A previsão de temperaturas acima da média em Belo Horizonte e em todo o estado de Minas Gerais deve favorecer a ocorrência de chuvas durante o Verão, que vai até o dia 20 de março. Diante deste cenário, é essencial nesta época do ano redobrar os cuidados quanto ao consumo de água potável e às medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas quanto aos reservatórios, já que esses locais estão suscetíveis ao surgimento de roedores e outros animais que podem transmitir a leptospirose.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a doença é transmitida principalmente por meio da exposição direta ou indireta à urina de animais (especialmente ratos) infectadas pela bactéria Leptospira que pode estar presente na água ou na lama de enchentes. A exposição prolongada à água ou lama contaminadas, principalmente sem proteção de luvas e botas de borracha, cria condições ideais para a transmissão, que se dá por meio da penetração da bactéria pelas mucosas ou pele. No caso de qualquer contato com água ou lama de enchentes é indispensável a atenção ao aparecimento de sintomas da doença, que tendem a ser inespecíficos na fase inicial: febre, dor de cabeça, dor muscular (principalmente na região da panturrilha), náuseas e/ou vômitos. Quem manifestar esses sintomas deve procurar uma unidade de saúde e informar ao profissional responsável pelo atendimento que houve contato com água e lama nos últimos 30 dias, para que seja realizado o diagnóstico diferencial para leptospirose.
Diagnóstico
Segundo a chefe do Serviço de Doenças Bacterianas e Fúngicas (SDBF) da Fundação Ezequiel Dias (Funed), Carmem Dolores Faria, a Fundação é o único laboratório público que realiza as análises para diagnóstico laboratorial da doença em Minas Gerais. “Além de receber amostras de todos os municípios do estado, o SDBF faz parte da Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica da Leptospirose, sendo um dos Laboratórios de Referência Regionais para o agravo atualmente é referência para o estado de Goiás e o Distrito Federal”, explica.
No ano de 2024 foram recebidas na Funed 2.579 amostras para o diagnóstico da doença. Esse número contempla tanto solicitações exclusivas para o diagnóstico da enfermidade quanto para a análise diferencial de outros tipos de agravos, seguindo o protocolo de febres hemorrágicas, no qual também se investigam além da leptospirose, febre maculosa, dengue e outras arboviroses para o mesmo paciente. Segundo o profissional que é referência técnica para os diagnósticos Laboratoriais da Leptospirose na Funed, Max Assunção Correia ,a vigilância em saúde é indispensável nesse contexto. "A média histórica anual de recebimento é de 1.355 amostras para leptospirose no SDBF, utilizando como referência os dados de 2005 a 2024. No entanto, somente até o dia 15 de janeiro de 2025, já foram liberados pela Funed quase 20% a mais de resultados que a média de todo mês de janeiro dos últimos cinco anos", aponta.
Ainda de acordo com o especialista, a Fundação executa todas as metodologias preconizadas pelo Ministério da Saúde para o diagnóstico da leptospirose, que contempla quatro testes: ELISA IgM, Microaglutinação (MAT),Cultura, Detecção do DNA pela reação em cadeia da polimerase (qPCR).O procedimento segue um protocolo baseado na fase evolutiva em que se encontra o paciente:
ELISA-IgM é o teste sorológico relativamente mais simples para Leptospirose, que pode ser executado pelos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens). É altamente sensível e específico sendo aplicável para triagem de amostras biológicas (soro) dos pacientes com suspeita de leptospirose. Segundo a literatura o método permite a detecção de anticorpos (IgM) a partir da primeira semana (aproximadamente sete dias) de curso da doença até cerca de dois meses;
Prova de aglutinação microscópica (Microaglutinação/ MAT) é realizada a partir de antígenos vivos (Leptospiras em meio de cultura EMJH). É considerada como o exame laboratorial “padrão-ouro”, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a confirmação do diagnóstico da leptospirose. Além de detectar anticorpos específicos o teste indica qual seria o provável sorovar causador da doença. Devido à complexidade e alto custo é realizada somente em laboratórios especializados ou de referência, preconizados pela Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB).
O ELISA-IgM, de acordo com o profissional, apresenta resultados positivos um pouco mais cedo do que o MAT, no entanto, existe a possibilidade da ocorrência de resultados falso-positivos, além do método não fornecer nenhuma indicação do provável sorovar infectante e não gerar alguns dos dados epidemiológicos potencialmente importantes no contexto da doença. “Os testes de ELISA para leptospirose não são totalmente confiáveis, por isso não devem ser considerados isoladamente. O teste de MAT deve ser sempre realizado para a confirmação dos casos suspeitos quando o resultado do ELISA for positivo”, observa.
A taxa de letalidade, segundo dados do MS, pode chegar a 40% nos quadros mais graves da doença. Considerando que a ocorrência da leptospirose pode estar relacionada às condições precárias de infraestrutura sanitária, a utilização da PCR é muito importante para fins epidemiológicos. “Essa metodologia é extremamente relevante na ocorrência de mortes precoces que impedem a coleta de uma segunda amostra, bem como para um diagnóstico laboratorial mais precoce da doença, facilitando a orientação e o manejo clínico do paciente que estaria condicionado à confirmação dos casos por MAT ainda no período imunogênico”, complementa.
Já a cultura de Leptospira tem uma taxa de sucesso extremamente baixa e com resultados demorados, que podem chegar a quatro meses, não sendo, portanto, muito útil para o diagnóstico individual do paciente. “A relevância do método é epidemiológica se dá principalmente quanto à definição dos tipos de Leptospira (sorovares) circulantes, o que pode auxiliar no direcionamento de políticas públicas de tratamento ou proteção para a doença, como o desenvolvimento de vacinas”, defende.
Medidas de prevenção
Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nos últimos três anos, houve 276 casos de leptospirose confirmados em Minas Gerais. Embora exista registros em todo o território mineiro há predominância na Região Centro-sul e no Triângulo Mineiro.
A pasta reforça a necessidade de medidas de prevenção com ações voltadas para o meio ambiente e o monitoramento de reservatórios de água. Além disso, os trabalhadores que costumam ter contato com água e lama de forma recorrente devem ser conscientizados quanto ao uso de equipamentos de proteção individual e informados a respeito dos manifestação dos sintomas da doença. A população em geral também deve ser advertida quanto ao acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d 'água, vedação de frestas e aberturas em portas e paredes. Já o uso de raticidas (desratização) se necessário só deve ser feito por técnicos devidamente capacitados.
Saiba como evitar a doença: