Capacitar os profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) para exercerem rotina de prevenção à transmissão vertical das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) foi o objetivo principal do curso ministrado por servidores da Gerência Regional de Saúde de Ubá em parceria com o Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da UFV (Universidade Federal de Viçosa). A transmissão vertical ocorre quando a criança é infectada por alguma IST durante a gestação, parto e, em alguns casos, durante a amamentação.

O curso “Vigilância da Sífilis e Prevenção da Transmissão Vertical: Formação de Multiplicadores na Atenção Primária à Saúde” foi ministrado entre os dias 6 a 18/6, em cinco turmas e três cidades-sede. A disponibilidade variada de datas e locais contemplou as necessidades de deslocamento e de agenda do público-alvo, formado por um total de 150 enfermeiros atuantes na Atenção Primária à Saúde (APS).

20.06.2024-Sífilis 1-Keila Lima

Os participantes serão multiplicadores dos conhecimentos adquiridos a nível municipal, recebendo a responsabilidade de replicar o curso com todas as equipes multiprofissionais do território. “Foi uma boa oportunidade para reforçarmos nossos conhecimentos a respeito da temática, discutirmos os desafios encontrados no nosso cotidiano e levantar propostas de melhoria para diminuir os índices de agravos preveníveis e curáveis como a sífilis”, contou Samuel Vieira de Castro, enfermeiro da APS do município de Brás Pires.

Otimização da prevenção à sífilis
A temática abordou sobre a história natural da infecção pelo Treponema pallidum, que é o agente etiológico da sífilis, e aprofundou sobre os modos de transmissão, período de incubação, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento, monitoramento até a alta por cura, conduta com parceiros sexuais, medidas de prevenção, controle e notificação. Além disso, aprimorou as técnicas de rotina na APS, como o rastreamento das ISTs com testes rápidos e a importância da qualidade dos procedimentos pré-teste, durante a testagem e pós-teste.

Curso foi ministrado em cinco dias e três cidades polos diferentes para facilitar presença do público-alvo

O curso é o produto técnico do mestrado da servidora da GRS Ubá Priscila Teixeira, cuja pesquisa tem o título de “Sífilis gestacional e congênita: aspectos epidemiológicos em uma regional de saúde de Minas Gerais”, integrando o Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da UFV. “Poder aplicar o conhecimento que estou adquirindo na UFV no meu processo de trabalho, trazendo uma nova abordagem, de forma mais acessível para as equipes de APS, tem sido para mim recompensador e muito estimulante”, contou Priscila.

Como resultado tangível da pesquisa de mestrado, o curso traz a proposta de rever os processos para que os índices do agravo sejam minimizados na região. “Trouxemos uma atualização quanto aos procedimentos, ouvimos dificuldades, sugerimos soluções e conseguimos transmitir a urgência em fazer movimentar a rede assistencial e os fluxos para encaminhamento de pacientes à outros serviços, conforme realidade de cada município, possibilitando tratamento e cura, evitando a transmissão vertical”, contou Priscila Teixeira, referência técnica em ISTs da GRS Ubá.

Cenário Epidemiológico
Fomentar o diagnóstico precoce da infecção em gestantes para evitar sequelas graves em bebês se torna ainda mais relevante diante dos dados epidemiológicos. Nos 31 municípios que compõem a área de atuação da GRS Ubá, entre 2018 e 2022, foram diagnosticados 670 casos de Sífilis Gestacional (SG). No ano de 2022, foram 213 casos, com a detecção de 42,2 casos por 1.000 nascidos vivos (NV), apresentando taxa de detecção superior a do estado de Minas Gerais, que registrou 27,23 casos por 1.000 NV.

Das 213 gestantes diagnosticadas em 2022, 145 incluíam-se na faixa etária de 20 a 34 anos. Quanto ao momento do diagnóstico de sífilis na gestação, dos 213 casos notificados em 2022, 25% foram diagnosticados no primeiro trimestre da gestação, 25% no segundo trimestre, 26% no terceiro trimestre e 24% em idade gestacional não informada.

“São dados que enfatizam a necessidade do diagnóstico precoce, durante o pré-natal, realizado pela APS, e dentro do primeiro trimestre da gestação, pois só assim pode-se iniciar o tratamento em tempo oportuno e evitar a ocorrência da transmissão vertical da sífilis, que é da mãe para o bebê, que traz sequelas graves para a criança”, destaca Aline Lopes, referência técnica materno infantil da GRS Ubá que integrou a equipe que ministrou o curso.

A benzilpenicilina benzatina é o medicamento de escolha para o tratamento de sífilis, sendo o único com eficácia documentada durante a gestação. Dentre as gestantes diagnosticadas em 2022, 14% não realizaram tratamento, 2% receberam outro esquema terapêutico e em 7% dos casos houve prescrição de penicilina com dosagem não mais indicada pelos protocolos vigentes (penicilina G benzatina 4.800.000 UI).

“A literatura científica aponta que até 50% das gestações em mulheres com sífilis não tratada ou tratada de forma inadequada poderão ter desfechos gestacionais adversos, abortamento espontâneo, parto prematuro, malformação do feto, surdez, cegueira, alterações ósseas, deficiência mental e/ou morte ao nascer”, explicou Fábio Ribas, coordenador de Vigilância em Saúde da GRS Ubá. “Diante de um cenário em que nossa região tem taxa de detecção superior a do estado de Minas Gerais, 42,2 casos por 1.000 nascidos vivos, esse curso é uma iniciativa arrojada e robusta para sensibilizar os profissionais a mudarmos esses dados desfavoráveis”, finalizou.

A falta de tratamento da SG ocasiona a Sífilis Congênita, que é quando o bebê nasce infectado pela bactéria. Do total de 61 casos de Sífilis Congênita diagnosticados no ano de 2022 na área da GRS Ubá, 82% das gestantes realizaram pré-natal, 15% não realizaram e os casos registrados como “ignorados/branco” representaram 3% das notificações.

Por Keila Lima / Fotos: Keila Lima e Divulgação SMS Muriaé