Assunto complexo que espelha fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais e também culturais, o suicídio é um importante problema de saúde pública em todo o mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente, 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, sendo que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos.

Por isso, desde 2003, a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) promovem no mês de setembro, em função do Dia Mundial para a Prevenção ao Suicídio (10/09), uma campanha com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção do suicídio. Neste ano, o tema da campanha é: “Doe um minuto de seu tempo. Mude uma vida”.

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Além disso, é importante lembrar que suicídio não ocorre apenas em países de alta renda, sendo um fenômeno em todas as regiões do mundo. Na verdade, 78% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda em 2015. Trata-se de um grave problema de saúde pública; no entanto, os suicídios podem ser evitados em tempo oportuno, com base em evidências e com intervenções de baixo custo. Para uma efetiva prevenção, as respostas necessitam de uma ampla estratégia multisetorial.

Ainda, de acordo com a ONU, estima-se que cerca de 30% dos suicídios globais acontecem por auto-envenenamento com pesticidas, dos quais a maioria ocorre em zonas rurais de países com baixa e média renda. Outros métodos recorrentes são enforcamento e uso de armas de fogo. O conhecimento dos métodos de suicídio mais utilizados é importante para a elaboração de estratégias de prevenção que têm se mostrado eficazes, como a restrição de acesso aos meios de suicídio.

Nacional

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorram, no Brasil, 12 mil suicídios por ano. No mundo, são mais de 800 mil ocorrências, isto é, uma morte por suicídio a cada 40 segundos, conforme o primeiro relatório mundial sobre o tema, divulgado pela OMS, em 2014.

Em geral, a vontade de acabar com a própria vida é provocada pela falta absoluta de perspectiva e uma enorme sensação de desamparo e angústia. O que não se destaca é que, na maioria dos casos, o radical desejo é gerado por um quadro de transtorno mental tratável, como depressão, transtorno bipolar afetivo, esquizofrenia, quadros psicóticos graves e transtornos de personalidade, como o borderline. “Somente 3% não têm diagnóstico desses transtornos. Há um alto índice também de histórico de drogas, álcool e outras substâncias”, diz a psicóloga Fabíola Rottili Brandão.

Fabíola esclarece ainda que, embora prevaleçam os casos em que preexiste um distúrbio mental, há situações em que o suicídio pode ser um impulso desencadeado por um infortúnio pontual, mas que, ainda assim, a pessoa já tem um processo de desorganização interior. “Em 10% das ocorrências podemos observar essas questões. Pode ser, sim, um caso de súbita desesperança.”

Para o psiquiatra Régis Barros, fortalecer-se emocional e mentalmente é como o ser humano resiste às decepções e contrariedades, comuns a todas as pessoas. “Viver não é uma tarefa simples. Viver é fabuloso, mas somos sistematicamente testados, colocados à prova, sofremos com as frustrações do viver. A resiliência é importante para construir uma habilidade social para a vida”, diz.

Suporte

Barros defende que a sociedade contemporânea, além da violência, do estresse, da instabilidade econômica e social, vive um momento de competitividade cada vez maior, que favorece o adoecimento mental. “O que se vê são relações muito voláteis, famílias desorganizadas, um mundo social virtual em que o contato e as construções de relações são muito empobrecidas. Há, cada vez mais, jovens que se frustram mais precocemente, uma epidemia dos que se automutilam”, explica.

Por isso, poder contar com uma rede de apoio e, consequentemente, com o acesso ao diálogo é fundamental para que as pessoas com a chamada “ideação suicida” conquistem o equilíbrio e a estabilidade emocional garantidos pelo tratamento de psicoterapia e de medicamentos. Os remédios prescritos por um psiquiatra são essenciais para que o paciente recobre a ordem neuroquímica, e a terapia, por sua vez, auxilia o paciente a saber trabalhar suas emoções.

Há alguns sinais que podem ser identificados por familiares e amigos como sendo de risco, auxiliando no diagnóstico e, portanto, na assistência. Eles devem compreender que a depressão e o suicídio não são uma estratégia infantil da pessoa para chamar a atenção, nem frescura.

Desinteresse pelas atividades que sempre foram prazerosas, sentimento de inutilidade e de culpa, cansaço extremo, irritabilidade, dificuldade de concentração e de tomar decisões e até mesmo falta de higiene com o próprio corpo são comportamentos de alerta. A pessoa tende também a achar que é um fardo para seus amigos e sua família, pode ter baixa qualidade de sono e, ainda, perder ou ganhar peso. “Há isolamento social, quebra no vínculo familiar, um grande sofrimento psíquico. Mas, às vezes, a pessoa esconde, coloca uma armadura e se esforça para não parecer doente”, complementa Fabíola.

Tanto as pessoas mais próximas como desconhecidos são capazes de acolher e mesmo encaminhar a pessoa suscetível ao tratamento com os profissionais adequados. De acordo com a psicóloga, a rede de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS) é o primeiro contato que as pessoas em situação de crise devem recorrer para receber um tratamento adequado.

Por isso, a conscientização da família, denominada psicoeducação, evita, inclusive, a repetição de episódios suicidas. “As doenças mentais têm componentes biológicos e não biológicos. Você tem famílias em que o componente é replicado. Mas há uma dificuldade em definir o que é fator ambiental, o que é herança genética, já que temos o mesmo ambiente, com as mesmas questões emocionais, que podem retroalimentar o desejo de se suicidar. O ato de se suicidar não será o ato primário, o primeiro, outros já aconteceram e podem ser evitados”, esclarece Barros.

Colegas de trabalho também podem e devem representar um ponto de socorro. “As empresas não estão preparadas para lidar com essa demanda. Quando tem afastamento do trabalho, existe preconceito. Os empregadores precisam buscar informações e achar formas de acolher. O profissional fica estigmatizado. A gente se dedica tanto ao trabalho e não encontra apoio ali”, pontua Fabíola.

Prevenção

O estigma, particularmente em torno de transtornos mentais e suicídio, faz com que muitas pessoas que estão pensando em tirar suas próprias vidas ou que já tentaram suicídio não procurem ajuda e, por isso, não recebam o auxílio que necessitam. Mas, o que muita gente não sabe, é que o suicídio pode ser. Há uma série de medidas que podem ser tomadas junto à população, subpopulação e em níveis individuais para prevenir o suicídio e suas tentativas, incluindo:

• Redução de acesso aos meios utilizados (por exemplo, pesticidas, armas de fogo e certas medicações);
• Cobertura responsável pelos meios de comunicação;
• Introdução de políticas para reduzir o uso nocivo do álcool;
• Identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo;
• Formação de trabalhadores não especializados em avaliação e gerenciamento de comportamentos suicidas;
• Acompanhamento de pessoas que tentaram suicídio e prestação de apoio comunitário.

Para a ONU, o suicídio é uma questão complexa e, por isso, os esforços de prevenção necessitam de coordenação e colaboração entre os múltiplos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, trabalho, agricultura, negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia.

 

Por ONU / OMS / Agência Brasil / Adaptação