“As projeções não são animadoras em termos de problemas socioambientais. Estima-se que em 2050 seremos 10 bilhões de pessoas dividindo os mesmos recursos”, alertou o pós-doutorando em Inovação para Economia Circular e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Jorge Alfredo Cerqueira Streit, em sua apresentação no Residual 2023.

Crédito: Adair Gomez

Streit foi um dos convidados do Encontro de gerenciamento de Resíduos - Residual - que ocorre a cada dois anos. Promovido pela Fundação Hemominas, com apoio do Ministério da Saúde, esta edição, realizada totalmente online, teve como tema principal “Sustentabilidade ambiental, social e de governança no setor de saúde pública – o ESG aplicado aos hemocentros”.

A presidente da Hemominas, Júnia Cioffi, participou da abertura dos trabalhos, lembrando o ano de 2004 quando a instituição começou a tratar de forma mais sistematizada e formalizada a gestão de resíduos. A partir daí, os encontros passaram a ocorrer de forma mais frequente, com a participação de parceiros, contratantes e profissionais de outros hemocentros. “São oportunidades que temos para conhecer experiências exitosas, além de estimular discussões produtivas e pontos de reflexão sobre o que podemos fazer do futuro em relação à sustentabilidade”, completou.

Apresentações

Streit alerta que nem sempre os discursos das empresas estão alinhados à prática, e que para uma empresa se manter, precisa pensar em prosperidade a longo prazo, equilibrando os fatores econômicos e sociais e respeitando os limites ecológicos.

O professor explicitou um pouco os termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, bem como o conceito atual mais utilizado, o ESG – Environment (ambiental), S (social) e Governance (governança) – que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.

Em relação aos serviços de saúde, Streit citou as resoluções e normativas disponíveis no Brasil atualmente para aplicação nas organizações, que devem ter seus modelos de gestão alinhados aos princípios ESG. Segundo ele, “dessa forma, é possível caminhar rumo à diminuição de riscos, desperdícios e impactos socioambientais”. 

Alinhada a isso, a apresentação do professor e advogado especialista em Direito dos Resíduos, Direito Ambiental e ESG, Fabrício Soler, seguiu detalhando a importância da destinação correta dos resíduos sólidos pelos serviços de saúde, de acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares)

Uma das ferramentas fundamentais, de acordo com Fabrício, é o PGRSS, plano de gerenciamento, que documenta todas as etapas e ações relativas ao tratamento dos resíduos dos serviços de saúde e que deve estar devidamente atualizado. “Caso aconteça algum dano ambiental, a responsabilidade é do gerador, ou seja, dos estabelecimentos de saúde. Por isso, é muito importante saber quem está sendo contratado para fazer o serviço de coleta, transporte, tratamento e armazenamento destes resíduos”, sob pena de multa, crime ambiental e obrigação de reparação dos danos”, alertou.

Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados: contribuição ao ESG

A contribuição da Coordenação Geral do Sangue e Hemoderivados (CGSH) junto ao processo ESG no âmbito do Ministério da Saúde (MS) foi abordada pela coordenadora do órgão, Joice Aragão. Na apresentação, ela explicitou que os critérios do ESG estão totalmente relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo Pacto Global, iniciativa mundial que envolve a ONU e várias entidades internacionais.  

Nesse sentido, esclareceu que as ações do Ministério envolvem os cuidados com o meio ambiente, práticas de inclusão e diversidade e transparência e que as políticas ESG podem garantir a sustentabilidade das operações da saúde, minimizar o impacto ambiental das práticas médicas (as instituições de saúde podem contribuir com a redução de resíduos e emissão de carbono) e promover a saúde e o bem-estar dos funcionários e da comunidade. 

Na sequência, representando a CGSH, o arquiteto e urbanista Humberto Xavier, que atua há 20 anos na área de infraestrutura do órgão e coordena o projeto “Hemorrede Sustentável”, fez palestra sobre o tema “Sustentabilidade ambiental, práticas sociais e de governança no setor de saúde pública: o ESG aplicado aos hemocentros”. 

