Desde maio de 2022, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Teófilo Otoni vem realizando capacitações do Programa de Controle de Doenças de Chagas(PCDCh) nos 32 municípios da sua área de abrangência. Após um treinamento realizado com os agentes de endemias dos municípios de Nanuque e de Serra dos Aimorés, no dia 8 de dezembro, a unidade alcançou 100% de descentralização do programa. 

A referência técnica da pasta na SRS Teófilo Otoni, Maryana Prates, explica que o PCDCh propõe a realização da notificação, investigação, rastreamento, busca ativa, acompanhamento dos pacientes, controle vetorial, pesquisa passiva e ativa de triatomíneos, conhecido popularmente como inseto barbeiro, implantação dos Postos de Informação de Triatomíneos, manejo ambiental, controle químico e ações de educação em saúde. “Antes da descentralização, as ações de campo referentes ao controle do inseto barbeiro e o abastecimento do sistema de informação do programa eram executados pelos agentes de saúde pública do Ministério da Saúde (MS) cedidos à unidade regional”, explica Maryana Prates.  

15.12.2023 Teófilo Otoni - Doença de Chagas Foto 5

 

As capacitações realizadas qualificaram os Agentes de Combate às Endemias (AECs) dos municípios para a execução das ações propostas pelo programa, que visa resgatar a vigilância da doença de Chagas humana. “A descentralização deste serviço possibilitará realizar as intervenções necessárias em tempo oportuno, além de reduzir o tempo de resposta à população sobre a existência ou não do barbeiro infectado naquela localidade”, declara referência dos sistemas de endemias da SRS Teófilo Otoni, Edmilson Barbosa de Carvalho.

 

Cenário

Dos 23 casos suspeitos da doença de Chagas na fase aguda notificados em 2023 na área de abrangência da SRS Teófilo Otoni, dois estão em investigação. Na fase crônica da doença, dois casos foram confirmados. Dos triatomíneos recebidos para análise em 2023, o resultado indicou que 30% estavam infectados. A região é considerada de médio risco. 

 

Sobre a doença

A doença de Chagas é uma Doença Tropical Negligenciada, que se prolifera em lugares com condições climáticas quentes e úmidas. Normalmente acomete pessoas residentes em áreas de grande vulnerabilidade social, desprovidas muitas vezes de saneamento básico, como favelas e o meio rural. 

É causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, cujo hospedeiro é o triatomíneo, conhecido popularmente como “inseto barbeiro”. O nome “barbeiro” se deve ao costume do inseto picar as pessoas na região do rosto. A transmissão da doença de Chagas ocorre quando a pessoa coça o local da picada do inseto infectado e as fezes eliminadas pelo barbeiro penetram pelo orifício que ali deixou. Também pode ocorrer pela ingestão de alimentos contaminados com o inseto, por transfusão de sangue; transplante de órgãos de doadores infectados; pelo contato com a pele ferida ou as mucosas com material contaminado durante manipulação em laboratório; na manipulação de caça e de mãe para filho, durante a gravidez. 

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Em 2021, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou que 70% das pessoas que vivem com a doença não sabem que estão infectadas. A maioria desconhece sua condição devido à ausência de sintomas clínicos.  Quando se manifesta, a doença apresenta sintomas distintos nas duas fases, aguda e crônica. Na fase aguda, os principais sintomas são febre prolongada por mais de 7 dias; dor de cabeça; fraqueza intensa; inchaço no rosto e pernas. No caso de picada do barbeiro, pode aparecer uma lesão semelhante a um furúnculo no local.

Caso a pessoa não receba tratamento oportuno na fase aguda, ela pode desenvolver a fase crônica da doença, inicialmente sem sintomas (forma indeterminada), podendo, com o passar dos anos, apresentar complicações como problemas cardíacos e digestivos. Os exames para o diagnóstico da doença de Chagas e o tratamento são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Apesar de ser uma doença grave, os investimentos em pesquisas, produção de medicamentos e vacinas contra a doença de Chagas são reduzidos. “Uma das principais formas de controle da doença é evitar que o inseto forme colônia dentro das residências. Em áreas propícias à existência do inseto, a orientação é a utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada, o uso de mosquiteiros ou telas metálicas, repelentes e roupas de mangas longas durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata”, alerta Mauritonio Luiz Rodrigues, referência técnica das operações de campo da SRS Teófilo Otoni que atua há 40 anos no controle da doença de Chagas na região.  

 

Por Déborah Ramos Goecking e Maryana Prates Rodrigues / Fotos: Déborah Ramos Goecking, Rogério de Paula Borges e Edmilson Barbosa de Carvalho