“Óbitos causados por dengue são evitáveis. Se eles estão ocorrendo é porque a rede de assistência à saúde está frágil. E, como o Brasil apresenta uma das maiores taxas de letalidade por dengue no mundo (1,34% enquanto a Organização Mundial de Saúde preconiza como ideal uma taxa inferior a 1% dos casos notificados), no momento a prioridade dos profissionais que atuam nas unidades de saúde é divulgar os sinais de alarme da doença; melhorar o acesso da população aos atendimentos, priorizando as pessoas com suspeita de terem contraído dengue e, de forma fundamental, ampliar a oferta de hidratação oral e venosa nas unidades de saúde”.

As orientações descritas acima fizeram parte, nesta terça-feira, 5 de março, da apresentação do médico da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, Mariano Fagundes Neto, no segundo dia do Seminário Qualificação das Arboviroses – Manejo Clínico e Planos Municipais de Contingência, realizado em Montes Claros. 

05.03.2024-Montes Claros-Seminário manejo 2 A

O evento, organizado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), reuniu dezenas de médicos e enfermeiros de 86 municípios que compõem a macrorregião de Saúde Norte. O objetivo do encontro foi atualizar os profissionais sobre as condutas que devem ser adotadas no atendimento de pacientes nas unidades de saúde, visando agilizar os procedimentos e evitar que evoluam para situações mais graves e, com isso, potencializando o risco de virem a óbito.

 Ao lembrar que, em 1995, os casos de dengue foram notificados em 31,4% dos municípios brasileiros, percentual este que aumentou, em 2021, para 89,9% dos municípios, Mariano Fagundes destacou que o controle da doença no país passa pela disseminação da bactéria wolbachia, que bloqueia o vírus da dengue, zika, chikungunya e da febre amarela urbana. A proliferação de Aedes aegypti modificados acontece em laboratório e, ao serem dispersos no meio ambiente, se reproduzem com os mosquitos locais estabelecendo, aos poucos, uma nova população. “Esse efeito torna o método auto sustentável e uma intervenção acessível a longo prazo, pois teremos menor transmissão de vírus das arboviroses e, consequentemente, um menor número de doenças notificadas e de casos graves”, pontua o médico.

Como essa metodologia de controle do Aedes aegypti ainda não está disponível em larga escala, Mariano Fagundes observa que resta aos serviços municipais de Atenção Primária  à Saúde acompanhar os grupos de risco para as arboviroses; realizar as consultas de retorno dos pacientes no quinto dia após o primeiro atendimento, a fim de que seja feita nova classificação do paciente; e investir em ações de educação em saúde, prevenção e controle das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

05.03.2024-Montes Claros-Seminário manejo 2 B

Ao lembrar que pacientes com suspeita de ter contraído dengue evoluem rapidamente para situações de saúde graves e com risco de óbito, Mariano Fagundes reforçou que os atendimentos precisam ter prioridade nas unidades de saúde. “Para isso as unidades precisam ter planejamento bem definido e equipes capacitadas, pois numa epidemia uma boa gestão de saúde é capaz de salvar mais vidas do que médicos”, concluiu.

Na abertura do segundo dia do seminário, a superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marque, salientou que “o momento exige a união de esforços entre o Estado e municípios para conter o avanço das arboviroses, levando em conta a alta incidência registrada neste ano em todas as regiões. Os serviços de saúde estão ficando cada vez mais sobrecarregados no atendimento de pacientes e, por esse motivo, a troca de experiências e a atualização dos profissionais constitui medida importante para salvarmos vidas”.

 

Foco

Ao apresentar o cenário epidemiológico das arboviroses, Roseli Gomes, referência técnica da Coordenação Estadual de Vigilância das Arboviroses (Cevarb), reforçou que diante do aumento de casos notificados em Minas Gerais a prioridade do Estado e dos municípios é conter o aumento dos óbitos. 

“Como não temos como prever quando acontecerá a estabilização ou a redução da curva de casos notificados de dengue e de outras arboviroses, precisamos unir esforços para reduzir os óbitos. Além do Estado, ocupar o segundo lugar no país em número de casos notificados de dengue, Minas Gerais está cercado por outras regiões com alta incidência de transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti. Isso pode significar maior risco de gravidade”, alertou Roseli Gomes. 

A referência técnica do Cevarb destacou a importância dos serviços de Atenção Primária à Saúde assegurar o atendimento dos pacientes com suspeita de terem contraído arboviroses, além de notificar os casos e viabilizar o acesso a exames laboratoriais para a identificação dos sorotipos circulantes no estado. “Isso contribuirá para a definição de políticas públicas levando em conta as doenças mais prevalentes”, observou. 

A programação do segundo dia do Seminário Qualificação das Arboviroses – Manejo Clínico e Planos Municipais de Contingência contou com o repasse de orientações aos profissionais de saúde sobre o atendimento de pacientes com suspeita de terem contraído chikungunya, zika e febre amarela; atualização de informações sobre a rede de referência e fluxos assistenciais nas Unidades Regionais de Saúde de Montes Claros, Januária e Pirapora; e do serviço de diagnóstico e acompanhamento laboratorial mantido pela SES-MG. 

 

Cenário

Nesta terça-feira, 5 de março, Minas Gerais contabilizou 470.032 casos prováveis de arboviroses notificados neste ano pelos municípios. Desse total, estão confirmados 179.893 casos, distribuídos da seguinte forma: 152.440 casos de dengue; 27. 446 de chikungunya e sete casos de zika. 

O Painel de Vigilância das Arboviroses em Minas Gerais contabiliza 58 óbitos causados por arboviroses, sendo 49 por dengue e 9 por chikungunya. 

Em 86 municípios, que compõem a macrorregião de Saúde do Norte de Minas, até o momento foram notificados 27.659 casos prováveis de arboviroses e 4.468 foram confirmados por meio de exames laboratoriais. Estão distribuídos da seguinte forma: 4.381 casos de dengue e 87 de chikungunya. Dois óbitos por dengue foram confirmados na região e doze estão em investigação.

 

Por Pedro Ricardo

Enviar para impressão