além da existência de medidas eficientes de prevenção, como a imunização humana; a disponibilização de soro antirrábico humano e a realização de bloqueios de foco.

A coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes explica que, para o êxito da campanha, todos os municípios receberam orientações técnicas, inclusive em relação às providências que devem ser tomadas para que seja alcançada a meta de vacinação de 100% dos animais existentes em cada localidade.

“Devido à pandemia da covid-19, os municípios devem adotar várias medidas de segurança, entre elas o uso de luvas e máscaras por parte dos aplicadores de vacina; higienização constante das mãos com água e sabão; manutenção do distanciamento social; evitar aglomerações e o contato físico com o proprietário dos animais e outras pessoas”, orienta a coordenadora.

“Dependendo da situação de cada município a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) também recomenda que os municípios implementem a Campanha de Vacinação de casa em casa, evitando com isso a ocorrência de aglomerações de pessoas e assegurando que todos os animais sejam vacinados dentro do prazo previsto”, acrescenta Agna Menezes.

Entre os 54 municípios que integram a área de atuação da SRS de Montes Claros os que têm previsão de vacinar maior número de animais são: Montes Claros (55 mil 911); Janaúba (12 mil 808); Bocaiúva (11 mil 363); Francisco Sá (10 mil 202); Rio Pardo de Minas (9.476); Porteirinha (7 mil 967); Jaíba (7 mil 119); Taiobeiras (6 mil 807); Salinas (6 mil 225); Espinosa (6 mil 623) e Coração de Jesus (6 mil 088).

Transmissão

A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura. A doença também pode ser transmitida pela arranhadura ou lambedura desses animais.

O período de incubação é variável entre as espécies, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no ser humano, podendo ser mais curto em crianças. O período de incubação está relacionado à localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou tipo de contato com a saliva do animal infectado; da proximidade da porta de entrada com o cérebro e troncos nervosos; concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.

Nos cães e gatos a eliminação de vírus pela saliva ocorre de dois a cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste durante toda a evolução da doença (período de transmissibilidade). A morte do animal acontece, em média, entre cinco e sete dias após a apresentação dos sintomas.

Não se sabe ao certo qual o período de transmissibilidade do vírus em animais silvestres. Entretanto, sabe-se que os morcegos podem albergar o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente.

Sintomas

Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nesse período, o paciente apresenta mal-estar geral; pequeno aumento de temperatura; anorexia; cefaleia; náuseas; dor de garganta; entorpecimento; irritabilidade; inquietude e sensação de angústia.

Pode ocorrer inchaço, aumento da sensibilidade ao tato ou à dor, frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento ou pressão no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura e alterações de comportamento.

A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como: ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes; febre; delírios; espasmos musculares involuntários, generalizados ou convulsões.

Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando sialorreia intensa (“hidrofobia”). Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. Observa-se, ainda, a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia.

O paciente se mantém consciente, com período de alucinações, até a instalação de quadro comatoso e a evolução para óbito. O período de evolução do quadro clínico, depois de instalados os sinais e sintomas até o óbito, é, em geral, de dois a sete dias.

Tratamento

A confirmação laboratorial em vida, ou seja, o diagnóstico dos casos de raiva humana pode ser realizado pelo método de imunofluorescência direta, em impressão de córnea, raspado de mucosa lingual ou por biópsia de pele da região cervical.

A sensibilidade dessas provas é limitada e, quando negativas, não se pode excluir a possibilidade de infecção. A realização da autópsia é de extrema importância para a confirmação diagnóstica.

Quando a profilaxia antirrábica não ocorre e a doença se instala, pode-se utilizar um protocolo de tratamento da raiva humana, baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais e outros medicamentos específicos. Entretanto, é importante salientar que nem todos os pacientes de raiva, mesmo submetido ao protocolo sobrevivem.

Por Pedro Ricardo Barbosa