Seis mulheres que aguardavam pela reconstrução das mamas (pós-mastectomia) foram operadas durante o segundo mutirão de cirurgias plásticas do Hospital Júlia Kubitschek (HJK), em Belo Horizonte. Os procedimentos foram realizados no dia 22 de junho – ao longo de 12 horas, para atender a demanda reprimida pela pandemia da covid-19. 

 

Neste ano, o Serviço de Cirurgia Plástica promoveu dois mutirões com intervalo inferior a 45 dias entre eles e beneficiou 12 pacientes. A expectativa é a de que – a partir de agora – os mutirões mantenham uma periodicidade trimestral para diminuir a lista de espera. 

Foto: Francis Campelo

As ações são realizadas aos sábados e as pessoas atendidas, em geral, recebem alta no dia seguinte. Após os procedimentos, os pacientes retornam ao HJK para os acompanhamentos pós-operatórios necessários, de acordo com o seu quadro de saúde.

 

Atendimento

 

O Serviço de Cirurgia Plástica do HJK tem capacidade para atender cerca de 30 pacientes por dia no ambulatório e realizar uma média de cinco procedimentos cirúrgicos, às terças e sextas-feiras – distribuídos por pequena, média e grande complexidade.

 

Os atendimentos se destinam aos pacientes do ambulatório do HJK, do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) – referência estadual em Oncologia que, junto com o HJK, formam o Complexo Hospitalar de Especialidades (CHE) da Fhemig – e aos que são encaminhados pela Central de Internação – regulados pelo Sistema Nacional de Regulação (Sisreg) e vindos de cidades de todo o estado. 

 

Reintegração

 

Os mutirões têm tripla função: atender a pessoa que aguarda pelo procedimento, dinamizar os plantões do serviço de cirurgia plástica e promover a formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do ensino dos médicos residentes.

 

Como salienta o cirurgião plástico, coordenador do serviço e preceptor da Residência em Cirurgia Plástica do HJK, Guilherme Greco, a reconstrução das mamas é importante para a autoestima e a reintegração social das mulheres. 

 

“As mamas são um símbolo de feminilidade. Sua mutilação compromete a autoimagem e prejudica as relações interpessoais e profissionais. Por isso, é fundamental o acompanhamento multidisciplinar com psicólogos e terapeutas, além de mastologistas, oncologistas e cirurgiões plásticos. A readaptação é tranquila e lenta – com a retomada das atividades habituais entre 15 e 30 dias”.  

 

Vovó turbinada

 

A vendedora Valéria Magali Moraes Vieira, 56 anos, divorciada, mãe de dois filhos e avó de dois netos, mora em Belo Horizonte e aguardava pela reconstrução mamária há um ano e meio. 

 

Paciente do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), onde fez todo o tratamento oncológico, ela conta que os dias ruins ficaram para trás. Hoje, bem humorada, Valéria resume o seu estado de espírito ao se autodenominar uma “vovó turbinada”, com resultado da cirurgia reconstrutora realizada no mutirão há pouco mais de duas semanas. 

 

“Estou muito feliz porque hoje sou uma vovó turbinada! Minha reação ao saber que participaria do mutirão foi de muita felicidade, eu tinha a expectativa de fazer essa plástica, mas confesso que pensava ser impossível. Fui muito bem tratada no Júlia Kubitschek, uma equipe maravilhosa, com profissionais atenciosos e médicos de extrema competência”.

 

 

Assim como Valéria, a operadora de telemarketing Jussara Fernandes Resende, 46 anos, solteira e sem filhos, que também vive em Belo Horizonte, realizou seu tratamento no HAC e foi atendida pelo mutirão do HJK. Ambas compartilham o entusiasmo com os resultados da reconstrução. 

 

“Foi um presente de Deus. Com a cirurgia, a minha autoestima voltou. Fui muito bem acolhida. Agradeço a Deus, aos médicos e aos enfermeiros pelo cuidado e a todos do hospital. Minha vida vai ser melhor agora do que antes. Estou linda! Acabou a tristeza. Antes, eu sentia muita dor e não sabia que ia ser tudo tão rápido e que eu iria sentir essa sensação de estar bonita de novo”, revela Jussara. 

 

Guerreira

 

A auxiliar de serviços gerais Lúcia Maria Ribeiro, 52 anos, separada, três filhos, mora em Congonhas. Ela é paciente do HAC desde 2006. Fez mastectomia na unidade em 2019 e seguiu o tratamento com a quimioterapia.

 

“Quando fiquei sabendo que iria participar do mutirão, eu me assustei um pouco, mas depois fiquei tranquila e decidi fazer. Estava esperando pela cirurgia reconstrutora desde 2021. Fiquei muito feliz e desejo que as mulheres que estão passando pelo que eu passei tenham fé e fiquem firmes para conseguir superar. A cirurgia contribuiu muito para melhorar a minha autoestima. Fui muito guerreira e não deixei a peteca cair em hora nenhuma”.  

 

Retorno

 

Durante a pandemia da covid-19 – quando o HJK se destinou, exclusivamente, a atender aos casos da doença e realizou a reforma do seu bloco cirúrgico –  a equipe de profissionais do serviço de Cirurgia Plástica foi transferida para o Hospital Alberto Cavalcanti, a fim de atender às demandas por reconstrução de mamas e de face, após a retirada de tumores.

 

Com o término da emergência sanitária da covid-19, em maio de 2023, e a conclusão das obras no bloco cirúrgico, em março do mesmo ano, o Setor de Cirurgia Plástica retornou ao HJK e aumentou o número de atendimentos realizados, além de consolidar sua atuação.  

 

O serviço realiza cirurgias reparadoras de câncer de pele e de reconstrução de mama, como também procedimentos estéticos de abdômen e redutor de mama. Para as cirurgias estéticas, o hospital segue os protocolos estabelecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para esse tipo de intervenção. 

 

Duas décadas

 

O Serviço de Cirurgia Plástica do HJK existe desde 2003 e atua como referência em cirurgia reparadora para o Sistema Único de Saúde (SUS), além de ser um dos pilares da residência médica na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). 

 

Ele foi criado pelo médico Carlos Inácio para atender aos pacientes que ingressavam no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital João XXIII (HJXXIII) – que tem como foco os pacientes vítimas de traumas e queimaduras – e também para promover o ensino das práticas de cirurgias plásticas reparadoras, reconstrutoras e estéticas para os médicos residentes. 

 

O cirurgião plástico Guilherme Greco coordena o serviço há 10 anos, desde a aposentadoria do seu criador. O setor de Cirurgia Plástica integra a coordenação das Clínicas Cirúrgicas do CHE, gerida pelo médico Tarcísio Versiani. 

Por Alexandra Marques/Fhemig