O 1º encontro virtual, com o tema “Invenções antimanicomiais em tempos de isolamento social”, realizado pelo colegiado regional de saúde mental da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Sete Lagoas, teve como objetivo discutir experiências em saúde mental durante a pandemia da covid-19, nessa quarta-feira (24/6).

A psicóloga da prefeitura municipal de Sete Lagoas Fabrícia Cristine Freitas expôs os desafios da prática antimanicomial nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Freitas, que é militante da saúde mental desde 1998, reforçou a importância da prática antimanicomial do CAPS e do afeto no cuidado com o portador de sofrimento mental visto que, muitas vezes, o atendimento ao paciente vai além do CAPS, sendo necessário um trabalho de atendimento à família e, também, fomentar a conscientização de toda a sociedade. “Às vezes é difícil falar da saúde mental por uma não aceitação. Ainda são poucos anos da reforma psiquiátrica que, infelizmente, tem sofrido com uma ameaça de retrocesso”, pontuou.

Freitas observou que nesse contexto da pandemia, o profissional e as equipes de saúde também precisam ser cuidados e devem estar atentos à própria saúde mental. “Um dos grandes desafios que a gente percebe é manter essa equipe trabalhando de forma engajada. Essa equipe precisa de conversar, dividir uns com os outros as tarefas do dia-a-dia e investir não só no cuidado ao paciente, mas também ao colega”, explicou.

Créditos: Nayara Souza

O atendimento universal e a busca de um atendimento igualitário para as minorias sociais foram observados, também, na apresentação da psicóloga do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) da prefeitura municipal de Inimutaba Luciana Morais que falou sobre a acolhida de cuidados e as políticas de equidade na Atenção Básica.

Morais detalhou o trabalho realizado em comunidades indígenas, quilombolas e de ciganos conscientizando sobre os direitos de acesso ao atendimento à saúde para esses povos, projeto que tem desenvolvido na tese de mestrado em Saúde, Sociedade e Ambiente pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). “Estamos mantendo o acompanhamento telefônico a essas comunidades e ao público LGBT, com uma atenção especial sempre que possível, principalmente para reforçar que eles têm direito ao atendimento à saúde, inclusive à saúde mental”, frisou.

Com a mesma sensibilidade de buscar transpor as limitações impostas pelo cenário atual e de minimizar os impactos do isolamento social, especialmente, para os idosos, a fonoaudióloga e terapeuta ocupacional Cíntia Alves de Oliveira (do Centro Dia para Idosos) partilhou as estratégias que foram implantadas, no cento que administra, para manter a conexão social entre os participantes. Foram inseridas diversas ações: planejamento de atividades diárias; bingos virtuais e até serenatas nas portas das casas para que os idosos continuem se sentindo integrados à rotina social.

“Pensamos em estratégias para esses idosos não ficarem sem atividades, pois eles já estavam acostumados com diversas atividades no Centro Dia. Sabemos que o isolamento social é prejudicial para todos, principalmente, para o idoso tanto no aspecto físico quanto no mental, por isso a importância de desenvolver essas atividades. Pensamos em manter o isolamento físico, importante nesse momento, mas continuar com o contato social”, observou a fonoaudióloga e terapeuta.

Dentre os projetos desenvolvidos estão a realização de ligações telefônicas; chamadas de vídeos envolvendo os familiares nas dinâmicas do cuidado e a produção de bordados com o intuito de se fazer uma colcha ao final da pandemia, simbolizando a união durante esse tempo desafiador. 

Outro projeto desenvolvido é o “Cartas Inesperadas” para fomentar a troca de cartas entre os idosos e os estudantes de Marabá, no estado do Pará, promovendo um contato intergeracional. “Porque os idosos querem contar a história deles e, algumas vezes, existem limitações de pessoas para ouvir”, explicou a fonoaudióloga que ainda pontuou que “o importante é criar caminhos para que os idosos sintam seu protagonismo e não se sintam em completo isolamento social”, finalizou.

Ao final do encontro virtual, a referência técnica de saúde mental da SRS de Sete Lagoas e psicóloga Clarice Fonseca observou a relevância da realização dessa reunião do colegiado de saúde mental para gerar troca de experiências e criar um espaço para os profissionais conversarem sobre as inquietações que todos têm vivido no ambiente da pandemia. Ela destacou que, nesse sentido, é importante que “os municípios que têm serviços de saúde mental continuem garantindo o atendimento às demandas de saúde mental e que os profissionais possam trabalhar com segurança”, concluiu.

 

Por Nayara Souza