“Na época era bonito fumar, todo mundo fumava, então acabei fumando por influência de amigos e da turma. Eu sentia que fazia mal, mas tinha  dificuldade de parar.  Quando  consegui ficar dois dias sem fumar, não fumei mais”.

Esse é o relato do empresário Roberto dos Santos Corrêas, que começou a fumar aos 11 anos de idade e parou com 25. Hoje, aos 65 anos, ele está certo de que isso foi  uma das melhores coisas que fez por sua saúde. “Não sinto falta nenhum dia”, acrescenta.

E o que o Roberto atual gostaria de dizer ao Roberto adolescente?

“Diria para nunca passar perto do cigarro”, afirma, categórico. 

A administradora Bruna Piassi, de 42 anos,  também começou a fumar por influência dos colegas. “Eu comecei a fumar aos 14 anos e fui fumante até os 36. Eu via meus amigos na porta da escola fumando e aquilo era super descolado, era super legal ver todo mundo fumando ali, era como se fosse um amadurecimento”, conta Bruna.

“Ver os outros fumando me levou a querer experimentar o cigarro, então,  com certeza, o meio  acabou influenciando muito”, analisa ela. 

Bruna conta que buscou se livrar da dependência do tabaco quando começou a apresentar  problemas de saúde. “Várias vezes eu tentei parar de fumar, sem sucesso. Mas já não me sentia bem. Toda vez que eu fumava, sentia queimação no estômago, um aumento do suco gástrico, então acabei parando por conta disso”, relembra. 

“O que eu não sabia é que três anos depois, aos 39 anos, eu teria um tumor no útero e  o fato de já ter parado de fumar me ajudou muito naquela ocasião, pois eu realmente precisava ficar longe do cigarro”, reflete.

O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência da nicotina presente nos produtos à base de tabaco. Nos mercados nacional e internacional, há uma variedade de itens derivados de tabaco que podem ser usados de diversas formas: fumado, inalado, aspirado, mascado ou absorvido pela mucosa oral. Todos contêm nicotina, causam dependência e aumentam o risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (DNCT), diversos tipos de câncer e outras doenças.

Em virtude de ser um problema de saúde pública, em 1987, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 31 de maio como o Dia Mundial Sem Tabaco, para alertar a população sobre o risco das inúmeras doenças ocasionadas pela substância, além do alto índice de mortalidade em todo o mundo. 

Em 2024, para marcar a data, a OMS elegeu o tema “Proteção das crianças contra a interferência da indústria do tabaco”, com o intuito de assegurar o direito à saúde de crianças, adolescentes e jovens. 

Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde  (SES-MG) lançou a campanha “Tabagismo: cancele essa ideia”,  para alertar esse público quanto aos malefícios do uso de derivados do tabaco, em especial, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), popularmente chamados de cigarros eletrônicos ou vape.

A campanha visa, além de conscientizar a população infantil e jovem sobre os riscos do tabaco, incentivar ações educativas nas escolas e comunidades que capacitem também pais e responsáveis a tomarem decisões informadas em relação ao tabagismo.

Além dos malefícios à saúde, a iniciação precoce ao fumo é uma porta para o uso de outras substâncias, como álcool e drogas ilícitas. Adolescentes fumantes, quando comparados aos não fumantes, consomem três vezes mais álcool, usam oito vezes mais maconha e 22 vezes mais cocaína.

No Brasil, segundo a  Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) de 2019, entre os estudantes de 13 a 17 anos, 22,5% dos meninos e 22,6% das meninas já haviam experimentado cigarro alguma vez na vida.

A mesma pesquisa apontou que, em Belo Horizonte, 15% dos escolares fumaram pela primeira vez com 13 anos ou menos. E 8,2% dos escolares fumaram algum dia nos 30 dias anteriores à pesquisa realizada na capital, percentual que foi de 4,4% em 2012 e 4,5% em 2015.

