O Comitê de Monitoramento de Eventos do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) Regional de Montes Claros está mobilizando as secretarias municipais de saúde do Norte de Minas para a necessidade de reforço da vacinação de crianças, gestantes e de trabalhadores da saúde contra a coqueluche. Isso porque, de acordo com a Nota Técnica número 70, divulgada neste mês pelo Departamento Nacional de Imunizações (DPNI) do Ministério da Saúde (MS), “desde 2016 o país vem acumulando quedas nas coberturas vacinais enquanto, neste ano, estão ocorrendo surtos da doença em países da Ásia e da Europa”.

Considerando o alerta global para o aumento de casos de coqueluche e a sinalização de que situação semelhante possa ocorrer no Brasil dentro de pouco tempo, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) ampliou a indicação de uso da vacina dTpa em caráter excepcional para trabalhadores da saúde que atuam nos serviços públicos e privados, ambulatorial e hospitalar, com atendimento em ginecologia e obstetrícia; parto e pós-parto imediato, incluindo as casas de parto; Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e unidades de cuidados intensivos neonatal convencional e canguru; berçários; pediatria; profissionais que atuam como doulas (acompanhando a gestante durante o período de gravidez, parto e pós—parto); e trabalhadores que atuam em berçários e creches, com atendimento de crianças até quatro anos de idade.

18.06.2024-Coqueluche-Ministério da Saúde

A referência técnica de Imunização na Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, Angra Camila Alves Pereira Andrade, explica que a principal forma de prevenção da coqueluche é a vacinação de crianças menores de um ano: a primeira dose deve ser aplicada aos dois meses; e as duas doses restantes devem ser administradas quando a criança completar quatro e seis meses, respectivamente. Ainda em crianças, a primeira dose de reforço deve ser aplicada aos 15 meses de idade e a segunda, aos quatro anos.

As gestantes também devem ser vacinadas contra a coqueluche na vigésima semana de gestação. Já os profissionais de saúde devem ser vacinados com uma dose a cada dez anos.

Agna Soares da Silva Menezes, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) Regional de Montes Claros, explica que a coqueluche é uma doença infecciosa aguda que compromete principalmente o aparelho respiratório e se caracteriza por tosse seca. A infecção é uma das principais causas de morbimortalidade infantil e pode durar entre seis a dez semanas. A doença evolui em três fases sucessivas: catarral; paroxística (que apresenta dispneia e tosse com acessos) e a fase de convalescença.

“A doença é de alta transmissibilidade, de pessoas contaminadas para pessoas não vacinadas, por meio de gotículas de tosse, espirro e ao falar. Estima-se que uma pessoa com coqueluche pode infectar de 12 a 17 pessoas suscetíveis. Em lactentes a doença pode resultar em um número elevado de complicações e levar à morte, principalmente em bebês de até seis meses de vida, que ainda não completaram o esquema vacinal primário para a doença”, alerta Agna Menezes.

Vigilância
A coqueluche é uma doença de notificação obrigatória por parte dos municípios e de todos os serviços de saúde, a partir de casos suspeitos ou confirmados da doença. As investigações dos casos devem ser realizadas em etapas sucessivas e complementares, com a maior rapidez possível para evitar o aumento da transmissão e viabilizar a adoção de medidas de controle de forma oportuna.

A referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Maria Regina de Oliveira Morais, explica que “a primeira etapa de investigação envolve a coleta de dados sobre o caso com o preenchimento da ficha de notificação e investigação epidemiológica. Em seguida, deve ser feita a coleta de secreções de nasofaringe, preferencialmente antes do início do tratamento com antibióticos. O material deverá ser enviado para análise no laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed), sediado em Belo Horizonte”.

Ainda na fase de investigação de casos suspeitos, os profissionais de saúde devem orientar os pacientes e seus familiares para a manutenção de isolamento individual em casa ou em hospital, caso tenha sido internado. Além disso, deve ser realizada a busca ativa de pessoas de contato do paciente pelo caso suspeito ou confirmado. Os locais de busca incluem escolas, creches, igrejas, trabalho ou hospital, caso a pessoa tenha sido internada.

Cenário
Segundo o Ministério da Saúde, o aumento de casos de coqueluche em pelo menos 17 países da União Europeia vem sendo acompanhado pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) sediado na Suécia. O último boletim epidemiológico da ECDC, publicado em maio, informa o aumento de casos da doença com registro de 25.130 casos de janeiro a dezembro de 2023. Já entre 1º de janeiro e 31 de março deste ano foram notificados mais 32.037 casos.

O número de registros nos três primeiros meses deste ano já é semelhante ao total de notificações formalizadas no período de 12 meses em anos anteriores. Os casos têm sido notificados em diversos grupos etários, com maior incidência nas crianças menores de um ano, seguido pelos grupos de 5 a 9 anos e de um a quatro anos.

O Ministério da Saúde observa que, no Brasil, o último pico epidêmico de coqueluche ocorreu em 2014, quando foram confirmados 8.614 casos. Entre 2015 e 2019 o número de casos confirmados variou entre 3.110 e 1.562, respectivamente.

“A partir de 2020 observa-se uma redução importante no número de casos confirmados e, até a semana Epidemiológica 14 de 2024, haviam sido confirmados 31 casos. No entanto, o aumento de casos registrados em outros países, a partir de 2023, sinaliza que situação semelhante poderá ocorrer no Brasil dentro de pouco tempo”, alerta o Ministério da Saúde.

Nos últimos cinco anos foram registrados no Sistema de Informações de Agravos de Notificações (Sinan) 12 mortes por coqueluche no país, sendo 11 casos em 2019 e um em 2020.

Minas Gerais
Entre 2019 e 2023 foram notificados 1.007 casos suspeitos de coqueluche em Minas Gerais, dos quais 253 foram confirmados.

Dados do Sinan apontam que em 34 municípios que integram a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, no período de 2014 a 2024, foram notificados 313 casos suspeitos de coqueluche. Desse total, 41 casos foram confirmados para a doença.

Neste mesmo período, no Norte de Minas os casos notificados e confirmados de coqueluche tiveram maior incidência nas seguintes faixas etárias: crianças menores de seis meses (128 notificações e 29 casos confirmados); menores de cinco anos (101 notificações e oito casos confirmados); crianças com menos de 40 dias de vida (34 casos notificados e três confirmados); crianças até quatro anos de idade (32 casos notificados e nove confirmados).

Por Pedro Ricardo / Foto: Ministério da Saúde