Dia 10 de janeiro de 2024, marcou um novo tempo para o incremento dos serviços de alta complexidade em saúde no Norte de Minas. Trata-se da realização do primeiro transplante duplo de pâncreas e rim, viabilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e tendo como protagonista a Santa Casa de Montes Claros. Para as regiões Norte e Nordeste do estado, a instituição, que é a referência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e do MG Transplantes, já atendeu nos últimos 30 anos mais de dois mil pacientes que aguardavam o transplante de órgãos. O trabalho foi iniciado em 1993, com a realização do primeiro transplante renal com doador vivo.

“Era o meu sonho ficar livre das complicações do diabetes, uma doença que, em alguns casos, evolui de forma mais agressiva. Em mim já tinha afetado a visão e os rins”, explica Karine Stefane Brito, 28 anos, que, durante quatro meses, aguardou na fila de espera para a realização do primeiro transplante duplo de pâncreas e rim no Norte de Minas.

Equipe médica da Santa Casa de Montes Claros com a paciente, Karine Stefane Brito

“Tinha acabado de fazer hemodiálise. Chegando em casa, passaram poucas horas, me ligaram. Foi até inacreditável, porque eu não imaginava que seria tão rápido assim. Gostaria de falar que fazer o bem sem olhar a quem só faz o bem pra gente, pois devolve o sorriso e a esperança de outras pessoas”, diz Karine Brito. Emocionada, ela afirma que “só quem passa esse sofrimento todos os dias sabe o quanto é dolorido. Mesmo na dor, Deus retribui, pois os familiares dos doadores estarão fazendo o bem não só para uma pessoa, mas para várias. Vai devolver a vida”.

O coordenador do Serviço de Transplante de Pâncreas da Santa Casa de Montes Claros, Pedro Henrique Batista, explica que, na maioria dos casos, a indicação para o transplante de pâncreas é para pacientes diabéticos tipo 1. 

“Eles têm um subtipo de diabetes que é mais agressivo. E, já no começo da vida, com uns 20 a 30 anos essa agressividade leva a lesões vasculares, macrovasculares e microvasculares. isso leva o paciente a perder a função do rim, necessitando de hemodiálise três vezes por semana”, explica o coordenador. Ele informa ainda que muitos pacientes desenvolvem retinopatia diabética, prejudicando a visão e até levando à cegueira. “Até mesmo o controle glicêmico é muito difícil. Então, esse paciente tem indicação de fazer o transplante duplo, o rim para sair da hemodiálise e o pâncreas para curar do diabetes, numa cirurgia só”, esclarece.

 Para Pedro Henrique Batista, a realização do primeiro transplante de pâncreas na Santa Casa de Montes Claros “representa mais que um avanço para a medicina local. Esses pacientes que necessitam do transplante de pâncreas/rim, antes só transplantavam o rim e não tinham melhora do diabetes”. O coordenador explica que as outras complicações, além do rim, não melhoravam como o diabetes, a retinopatia diabética, a neuropatia diabética, dentre outras. E o próprio rim recebido durava menos, porque ele ainda continuava diabético. “Então, é um grande avanço para esses pacientes na melhoria do tratamento da comorbidade. Agora, eles têm a oportunidade de um novo cenário de melhora, ou seja, de praticamente da cura do diabetes e da disfunção renal”, destaca Pedro Batista.

O coordenador de atenção à saúde da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, João Alves Pereira, entende que “o incremento dos serviços de transplantes na Santa Casa de Montes Claros viabiliza importante avanço para o Norte de Minas no atendimento de demandas de pacientes em situações de saúde de alta complexidade, possibilitando com isso a redução da necessidade das pessoas buscarem tratamento em outras regiões do estado ou do país”. 

 

Evoluções

Já o médico e coordenador do Serviço de Transplante de Fígado, Luiz Fernando Veloso, observa que “há cerca de quatro anos, o caminho do transplante de pâncreas teve início para além do sonho, pela seleção de pessoas capazes de perceber a si mesmos e a realidade, dotadas de coragem, capazes de aprenderem e dotados de força para resistirem e prosperar”. Ele se referiu a Pedro Batista, coordenador do Serviço de Transplante de Pâncreas da Santa Casa de Montes Claros, que teve treinamento em outros centros de excelência e possibilitou dar este passo para o transplante de pâncreas.

O primeiro transplante renal foi realizado em 1993 e, depois, em 1999, a Santa Casa de Montes Claros protagonizou outro feito notável com a realização do primeiro transplante de córnea, seguido, em 2011, pelo inovador transplante de fígado. Este último marcou um ponto de virada significativo, sendo o primeiro procedimento deste tipo realizado fora de Belo Horizonte e sem vinculação a um hospital universitário.

Em 2013, a Santa Casa inaugurou a Unidade de Transplantes João Paulo II e, em 2017, foi realizado o primeiro transplante duplo de fígado e rim. 

A evolução do serviço não cessou e, em 2019, a Santa Casa de Montes Claros realizou o primeiro transplante musculoesquelético. Já em 2021, foram iniciados os transplantes de medula óssea. 

“São mais de mil pacientes beneficiados com transplantes de rim; mais de 200 com transplantes de fígado; mais de 50 contemplados com transplantes de células-tronco e mais de 40 de músculoesquelético. Além disso, os incontáveis transplantes de córneas demonstram o impacto positivo e a abrangência do trabalho desenvolvido”, comemora o superintendente da Santa Casa, Maurício Sérgio Sousa e Silva.

Em 2023 a Santa Casa de Montes Claros teve o trabalho reconhecido pelo Ministério da Saúde com a atribuição da nota máxima no Programa de Qualidade de Transplantes. “Esse é o resultado de um trabalho de muitos anos. Primeiro de um sonho de fazer um serviço de transplantes de excelência, iniciado em 2011, com o transplante de fígado, e consolidado com a implantação do transplante de células tronco hematopoiéticas. Além disso, foram viabilizados importantes serviços prestados para melhoria técnica e de processos em favor do serviço de transplante de rim, o que proporcionou ao hospital receber nota máxima no programa de qualidade em transplantes do Ministério da Saúde (MS)”, conclui Luiz Fernando Veloso.

 

Por Pedro Ricardo / Foto: Santa Casa de Montes Claros