“Adolescentes são mais vulneráveis à nicotina, substância presente nos produtos de tabaco, pelo fato de o cérebro não estar completamente desenvolvido. Por isso, é importante alertá-los quanto aos malefícios do uso desses produtos, especialmente os cigarros eletrônicos, que estão amplamente disseminados nessa faixa etária,” ressalta a  coordenadora de Programas de Promoção da Saúde e Controle do Tabagismo da SES-MG, Nayara Resende.

”As medidas de controle ao cigarro eletrônico englobam a proibição da comercialização, importação e propaganda desses produtos no Brasil, assim como a promoção ações educativas que visam informar a população em geral, mais especificamente crianças e jovens, sobre os malefícios à saúde”, acrescenta ela.

Cigarros eletrônicos

Os cigarros eletrônicos são equipamentos à bateria utilizados para fumar ou vaporar e são apresentados em diferentes modelos e sistemas. A maioria contém nicotina, seja por meio líquido ou do próprio  tabaco, apresentando substâncias severamente tóxicas. 

Apesar da comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos serem proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde 2009, eles são vendidos ilegalmente pela internet, no comércio informal ou, ainda, podem ser adquiridos no exterior para uso pessoal.

O uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de consumo regular do cigarro. Por conterem nicotina, os cigarros eletrônicos podem levar à dependência dessa substância e à procura por outros produtos de tabaco.

Em 2019, os Estados Unidos começaram a noticiar o surgimento de casos de uma doença pulmonar grave relacionada ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar. O crescimento do número de casos foi reconhecido como epidemia e a doença nomeada com a sigla Evali (Electronic or Vaping Acute Lung Injury). O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos relatou, até dezembro de 2019, 2.291 casos de pessoas hospitalizadas com Evali, com confirmação de 48 mortes. No Brasil, até o início de dezembro de 2019, foram relatados três casos suspeitos da doença, sendo que todas as pessoas identificadas  fizeram uso de cigarros eletrônicos.

Durante a manipulação de cartuchos e líquidos dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) também pode haver intoxicação e, devido  às baterias, há risco de explosões que podem causar ferimentos e queimaduras leves ou graves em seus usuários. 

Os DEF têm elementos de design e composição que chamam a atenção de consumidores em potencial, especialmente crianças, adolescentes e jovens. Apesar de serem produtos voltados exclusivamente para adultos, é inserida uma grande quantidade de sabores açucarados tornando os produtos altamente atraentes para as crianças e adolescentes. Os aditivos e  sabores, como biscoitos de chocolate, panquecas, tortas e cereais matinais, servem para mascarar o amargo do tabaco e da nicotina e facilitam a instalação da dependência também entre o público mais jovem.

Atuação da SES-MG

A Secretaria de Estado de Saúde atua durante todo o ano junto aos municípios mineiros na mobilização de gestores e profissionais de saúde para a promoção de atividades de educação e sensibilização da população quanto aos malefícios do consumo de produtos do tabaco. Em parceria com a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG), por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), a SES-MG também fomenta o desenvolvimento das ações contra o tabagismo no ambiente escolar.

A pasta da Saúde estadual também apoia os municípios na oferta do tratamento contra o tabagismo, por meio da qualificação dos profissionais da saúde, e nas medidas fiscalizatórias e regulatórias relacionadas ao comércio, venda, publicidade e uso de produtos de tabaco.

Em Minas Gerais, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento em mais de 300 municípios, por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. O usuário que demonstre interesse em parar de fumar deve entrar em contato com a Secretaria de Saúde da sua cidade para ser informado sobre os locais que ofertam o tratamento, realizado, prioritariamente, nas unidades básicas de saúde (UBS).

Nesta quarta-feira (29/5), a SES-MG promoveu uma palestra online, em parceria com o Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre prevenção do tabagismo e o uso dos cigarros eletrônicos, voltada aos profissionais da saúde e da educação e gestores municipais.

Para saber mais, acesse www.saude.mg.gov.br/tabagismo.

Por Jornalismo SES-MG