O projeto visa à reabilitação ambiental sustentável dos Estabelecimentos Assistenciais de saúde (EAS) que compõem a Hemorrede Pública Federal. Fruto de um parceria entre o MS/GSH e o Laboratório de Sustentabilidade Aplicada à Arquitetura e Urbanismo (LaSUS) da Universidade de Brasília, o projeto abrangeu, entre 2011 e 2014, diversos convênios para viabilizar estudos aplicados aos edifícios de sete hemocentros coordenadores das hemorredes estaduais – DF, RJ, CE, AM, PA, RS e Hemonúcleo do Hospital dos Servidores - RJ.  

Os estudos levam em conta a recuperação dos hemocentros em termos de sustentabilidade, uma vez que os processos e produtos de configuração, uso e ocupação do solo são  capazes de promover a melhoria de condições de vida da população, considerando-se a promoção da equidade, eficiência e qualidade ambiental. Para Xavier, o grande desafio dos EAS e ESG é a implantação de edifícios públicos mais saudáveis, como já acontece em alguns serviços de referência privados de São Paulo.

Por sua vez, o administrador Diogo Wanis Lara, há cinco anos à frente da Assessoria de Atuação Estratégica da Hemominas, desenvolveu o tema “Planejamento Estratégico como ferramenta de governança na Fundação Hemominas”. 

Definindo o Planejamento Estratégico (PE) como todo o processo de criação e execução de uma estratégia para alcançar objetivos em uma organização, Lara acentuou que o planejamento é a porta de entrada para investir em ações que funcionem como respostas a um ambiente de constantes mudanças no mercado. Nesse sentido, teceu considerações sobre a gestão de resíduos, que exige gerenciamento e mapeamento para reduzir custos no processo produtivo, bem como armazenamento correto, necessidade de se fazer a coleta e transporte adequados e ter a tecnologia como aliada. 

Em breve histórico, ele relatou as práticas da qualidade  na Fundação, de 1990 a 2023, passando pelos conceitos dos 5S, gestão documental, definição de sistemas de gestão,  processos de Acreditação e Certificação AABH, traçando também uma linha do tempo do PE, destacando a incorporação do termo “responsabilidade socioambiental” na missão da instituição, ocorrida no período 2016-2020. 

“Uma gestão eficaz deve alinhar aspectos técnicos e operacionais aos ambientais sociais e econômicos, definindo uma estratégia de ação. E o Planejamento Estratégico é uma ferramenta sólida para direcionar os rumos da instituição em todas as áreas”,  conclui Diogo.

Experiências de outras unidades com o ESG integraram a programação do dia 29, como no Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc), e no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce).

O encerramento desse dia teve a participação do músico do Vale do Jequitinhonha, Rubinho do Vale,  que canta a cultura do Vale e de Minas como forma de preservar  a história e a vida, sob quaisquer aspectos em que elas se mostrem.

“A música tem uma função social, além do entretenimento. Por isso, gosto de participar de eventos como este da Hemominas, pois a minha música é uma saudação à vida, tem a ver com a água, sangue, meio ambiente, com pessoas, com a energia, a paz e solidariedade”, celebrou o músico. 

Segundo dia

A segunda manhã do Encontro foi dedicada à discussão das práticas e ações ambientais desenvolvidas na Hemominas, com a participação dos servidores Renato Vianna e Jéssica Barbosa, membros do Núcleo Ambiental da Fundação.

Nesse dia, as palestras foram feitas por Jhessica Alves, que falou sobre a Serquip, empresa especializada em tratamento de resíduos de saúde e que presta serviço à Hemominas; pelo doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos e pesquisador da FUNED, Marcos Paulo Mol, que destacou a “Importância da educação ambiental como ferramenta de conscientização social”; e do especialista em Gestão Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de MG, Clair Benfica, que apresentou as conquistas de Hemominas dentro do programa Ambientação.

Durante toda o evento, os participantes puderam participar das discussões enviando perguntas e comentários pelo chat.

Residual

O Encontro Residual tem como objetivo o compartilhamento de conhecimentos sobre a sustentabilidade nos processos institucionais, sobretudo no âmbito do manejo de resíduos do serviço de saúde, e direcionado a servidores da Hemominas, serviços de saúde contratantes e hemocentros brasileiros.

 

Por Assessoria Hemominas