“Alguém me avisou... Pra pisar nesse chão devagarinho...”. O trecho é da música “Alguém me avisou”, da cantora Ivone Lara. A canção, interpretada pelo coral do centro de convivência Recriar, abriu o evento de retomada do colegiado regional de saúde mental de Juiz de Fora, que atende a população dos 37 municípios da área. O evento foi realizado no dia 19 de setembro, no auditório da Superintendência Regional (SRS) de Juiz de Fora e pretendeu mostrar a arte como uma técnica terapêutica para a reabilitação da saúde mental.

O bater de palmas da plateia funcionou como percussão. Os acordes vindos do violão do psicólogo Conrado Pavel de Oliveira ditaram o ritmo. No auditório da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora, os convidados se renderam ao entusiasmo das vozes do coral.

O coral surgiu como resultado da prática de musicoterapia. Segundo o psicólogo Conrado Pavel, é uma técnica terapêutica que usa a música para proporcionar reabilitação mental. “As pessoas que frequentam o centro gostam de música. Então uni minhas habilidades musicais com as técnicas da psicologia”, comentou.

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No processo terapêutico, tanto do Centro de Convivência Recriar como das unidades do Centro de Assistência Psicossocial (Caps), são utilizados, além da música, outros ofícios  como artesanato e pintura. 

Uma das pessoas que usufrui das oficinas do Centro Recriar é o aposentado Sérgio de Augusto de Oliveira, de 61 anos. Ele entrou numa profunda depressão após a perda dos pais há cerca de 20 anos. E então começou passar pelo atendimento psicossocial logo depois. Na pintura ele encontrou um ofício que o orgulha. “Acho que eu sou um artista”, declara, tímido. Colocadas à venda na parte externa do auditório, várias pinturas de sua autoria revelam a inspiração que o ajudou a ter esperança.

Na parte de trás de um quadro, uma frase anotada a lápis diz “sonho realizado”. Indagado, Sérgio explica: “essa pintura retrata o que representa a vida ideal que eu mesmo sonho para mim”, revela. Na tela é retratado um homem num veleiro, nas águas calmas, de tom avermelhado, de um rio.

 

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O colegiado

Para que atividades como as oficinas e todo o suporte oferecido possam se tornarem mais fortes, torna-se necessária a existência de um colegiado. A referência em Saúde Mental, da SRS Juiz de Fora, Joana D’Arc Zanelli frisou que o colegiado "tem o papel de estar mais próximo dos municípios, das instituições e conseguir avanços”, destacou.

Os serviços, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e Centros de Convivência e Cultural (CCC), contam com equipes multiprofissionais: médico psiquiatra, psicólogo, serviço social, enfermagem e algumas ferramentas terapêuticas, como as oficinas. 

Joana D’Arc Zanelli, destacou ainda que o colegiado regional atua justamente como apoio para essas instituições e profissionais que atendem os usuários. “As reuniões do colegiado podem agilizar as necessidades do território", reforça. 

 

O histórico 

Em 2016, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) instituiu a Política Estadual de Saúde Mental, que pavimentou o surgimento dos colegiados.

O funcionamento do colegiado regional de Juiz de Fora foi interrompido em função da pandemia. Após a aprovação do Plano de Ação da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) de Minas Gerais, em novembro de 2022, a saúde mental voltou a ter protagonismo. 

Agora o colegiado regional de saúde mental de Juiz de Fora retoma as atividades para dar continuidade no apoio à saúde mental da população dos 37 municípios da área.

A psicóloga do Caps Casa Viva, Thaís Araújo, do município de Juiz de Fora, pontuou que a retomada do colegiado fortalece a política de saúde mental dos municípios. "É uma oportunidade para que os diversos serviços tenham um espaço de encontro para trocar ideias. O momento é propício pois a saúde mental de muita gente está fragilizada, principalmente depois da pandemia", frisou a psicóloga.

 

Desenvolvimento da Rede de Assistência Psicossocial (Raps)

Conforme o plano, está prevista a implantação de mais 14 serviços voltados para a saúde mental até 2025, na área da regional de Juiz de Fora, que compreende 37 municípios. Entre os serviços estão: leitos de retaguarda, centros de convivência e cultura, unidades de acolhimento, Caps, entre outros.

 

A Raps

A Rede de Assistência Psicossocial (Raps) é um conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de atenção. Tem como objetivo ofertar o cuidado às pessoas com transtorno mental ou necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

A rede é composta pelos seguintes serviços estratégicos:

  • Atenção básica: Unidades Básicas de Saúde (UBS), consultórios de rua, centros de convívio e cultura;

- Atenção psicossocial estratégica: Centros de Atenção Psicossocial (Caps);

- Atenção de urgência e emergência: SAMU, salas de estabilização,  Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)

- Atenção residencial de caráter transitório: unidade de acolhimento;

- Atenção hospitalar: serviço hospitalar de referência;

-Estratégia de desinstitucionalização: serviços residenciais terapêuticos;

-Estratégias de reabilitação psicossocial: geração de trabalho e renda, empreendimentos solidários;

A Raps do Estado de Minas Gerais é composta por aproximadamente 1.180 serviços. Na área de abrangência da regional de Juiz de Fora são cerca de 66.

Por Jonathas Mendes