“Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”. Com estes dizeres de Carlos Drummond de Andrade foi iniciada a II Mostra de Saúde Mental, promovida pela Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Uberlândia, nesta sexta-feira, 24/11. O tema da mostra foram os avanços e desafios da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) na construção de saberes e práticas na luta pelo cuidado em liberdade.

Mais de 150 participantes de diversos segmentos da sociedade estiveram presentes para acompanhar duas mesas de debate, uma palestra, 32 apresentações de trabalhos desenvolvidos nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e outros serviços, dez produtos de oficinas e quatro inserções artísticas dos usuários dos serviços de saúde mental.

II Mostra de Saúde Mental - Apresentação Cultural

O evento teve a parceria do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems-MG), Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESP-MG), Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais (CES-MG), Ministério Público Estadual, Fórum de Saúde Mental de Uberlândia, Centro de Convivência e Cultura de Uberlândia, Universidade de Uberaba, Campus Uberlândia, e Secretarias Municipais de Saúde.

Presente na abertura e em uma mesa de debate, a coordenadora de saúde mental, álcool e outras drogas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Taynara Silva de Paula, abordou as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental. “A atual política não prega a desassistência, e sim uma substituição do antigo modelo, manicomial. O ser humano deve ser tratado como ser humano, viver e ter uma vida digna em sociedade, ou seja, ter respeitada a sua dignidade, singularidade e autonomia. Os Caps ordenam e direcionam, mas precisam da rede para este cuidado em liberdade”.

A coordenadora estadual destacou também as prioridades da Raps. “É uma luta diária. O fazer em Saúde Mental precisa ser revisto e pensado, no que se refere ao fortalecimento, financiamento e ampliação. Podemos citar processos de educação permanente dos profissionais, estratégias de cuidado vinculado com a Atenção Primária à Saúde (APS)e Urgência e Emergência, reuniões conjuntas de matriciamento e a intersetorialidade”, pontuou Taynara de Paula.

Líbia Cristina Moraes Vieira, enfermeira do Caps de Prata, participou da mostra e destacou a importância dos debates. “Primeiramente fiquei muito feliz em ser convidada para a comissão organizadora da seleção dos trabalhos. Muitas experiências dos serviços estão sendo compartilhadas e o contato com profissionais de diversos órgãos que possuem um vasto conhecimento amplia a nossa visão sobre a Saúde Mental”, comentou a enfermeira.

24.11.2023-II Mostra de Saúde Mental Coordenadora Estadual Lilian Cunha3

Mesas de debate, palestra e apresentação dos trabalhos

Após as duas mesas temáticas com os temas: “a Raps em Minas Gerais: sua construção nos municípios e regiões” e “a supervisão clínico institucional: construção de saberes e práticas na luta pelo cuidado em liberdade” e a palestra “implicações dos diagnósticos e da medicalização na clínica da Saúde Mental”, os participantes aprofundaram as discussões conforme a linha de interesse e atuação na apresentação dos trabalhos inscritos para a mostra nos seguintes eixos:

I) Reabilitação psicossocial, inclusão social e controle social na saúde mental;

II) Ações de saúde mental na Atenção Primária à Saúde;

III) Os serviços da Raps e sua atuação na rede intra e intersetorial;

IV) Supervisão clínico-institucional: construção de saberes e práticas. 

 

Rede de Atenção Psicossocial (Raps)

Com a Política Nacional de Saúde Mental, após a reforma psiquiátrica, foi criada uma rede de cuidado em saúde que leva em conta a complexidade do sujeito, corresponsabilizando-o pelo cuidado. Neste contexto, a Rede Estadual de Atenção Psicossocial foi constituída para ampliar o acesso da população com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção.

Os pontos de atenção da Raps em Minas Gerais são estruturados em Atenção Básica à Saúde, a Psicossocial, a Urgência e Emergência, a Residencial de Caráter Transitório, Hospitalar, de Desinstitucionalização e Estratégias de Reabilitação Psicossocial.

Em Uberlândia e região estão implantados 11 Centros de Atenção Psicossocial (Caps I, II e III), 3 Centros de Atenção Psicossocial especializados no tratamento de álcool e drogas e infantil (Caps AD I e II), 2 Centros de Atenção Psicossocial especializados em atendimento infantil (Caps I). Há também uma equipe do Consultório na Rua, um Centro de Convivência e Cultura, uma Unidade de Acolhimento Infanto Juvenil e uma Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental.

A organizadora da mostra e referência técnica em saúde mental da SRS Uberlândia, Maria Lúcia dos Reis, acompanha a política relativa à saúde mental desde o início, em 2011, e ressalta que o cuidado assistencial foi articulado pela SES-MG em 2012 e está sendo construído para atender regionalmente os pacientes. “Nem todos os 18 municípios da nossa região possuem Caps, mas a Raps tem serviços de referência nos municípios vizinhos para atender os pacientes das cidades que não possuem Caps”.  

Por Lilian Cunha