Desde 29/12 do ano passado até o momento, Minas Gerais realizou testes em 91% de um conjunto de 15.292 diagnosticados como suspeitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), o que equivale a 13.877 exames, dos quais 8.586 por biologia molecular (PCR), que é o teste mais confiável. Os números demonstram que não há relação entre o controle da situação da epidemia da covid-19 com um hipotético descontrole na situação da SRAG. O percentual de casos que não teve amostragem processada se refere a situações em que os municípios não conseguiram realizar coleta de forma adequada ou em tempo hábil.

Crédito: Marcus FerreiraSegundo a médica infectologista e coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs-Minas), Tânia Marcial, os números de casos testados não permitem vincular eventual subnotificação de covid-19 com elevação acentuada SRAG. “O aumento da Síndrome Respiratória Aguda Grave tem maior vínculo com o comportamento do profissional de saúde, que, nesse contexto, está mais propenso a fazer as notificações, pois não há como saber, por exemplo, se foi o coronavírus que complicou uma doença de base, uma condição que o paciente já possuía”, analisa.

Ainda de acordo com a coordenadora, a obrigatoriedade de notificação da SRAG para realização de exames influi diretamente nos registros desses casos. “Como para coletar o exame é obrigatório fazer a notificação, as pessoas começaram a notificar muito mais do que no passado. Por uma questão da necessidade de se fazer o exame e por estarem mais sensibilizados. Todo caso de SRAG é obrigatório coletar o exame, de tipo PCR. E não há falta de insumos para testagem das Síndromes Respiratórias Agudas Graves”, pontua.

Isso significa, prossegue Tânia, que, geralmente, a pneumonia, insuficiência respiratória e septicemia não são agravos que têm notificação compulsória, o que justifica a baixa notificação de casos nos outros anos. “Este ano, devido à pandemia da covid-19, esses casos estão sendo notificados com maior frequência, mesmo não havendo obrigatoriedade de notificação”, adiciona. Ela ainda informa que, nesse contexto, a conduta dos profissionais é elemento chave para a interpretação da epidemia. “O elemento comportamental, dentro da avaliação dos profissionais, não pode ser desconsiderado quando se analisa o período da pandemia”.

Quanto às notificações, a coordenadora esclarece que há dois sistemas: o E-SUS-VE, que é destinado ao registro de casos leves e assintomáticos que tenham feito exame; e o Sisvep-Gripe, que notifica a SRAG. Ambos são analisados para contabilizar o total dos casos confirmados no Estado. “Quando se faz a coleta no sistema público de saúde, há o registro no sistema dos laboratórios, chamado GAL. Posteriormente, a equipe que prepara o Boletim Epidemiológico trabalha sobre os dados lançados, insere o que é informado pelos laboratórios privados e faz o cruzamento com a planilha dos casos notificados de SRAG”.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) tem feito contato com os gestores municipais para que se promova a atualização do banco de dados a fim de evitar eventuais divergências nos números. “Nós entramos em contato com os municípios para que façam o lançamento desses casos no sistema. Em municípios de grande porte, como Belo Horizonte e Contagem, não há problemas nesse fluxo. Mas há algumas situações em que temos que sensibilizar o gestor municipal para que haja atualização. Nosso objetivo é que todos os municípios possam lançar, de forma mais atualizada possível, os dados no Sivep-Gripe. Por isso, temos discutido algumas medidas de incentivo para que os municípios possam acelerar esse processo de lançamento das informações”, afirma.

Tempo para testagem

Levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) demonstra o tempo necessário para a liberação dos resultados em sistema, após a chegada das amostras aos laboratórios públicos. Atualmente, 96% das amostras, entre o dia 14 e 17/6, foram processadas e tiveram os resultados liberados no sistema de Gerenciamento de Ambiente Laboratorial (GAL) em até 72h. O estudo aponta que, no início da pandemia, apenas 10% dos exames foram concluídos dentro do prazo estabelecido regulamentado. 

Por Jornalismo SES