“A ferida não cicatrizava. É doloroso saber que existe um problema, mas não se sabe o que é”, relata a dona de casa A.M.P.R., de 50 anos, que há pouco mais de um ano descobriu que estava com leishmaniose tegumentar (LT). A dona de casa sofreu um acidente doméstico em maio de 2022, que ocasionou um ferimento na perna esquerda. O médico que a atendeu descartou, a princípio, a possibilidade da doença. Contudo, no decorrer do tratamento, sugeriu que a paciente procurasse um especialista, situação na qual foi submetida a uma série de exames e, em julho do mesmo ano, detectado a doença.

 

Situações como essa, referente à demora do diagnóstico são enfrentadas diariamente por milhares de brasileiros. No caso das leishmanioses, o tempo é um grande aliado para amenizar os impactos que a doença pode causar. A referência técnica em leishmanioses da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Teófilo Otoni, Maryana Prates Rodrigues, explica a necessidade dos profissionais de saúde terem um olhar diferenciado para esse tipo de lesão. “O diagnóstico precoce além de proporcionar o tratamento em tempo oportuno, reduz as sequelas ocasionadas pela doença”, afirma a técnica.

18.09.2023.Teófilo Otoni Leishmanioses Foto 2

 

Cenário

 

Em 2023, foram notificados, em Minas Gerais, até julho, 80 casos confirmados de leishmaniose visceral (LV), sendo que 10 evoluíram para óbito, e 950 de leishmaniose tegumentar (LT), tendo sido constatado um óbito. Em 2022, foram confirmados 194 casos de LV, sendo 29 óbitos, e 1.090 de LT, sem ocorrência de óbito.

 

Na área de abrangência da SRS Teófilo Otoni, que engloba 32 municípios, nos últimos dois anos (2021 e 2022), até meados de setembro de 2023, foram registrados 176 casos de LT e 12 casos de LV; tendo dois casos de LV evoluídos para óbito, um em 2022 e outro em 2023. 

 

Vigilância 

 

As unidades regionais de saúde fazem a vigilância constante dos agravos de notificação compulsória fazendo as intervenções necessárias para conter o avanço de doenças no território, entre eles as leishmanioses.

 

Percebendo a necessidade de capacitar os profissionais de saúde sobre o tema, as Unidades Regionais de Saúde (URSs) de Teófilo Otoni e de Pedra Azul, em parceria com a Fiocruz Minas e o Hospital Eduardo de Menezes, promoveram, no dia 18 de setembro, uma reunião online com os profissionais médicos e enfermeiros que atuam na rede pública da macrorregião de Saúde Nordeste (57 municípios), para falar sobre o manejo clínico das leishmanioses: cutânea, mucosa e visceral e apresentar as atualizações dos protocolos vigentes. 

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A médica infectologista do Hospital Eduardo de Menezes, Sílvia Hees de Carvalho, foi uma das palestrantes do evento. A profissional explicou que a leishmaniose é um grupo de doenças infecciosas causadas pela picada da fêmea do flebótomo, um inseto muito pequeno (de 2 a 3 milímetros), de cor clara, quase transparente, popularmente conhecido em algumas regiões do Brasil como mosquito-palha. A manifestação pode acontecer de três formas (cutânea, mucosa e visceral), a depender da espécie do parasita e da imunidade da pessoa que foi picada.

 

Segundo a especialista, a leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é caracterizada por febre irregular, perda de peso, hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e ou baço) e anemia. Se não tratada, pode levar à morte em mais de 90% dos casos. Sobre a leishmaniose mucosa ou mucocutânea, a médica explica que, além de afetar a pele, pode destruir, parcial ou integralmente, as membranas mucosas, acometendo principalmente o nariz e a boca. Com relação à leishmaniose cutânea (leishmaniose tegumentar), a doença produz lesões ulcerativas que deixam cicatrizes pelo resto da vida. Essa é a forma mais frequente das leishmanioses.

 

Sobre o tratamento, Sílvia Hees explicou que irá depender da forma de apresentação da doença e da espécie de leishmania envolvida, podendo variar de país para país.

 

A orientação é que o paciente procure a unidade de saúde de sua preferência, caso apresente algum dos sintomas. Tanto o diagnóstico, quanto o tratamento da leishmaniose são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

 

Por Déborah Ramos Goecking