Tendo como um dos incentivos a formação de uma rede de colaboração voltada para a vigilância e educação em saúde, envolvendo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e os 54 municípios que compõem a área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, será realizado nesta quinta e sexta-feira, 9 e 10 de novembro, no auditório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o curso teórico e prático sobre as Boas Práticas de Manejo de Morcegos. A iniciativa é direcionada a agentes municipais de controle de endemias e técnicos de controle agropecuário do IMA.

O evento conta com a participação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV); do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO); da Sociedade Brasileira para os Estudos de Quirópteros (SBEQ); do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e da Prefeitura de Montes Claros.

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O veterinário e referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Milton Formiga, entende que “a atualização dos agentes municipais de controle de endemias e dos profissionais de controle agropecuário do IMA desempenha papel essencial na promoção da saúde pública, pois viabiliza a disseminação de conhecimentos fundamentais sobre o manejo adequado de morcegos infectados pelo vírus da raiva, assim como outros mamíferos”. 

Porém, lembra o veterinário, “os morcegos desempenham um importante papel ecológico, atuando como polinizadores de plantas, como o pequi; dispersores de sementes; controladores de insetos vetores de doenças e pragas agrícolas, dentre outros”. 

Nesse contexto, “o curso representa um passo crucial para a prevenção e controle da raiva, contribuindo para a saúde humana, animal e ambiental, ao mesmo tempo em que fortalece a conscientização e a colaboração entre os diversos setores em prol da sustentabilidade e o bem-estar da população”, pontua Milton Formiga.

A coordenadora de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, também destaca a importância da atualização dos agentes municipais de controle de endemias e dos técnicos de controle agropecuário do IMA levando em conta que, nos últimos anos, tem aumentado a notificação de morcegos com o vírus da raiva no Norte de Minas. 

Entre 2018 e setembro deste ano, foram realizados 858 testes para a detecção da raiva em morcegos capturados em municípios da área de atuação da SRS Montes Claros. Desse total, 27 testes foram positivos para a doença, sendo que 23 casos aconteceram entre 2021 e setembro deste ano.

Agna Menezes observa que “a saúde única é uma das grandes esperanças no combate efetivo da raiva no Brasil, uma vez que as mudanças no perfil epidemiológico de transmissão da doença nos últimos anos inseriram o morcego como importante transmissor desse vírus para as pessoas. Desse modo, é de extrema importância que os profissionais que trabalham diretamente com os morcegos aprendam sobre as boas práticas de manejo, o que contribuirá para a melhoria das ações de vigilância e, consequentemente, proteção da população”.    

 

Programação

O curso será aberto às 9 horas pelo presidente da Sociedade Brasileira para os Estudos de Quirópteros, Enrico Bernard, abordando o tema “Morcegos: vilões ou vítimas?”. A partir das 13 horas, as atividades terão continuidade com apresentação dos aspectos básicos para a identificação de morcegos, com a utilização da chave de identificação da espécie. Na sequência será realizada aula prática sobre captura e identificação de morcegos.

Sexta-feira, a partir das 9 horas, os veterinários Milton Formiga, Joel Fontes de Souza e Gilberto Ramalho Ferreira participarão de debate sobre “Morcegos e Saúde Única”. 

Já a partir das 13 horas, a referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros, Amanda de Andrade Costa, falará sobre atendimento antirrábico humano. Em seguida, haverá debate sobre as boas práticas de captura e manejo de morcegos e, a partir das 17 horas ,será realizada a segunda aula prática.

 

A doença

A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós-exposição ao vírus. A doença é transmitida às pessoas pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura. A doença também pode ser transmitida pela arranhadura ou lambedura desses animais.

Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nesse período, o paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.

Pode ocorrer inchaço, aumento da sensibilidade ao tato ou à dor, frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento ou pressão no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura e alterações de comportamento.

A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como: ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários generalizados ou convulsões.

Por Pedro Ricardo / Foto: SES-MG