Perto de completar 4 anos, em 25 de janeiro, a tragédia da barragem de Brumadinho ainda afeta a saúde física e mental da população. “Aumentou demais o número de atendimentos principalmente em saúde mental. Atualmente, a gente ainda sofre as consequências deste luto prolongado. De acordo com os pacientes, ninguém foi punido, a justiça é muito lenta e como há pessoas a serem encontradas, a cidade toda vive esse luto”, afirma a enfermeira, acupunturista, coordenadora do Núcleo de Prática Integrativas e Complementares (Nupic) do município, Zurrma Borsarto

Borsarto, explica que, durante os meses após a tragédia, a cidade recebeu muitos voluntários para trabalhar junto com o Nupic. Entre eles, vieram alguns profissionais de São Paulo, com a técnica de roda de terapia comunitária integrativa. “Na época, percebi o quão importante seria trabalhar a roda de terapia. Mas não tinha como trabalhar em lugar mais aberto. A população também estava fechada em si”, observa  a coordenadora. Em 2023, depois de conseguir trazer a roda de terapia, ela conta que “a prática tem o papel de externar os sentimentos e a pessoa trabalhar consigo mesma esses sentimentos”. A parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) é salientada por Zurrma Borsarto. “Com o Governo de Minas, de acordo com alguns critérios, nós recebemos insumos”.

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Além dos insumos, a Unidade Regional de Saúde de Belo Horizonte (URS-BH) atua oferecendo suporte técnico aos municípios para que as políticas de Pics sejam implementadas nos territórios, e assim o serviço chegue à população. “As Práticas Integrativas Complementares em Saúde trazem diversos benefícios aos usuários, desde a diminuição do estresse, melhora no sistema imunológico e prevenção de doenças até o alívio de dores crônicas. Ademais, promovem o autocuidado e até mesmo autoestima entre as pessoas que as praticam”, afirma a referência do URS-BH, Ana Luiza Vieira.

Com cobertura de 100% da Estratégia Saúde da Família (ESF), Brumadinho tem como porta de entrada para as Práticas Integrativas Complementares em Saúde (Pics), a equipe de saúde da família e os serviços de fisioterapia, psicologia, da policlínica de especialidades. A relação entre o Nupic e a Atenção Primária à Saúde (APS) é ressaltada pela coordenadora do núcleo. “Uma coisa interessante que começou há de 1 ano e meio é que todos os profissionais médicos que entra na Atenção Básica, são direcionados pela coordenação da Atenção Básica, prioritariamente, a passarem uma manhã no Nupic e na Farmácia Viva para que eles conheçam, divulguem e encaminhem seus pacientes. Zurrma Borsarto afirma que, depois desse trabalho, aumentou muito a procura pelos profissionais que atuam com práticas integrativas. “Fizemos parceria com a Atenção Primária para trazer enfermeiros para conhecer o serviço e trabalhar com a roda de terapia, a aromaterapia, entre outras práticas”, ressalta.

Segundo a técnica de enfermagem e psicóloga Aparecida Celina, a roda de conversa apresenta resultados interessantes na saúde mental. “Em Brumadinho, temos um grande número de pessoas em situação de depressão, ansiedade e estresse. A roda começou como uma atividade que precisávamos fazer em grupo para dar vazão à grande demanda por atendimento no Nupic”.  Celina explica que a roda em si não é um trabalho vertical.  ”É uma prática dinâmica. Então, o trabalho não é a busca pela cura, mas por um espaço horizontal de troca e compartilhamento de experiências que toca e reverbera nos outros. A roda é uma experiência muito bacana. É possível se libertar de sentimentos que angustiam e nos tiram o sono. É uma dor que não consegue ser vista, mas ser sentida”, descreve.

Enfermeira há 21 anos e especialista na prática da Roda de Conversa desde 2008, Gláucia Alves, conta como a prática foi implementada no núcleo. “Iniciamos o projeto em junho. Começamos a fazer com os próprios cuidadores: enfermeiros, técnicos e agentes comunitários. A primeira experiência com usuários foi com idosos”, comenta.

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Há 10 anos no núcleo, a acupunturista, terapeuta que trabalha com reiki, floral, professora de yoga, entre outras práticas naturalistas, Cleide Falleti descreve o fluxo de atendimento da população. “O profissional terapeuta recebe o paciente e faz uma análise para ver qual a prática mais adequada”.  Cleide exemplifica o uso das práticas por meio da ventosa que  tem como objetivo aliviar a musculatura e promover a oxigenação sanguínea. É usada há mais de 5 mil anos e, antigamente, era feita com bambu e chifres de animais. Ela destaca que  “os problemas emocionais também nos afetam fisicamente. Não se dispensa a avaliação médica. As práticas vêm de mãos dadas com a medicina convencional”. 

Para a monitora de escola infantil, Adriana  Fernandes,  os benefícios são claros. “Faço a prática com ventosa há uns seis meses. Alivia bastante a dor. Eu trabalho em escola. Tem muito esforço físico. Venho toda semana”.

No mesmo contexto, Glória Maria Oliveira Costa, trata dores com a prática de escalda pés. “Tenho dor nas costas e nos pés. Com o escalda pés, as dores melhoram bastante por 10 a 15 dias”. Terapeuta, há 15 anos no Nupic, Ana Lúcia dos Santos Nascimento, trabalha com terapia floral, entre outras técnicas terapêuticas.  “No momento,  acompanho o tratamento da paciente Glória.  Ela já passou aqui várias vezes, fazendo aurículoterapia e a ventosa para  tratar as dores. Ela veio por encaminhamento da Estratégia da Saúde da Família (ESF). Trato a questão emocional dela com floral. A melhora física é reflexo do cuidado emocional. A gente vai integrando os atendimentos para o paciente”, detalha.

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Roda de conversa e o núcleo

“Em meados dos anos 2000, participei de uma roda e foi um divisor de águas. Considero uma prática muito importante. Temos terapeutas que estão em formação e acho muito interessante e muito rica a questão da Roda de Terapia”, declara a coordenadora do Núcleo, Zurrma Borsarto.

O Núcleo de Prática Integrativas e Complementares (Nupic) funciona desde 2006 com várias práticas integrativas: auriculoterapia, acupuntura, ventosa terapia, mocha terapia, acupuntura eletromagnética, reiki, terapia floral, massoterapia, arteterapia e a aromaterapia, que perpassa todas essas práticas. Temos sinergias feitas pela farmácia de manipulação sem custo algum para o usuário. “As Pics funcionam neste núcleo e em 4 unidades de saúde. Demos prioridade para as unidades que mais sofreram com a tragédia de 2019, com o rompimento da barragem no Córrego do Feijão”, esclarece a coordenadora.

Por Leandro Heringer