A partir de uma demanda proveniente da reunião de Comissão Intergestores Bipartite (CIB) – Microrregiões de Saúde de Ponte Nova e Viçosa, ocorrida no dia 22/09, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova, por meio do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvepi), concebeu uma possibilidade de qualificação dos profissionais de saúde sobre o tratamento da sífilis. No dia 05/10, com a parceria da coordenação do curso de Enfermagem da Faculdade Dinâmica Vale do Piranga (Fadip), foi realizada uma capacitação sobre eventos adversos decorrentes da aplicação da penicilina benzatina (Benzetacil), medicamento de escolha para tratar a doença, conforme Protocolo de Diretrizes Terapêuticas, sendo a única droga com eficácia documentada durante a gestação. 

Segundo a referência em Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) do Nuvepi, Priscila Câmara Moura, a participação de profissionais da área de Enfermagem dos municípios da área de abrangência da SRS Ponte Nova foi muito benéfica, dado o perfil multiplicador dos participantes. “Procuramos acolher a demanda dos gestores de saúde do território, que manifestaram a preocupação dos profissionais de saúde em administrar a penicilina nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) que não possuem suporte necessário para atendimento das possíveis reações adversas”, explicou. Dentre essas reações, Priscila citou a reação de Jarisch-Herxheimer, que ocorre geralmente durante as 24 horas após a primeira dose de penicilina, em que o paciente pode apresentar mal-estar geral, febre, dor de cabeça e exacerbação das lesões cutâneas e, em casos muito raros, conforme a literatura, a reação anafilática. 

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A capacitação foi conduzida pela coordenadora do curso de Enfermagem da Fadip e mestre em Ciências Cardiovasculares, Vanessa Alves da Silva Rodrigues. Ela apresentou aos profissionais as propriedades da penicilina benzatina, reações de hipersensibilidade, reações imediatas, aceleradas e tardias. Dentre as reações imediatas, mencionou que o edema laríngeo e o choque anafilático podem evoluir para uma parada cardiorrespiratória. Os profissionais tiveram a demonstração desde a medicação até o suporte básico de vida, que pressupõe chamar o paciente, checar o pulso, acionar o serviço de suporte avançado, iniciar as compressões torácicas e o suporte de ventilação, caso a unidade possua. “É extremamente importante que a equipe da UBS saiba atender a uma emergência/urgência. Mesmo não sendo equipada com todos os materiais, deve realizar o atendimento primário com eficácia”, enfatizou. 

Para a coordenadora do Nuvepi, Thiany Silva Oliveira, a capacitação foi um momento de grande reflexão da prática da Enfermagem, uma vez que contou com o envolvimento do setor acadêmico. “O encontro proporcionou conhecimento sobre a identificação de risco de pessoas suscetíveis e o fluxo de tomada de decisão diante de alguma situação de complicação, como os eventos adversos, seja com a aplicação da penicilina benzatina ou qualquer outro procedimento de saúde”, destacou. 

 

Sobre a Sífilis

A sífilis é uma doença bacteriana de caráter sistêmico, crônica, exclusiva do ser humano, causada pelo Treponema pallidum. A infecção tem cura e o tratamento está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, caso não seja tratada adequadamente, pode evoluir para formas graves e atingir diversos órgãos do corpo. É considerada um grave problema de saúde pública, especialmente em relação às gestantes, que podem transmitir ao feto, podendo causar aborto, parto prematuro e alterações neurológicas em crianças com sífilis congênita. Mediante o crescente número de casos em todo país, o Plano de Enfrentamento à Sífilis do Estado de Minas Gerais preconiza como ação o fomento à administração da penicilina nas UBS e o fornecimento do tratamento imediato às gestantes como forma de interromper a cadeia de transmissão, evitando a sífilis congênita.

De acordo com o Painel Epidemiológico da Sífilis, disponibilizado no portal da Vigilância em Saúde de Minas Gerais (http://vigilancia.saude.mg.gov.br), nos municípios de abrangência da SRS Ponte Nova, de 2022 até o momento, foram registrados 506 casos de sífilis adquirida, 139 casos de sífilis em gestantes e 58 casos de sífilis congênita notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).  

Por Tarsis Murad / Foto: Fadip - Divulgação