As coordenadorias de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros concluíram na quinta-feira (13/6), em Janaúba, a realização de mais uma etapa de capacitação de 84 profissionais sobre as leishmanioses tegumentar e visceral. Os trabalhos foram conduzidos pela referência técnica, Arlete Lisboa Gonçalves, e contaram com a participação de enfermeiros e agentes comunitários de saúde e de controle de endemias. Além de aspectos teóricos, foram realizados estudos de casos.

Arlete Lisboa pontua que a atualização periódica dos profissionais leva em conta a rotatividade ainda existente nos serviços municipais de saúde; a necessidade da busca ativa e identificação das pessoas acometidas por leishmaniose tegumentar e visceral, além da disponibilidade de tratamento em tempo oportuno via Sistema Único de Saúde (SUS). “Com a identificação precoce de pessoas acometidas pela doença, evitamos que muitos pacientes evoluam para situações de saúde mais complicadas que deixam sequelas”, explica.

17.06.2024- Leishmaniose - Janaúba 1

Ao abordar aspectos atuais do diagnóstico clínico da leishmaniose tegumentar e as estratégias de tratamento mais eficazes, a referência técnica observa que os profissionais que atuam nos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) desempenham função estratégica na identificação de pessoas acometidas pela doença.

“O Brasil e, nesse contexto o Norte de Minas, é área endêmica para a leishmaniose tegumentar. Trata-se de região com intensa transmissão da doença e, por isso, os profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) precisam sempre pensar em leishmaniose tegumentar quando uma pessoa procurar atendimento com queixa da existência de feridas no corpo que não cicatrizam há mais de três meses”, observa a referência técnica. Ela lembrou que pessoas que moram ou trabalham na zona rural, fazem trilhas, pescam ou caçam estão mais sujeitas a contrair a doença transmitida pelo mosquito palha.

A doença é de notificação compulsória e, em 2022, teve 12.878 casos registrados no Brasil. Na região Sudeste foram notificados 1.141 casos, sendo 932 em Minas Gerais. Na área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros, em 2022, foram notificados 199 casos de leishmaniose tegumentar; 209 registros em 2023 e, neste ano, 34 casos.

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O diagnóstico laboratorial da leishmaniose tegumentar é o ideal para a definição do tratamento, levando em conta a necessidade dos profissionais de saúde evitarem que os pacientes sofram efeitos adversos graves ou que ocorram desfechos desfavoráveis. Por esse motivo, a definição da conduta do tratamento deverá considerar as várias medicações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde (MS); a espécie vetorial causadora da doença; a idade do paciente e a existência ou não de comorbidades.

A doença
A coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que a leishmaniose é uma doença infecciosa grave, sistêmica e que pode causar a morte de pessoas se não for tratada. A doença é transmitida por mosquitos conhecidos como palha, tatuquiras, birigui, entre outros.

No meio rural os reservatórios silvestres da leishmaniose tegumentar são roedores, gambás, tatus, tamanduás e bichos preguiça. Já no meio urbano os animais domésticos (cães e gatos), assim como as pessoas, são hospedeiros acidentais.

A leishmaniose tegumentar se manifesta por meio do surgimento de úlceras ovaladas na pele; borda emoldurada; fundo granuloso e avermelhado. As feridas normalmente são indolores. Os principais sintomas são: febre de longa duração; aumento do fígado e baço; perda de peso; fraqueza; redução da força muscular e anemia.

Para realização de exames, os pacientes residentes em Montes Claros são encaminhados para o Serviço Ambulatorial Especializado, sediado na Praça da Tecnologia, número 77, bairro São João. No local é feita a coleta do exame direto (raspado da lesão) ou PCR. Nas demais localidades esse procedimento é de responsabilidade das secretarias municipais de Saúde. As amostras também podem ser encaminhadas para análise no Laboratório Macrorregional da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), sediado em Montes Claros.

Visceral
Já a leishmaniose visceral, também chamada de calazar, é uma doença crônica e não contagiosa, considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das seis endemias prioritárias do mundo, devido a sua alta morbidade e significativa letalidade quando não tratada. É uma doença grave, sendo as crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas as que têm maior risco.

O cão doméstico é considerado o principal reservatório da doença. Porém ela não é transmitida do animal para o homem, mas por meio da picada do mosquito-palha. Os principais sintomas da leishmaniose visceral são febre irregular de longa duração (mais de 7 dias), falta de apetite, emagrecimento, fraqueza, aumento do abdômen, anemia e sangramentos (fase mais avançada da doença).

Prevenção
As principais medidas de prevenção à leishmaniose visceral e à leishmaniose tegumentar estão relacionadas ao manejo ambiental para combate ao mosquito-palha, aos cuidados individuais e também com os cães para evitar que se contaminem, tornando-se reservatórios do protozoário causador da doença: use repelentes e evite exposição nos horários de atividades do vetor (ao amanhecer, ao entardecer e à noite) em ambientes onde possa ser encontrado; mantenha o quintal limpo recolhendo folhas, fezes de animais e restos de alimento; embale o lixo corretamente e dê destinação certa a ele; faça a poda periódica de árvores e arbustos; vede bem as composteiras; utilize tela de malha fina nas portas e janelas; cuide corretamente do seu cão, impedindo que ele fique solto nas ruas; utilize coleiras impregnadas com inseticidas para repelir o mosquito-palha; instale tela de malha final no canil; leve seu cão regularmente ao médico veterinário.

Por Pedro Ricardo / Fotos: SRS Montes Claros