Nesta terça-feira, 19 de setembro, “O Sofrimento Mental da Mulher no Ciclo Gravídico-Puerperal” foi tema da XII Reunião do Comitê Regional de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, organizada pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros. O evento reuniu médicos, enfermeiros e psicólogos de serviços de saúde de vários municípios, representantes de conselhos municipais de saúde, bem como referências técnicas das coordenadorias de Redes de Atenção à Saúde, Regulação e de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da SRS.

Na abertura do encontro, a superintendente regional de saúde, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, destacou que “as reuniões do Comitê de Prevenção à Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, além de envolver a participação de especialistas no debate de temas da atualidade, é um momento importante para a troca de experiências entre os diversos serviços que compõem a rede de assistência no Norte de Minas”. “Isso possibilita, além do aprimoramento do trabalho de prevenção e de assistência às demandas de saúde da população, uma maior interação entre a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) com os municípios e os prestadores de serviços”, reforçou a superintendente.

A presidente do Comitê Regional de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, Katherine Tolentino de Souza, explicou que “o tema abordado na reunião faz alusão ao Setembro Amarelo, mês voltado para a intensificação das ações de conscientização da importância da vida e prevenção ao suicídio”. Neste ano, o lema da campanha que está sendo implementada com apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria é “Se precisar, peça ajuda”.

Ao falar sobre blues puerperal, depressão e psicose, Isabela Barbosa de Oliveira, médica ginecologista e obstetra do Hospital Universitário Clemente de Faria, sediado em Monte Claros, alertou que o diagnóstico precoce de transtornos que afetam as gestantes antes e após o parto é fundamental para viabilizar tratamento adequado e, com isso, evitar prejuízos para o vínculo da mãe e o recém-nascido. Isso porque, alertou a médica, “casos de depressão que precisam de intervenção imediata e que não são tratados geram consequências para o resto da vida”. Para evitar que a situação evolua para condições mais graves, Isabela observou que “é importante o apoio e o envolvimento dos familiares, a fim de que a paciente tenha assegurado o acompanhamento necessário”. 

A enfermeira e psiquiatra, Gracielle Brandão, reforçou que “para viabilizar assistência adequada às mulheres durante a gestação e após o parto é preciso desmistificar que elas sejam consideradas super-heroínas e que a atenção esteja direcionada apenas para os bebês”.

Foto: Pedro Ricardo

Nesse contexto, observou a especialista, “o auxílio às mães nos afazeres do dia a dia, tanto por parte do companheiro como de familiares, além do acesso à assistência médica adequada durante o pré-natal e após a gestação, é importante na detecção de alterações psíquicas. Isso porque, o problema não é o diagnóstico da ocorrência de algum problema, mas sim a falta de tratamento e auxílio mental, aliado à necessidade de desmistificação de preconceitos, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento precoce”, apontou a médica.

 

Atenção Primária

Aliando experiência prática na área de enfermagem na Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros e a atuação como professora universitária, Carolina dos Reis Alves lembrou que desde o primeiro atendimento de pré-natal os profissionais dos serviços de Atenção Primária à Saúde precisam ter uma atenção especial com as gestantes. Isto se dá com a realização de um diagnóstico detalhado sobre a gestação, identificando se é fruto de planejamento familiar ou de cobrança do parceiro ou da sociedade. “Com base nestas informações identificamos se a assunção do papel maternal será mais leve ou não. Afinal, de onde virá o apoio a essa gestante: do parceiro; da família; de amigos, vizinhos ou da rede de proteção social?”, observou Carolina Alves. 

Tais questionamentos são importantes, lembrou a enfermeira, porque junto com a gestação a mulher passa por uma série de transformações hormonais, físicas e emocionais o que, consequentemente, pode influenciar nas alterações psíquicas. 

Por isso, reforçou Carolina Alves, “os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) precisam estar preparados para desempenhar um papel singular na identificação de gestantes ou puérperas que estejam apresentando algum sintoma de transtorno psíquico. Isso acontece nas visitas que realizam de casa em casa ou por meio de contatos com familiares ou vizinhos que podem identificar e revelar alguma alteração de comportamento, principalmente pós-parto”.

 

Prevenção

Ainda durante palestra, ministrada na reunião do Comitê Regional de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, Carolina Alves apontou fatores que podem ajudar a causar a depressão pós-parto: privação de sono; isolamento; alimentação inadequada; sedentarismo; falta de apoio do parceiro e da família; depressão, ansiedade, estresse ou outros transtornos mentais; vício em crack, álcool e outras drogas.

Entre outros, os sinais de depressão se manifestam por meio da perda de interesse ou prazer em atividades diárias, coisas e pessoas que antes gostava; pensamento de morte ou suicídio; vontade súbita de prejudicar ou fazer mal ao bebê; perda ou ganho de peso; vontade de comer mais ou menos do que o habitual.

A reunião do Comitê Regional de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal foi concluída pela psicóloga Alcina Mendes Brito, com apresentação da Rede de Atenção Psicossocial do Norte de Minas (RAPS). Na sequência foi realizada apresentação de caso pelas referências técnicas da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS, Hildeth Maísa Torres e Rosane Versiani de Aguilar.

Por Pedro Ricardo