Um medicamento com eficácia comprovada, que possa tratar ou curar as pessoas da covid-19. Esta é a grande expectativa da população, de médicos, de cientistas e demais profissionais de saúde de todo o mundo desde o início das infecções pelo novo coronavírus, no final do ano passado. No Brasil, o primeiro caso foi notificado no mês de março deste ano. Desde então, algumas drogas vêm sendo testadas e estudadas em todo o mundo, mas ainda sem nenhuma ação comprovada e, principalmente, segura, de combate à doença. Porém, o desenvolvimento de um novo fármaco é algo longo e em casos de pandemia, como a da covid-19, uma estratégia usada é o reposicionamento de fármacos. Essa técnica busca testar medicamentos que já existem para avaliar sua eficácia contra a covid-19.
Com o objetivo de identificar quais medicamentos existentes no mundo estavam sendo testados para tratamento da covid-19 e em que fase de estudo se encontravam, o Governo de Minas, por meio do pesquisador Júlio César Moreira Brito, da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Fundação Ezequiel Dias (Funed) e o farmacêutico William Gustavo Lima, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e atualmente pós-graduando da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizaram uma busca sistemática nas publicações existentes no mundo, sobre o tema. O estudo foi feito em colaboração com pesquisadores da Universidade de Carleton, Ottawa, Ontário, Canadá. “Havia vários estudos isolados sendo feitos em diferentes países, por isso achamos importante reunir os mais relevantes em uma única publicação, que poderá orientar e contribuir com outros cientistas nessa busca de um medicamento contra o SARS-Cov-2”, explica Júlio Brito.
Essa busca sistemática é feita com critérios, segue normas estabelecidas internacionalmente e tem como objetivo cobrir o maior número possível de trabalhos que estão em diferentes bases de dados em todo o mundo. Os artigos encontrados e selecionados foram resumidos em tabelas e analisados criticamente. Após buscas nos bancos de dados no dia 23 de março de 2020, 12 artigos científicos relevantes foram identificados como elegíveis para a revisão e 21 estudos clínicos em diferentes fases estavam sendo feitos.
Por que reposicionar fármacos?
O desenvolvimento de um medicamento é um processo rigoroso e que envolve muitas fases, longo tempo e altos custos. Desde as etapas de pesquisa, testes, ensaios clínicos, liberação das agências reguladoras até o medicamento estar disponível para uso do paciente pode levar alguns anos. Assim, uma estratégia para encurtar esse tempo e reduzir esse custo é o uso de medicamentos já existentes, o que é conhecido como reposicionamento de fármacos. “Reposicionar um medicamento traz uma resposta bem mais rápida do que desenvolver um novo fármaco. Mas isso não significa que seja uma medida simples, pois ela também depende de estudos e testes para que a nova indicação da droga seja segura para o paciente. Porém, o ganho que se tem em questão e custos é muito interessante, principalmente em questões de pandemia”, explica Júlio.
A pesquisa apontou um maior número de estudos de medicamentos antivirais e antitumorais para a covid-19, com destaque para Lopinavir, Ritonavir, Umifenovir, Ganciclovir, Oseltamivir e Remdesivir que já estão em estágios avançados em estudos clínicos. Outros medicamentos que também estavam sendo estudados com potencial efeito contra o SARS-CoV-2 e chamaram atenção foram a Colistina, o Bevacizumab e a Talidomida.
Para os autores, além do retorno positivo do trabalho, chamou atenção a quantidade de estudos que já estavam sendo realizados logo no início da pandemia. “Confesso que fiquei emocionado ao ver como a comunidade científica tem se mobilizado e unido esforços para combater esta pandemia. Outro ponto positivo é que a revista publicou o artigo como Open Access (acesso livre) sem cobrança de nenhuma taxa para os autores. Isso foi muito gratificante e mostra a importância de todos terem acesso a esses dados”, declara Júlio. O estudo de revisão sistemática foi intitulado “O potencial de reposicionamento de medicamentos como estratégia de curto prazo para o controle e tratamento de covid-19 (SARS-COV-2)” e pode ser lido na íntegra aqui.
Legenda do gráfico: Número de medicamentos por classe terapêutica que apresentaram evidências quanto a atividade clínica ou pré-clínica contra o SARS-Cov-2.