Com sete casos confirmados de coqueluche registrados a partir de novembro do ano passado nos municípios de Montes Claros (com três casos), Francisco Sá, Botumirim, Francisco Dumont e Bocaiúva (um caso em cada localidade), o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) Regional de Montes Claros, emitiu nesta quarta-feira, 22/1, alerta epidemiológico para os 54 municípios da área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros. A recomendação é que os serviços de saúde se mantenham em alerta frente a quaisquer casos suspeitos de coqueluche, que deverão ser notificados ao CIEVS em até 24 horas, com início imediato de investigação.

A coordenadora do CIEVS e da vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, explica que em julho do ano passado a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) emitiu alerta epidemiológico sobre a ocorrência de casos de coqueluche na região das Américas. “Além da baixa cobertura vacinal de crianças e de gestantes, aliado ao aumento de casos de coqueluche no Brasil, torna a vigilância de novos casos mais necessária e importante, a fim de conter o avanço da doença”, ressalta a coordenadora.

Agna Menezes observa que os casos suspeitos de coqueluche compreendem toda criança com menos de seis meses de idade, independentemente do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há dez dias ou mais, associada a um ou mais dos seguintes sintomas: tosse paroxística (violenta e incontrolável); tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas (cinco a dez), em uma única expiração; guincho inspiratório; vômitos pós-tosse; cianose (coloração azulada na pele); apneia e engasgo.

Em pessoas com idade igual ou superior a seis meses, independente do estado vacinal, a coqueluche pode ser considerada caso suspeito quando ocorre tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais, associada a tosse paroxística; guincho inspiratório e vômitos pós-tosse.

Vacinas contra a coqueluche para crianças, gestantes e adultos - Foto: Pedro Ricardo

 

Transmissão

A referência técnica de vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Maria Regina de Oliveira Morais, observa que a transmissão da coqueluche ocorre, principalmente, pelo contato com a pessoa doente, por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar. Em alguns casos a transmissão pode ocorrer por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes. Isso é pouco frequente, porque é difícil o agente causador da doença sobreviver fora do corpo humano, mas não é impossível. O tempo que os sintomas começam a aparecer desde o momento da infecção é de, em média, de cinco a dez dias, podendo variar de quatro a 21 dias e, raramente, até 42 dias.

A coqueluche evolui em três fases sucessivas: a primeira é a catarral que começa como um resfriado comum, com sintomas leves como febre baixa, mal-estar geral, coriza e tosse seca. Gradualmente, o quadro vai evoluindo para crises de tosse mais intensa.

Na segunda fase a doença evolui para tosse intensa (paroxística). Geralmente não há manifestação de febre ou ela acontece de forma leve. Mas, em alguns casos ocorrem vários picos de febre no decorrer do dia. A tosse se torna muito forte e incontrolável, com crises súbitas e rápidas que podem causar vômitos. Durante essas crises a pessoa pode ter dificuldade para inspirar, apresentar rosto vermelho (congestão facial) ou azulado (cianose) e, às vezes, fazer um som agudo ao inspirar (guincho). Essa fase pode durar de duas a seis semanas.

A terceira fase compreende a recuperação do paciente, com diminuição da tosse em frequência e intensidade, mas que pode persistir por duas a seis semanas ou por até três meses. Infecções respiratórias de outra natureza, durante essa fase, podem fazer a tosse intensa voltar temporariamente.

Bebês menores de um ano, principalmente aqueles com até seis meses, são mais propensos a formas graves da doença, muitas vezes letais, que podem incluir crises de tosse, dificuldade para respirar, sudorese e vômitos. Também pode ocorrer episódios de apneia, parada respiratória, convulsões e desidratação, decorrentes dos episódios repetidos de vômitos. O cuidado adequado desses bebês exige hospitalização, isolamento, vigilância permanente e procedimentos especializados.

Pessoas com condições clínicas pré-existentes (imunocomprometidas, com asma moderada ou grave e outras pessoas em condições semelhantes) também devem ter atenção especial.

 

Diagnóstico

O diagnóstico da coqueluche em estágios iniciais é difícil, uma vez que os sintomas podem parecer com os de resfriados ou até mesmo outras doenças respiratórias. A tosse seca é um forte indicativo da coqueluche, mas para confirmar o diagnóstico o médico pode pedir os seguintes exames: coleta de material de nasofaringe para cultura; PCR em tempo real. Como exames complementares podem ser realizados hemograma e raio-x de tórax.

O diagnóstico laboratorialérealizado em Minas Gerais pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), sediada em Belo Horizonte.

 

Vacinação

Crianças a partir de dois meses de idade devem tomar, no mínimo, três doses de vacina pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e hepatite B), com reforço aos 15 meses e um segundo reforço aos 4 anos.

Gestantes devem tomar uma dose do tipo adulto contra a coqueluche (dTpa) a partir da vigésima semana a cada gestação.

No ano passado o Programa Nacional de Imunizações (PNI) ampliou a indicação de uso da vacina dTpa, em caráter excepcional, para trabalhadores da saúde que atuam nos serviços públicos e privados, ambulatorial e hospitalar, com atendimento em ginecologia e obstetrícia; parto e pós-parto imediato, incluindo as casas de parto; Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e unidades de cuidados intensivos neonatal convencional e canguru; berçários; pediatria; profissionais que atuam como doulas (acompanhando a gestante durante o período de gravidez, parto e pós-parto); e trabalhadores que atuam em berçários e creches, com atendimento de crianças até quatro anos de idade.

Por Pedro Ricardo