“Repete, papai, fala de novo”. A felicidade da pequena Manuela Ramos Dias, de cinco anos, utilizando pela primeira vez o par de aparelhos auditivos, era expressa pelo olhar de encantamento ao ouvir a voz do pai claramente. O equipamento foi concedido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e será o suporte para o desenvolvimento da pequena menina, moradora de Rodeiro, Zona da Mata de Minas Gerais. 

“Estou emocionado porque foram anos sonhando que um dia ela iria me escutar”, contou o pai, Wellington Dias. Ele que acompanhou a filha, a esposa e a avó materna na consulta fonoaudiológica em que foi entregue o aparelho.

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Quando a menina tinha três anos, os pais perceberam que algo não estava bem. Na unidade da Estratégia Saúde da Família (ESF), ela foi encaminhada para uma fonoaudióloga, que detectou que, do ouvido esquerdo, ela não escutava, e, do direito, tinha apenas 40% de audição. “Desde então, ela faz acompanhamento com a fono, que nos encaminhou para cá e estamos recebendo o aparelho. Daqui por diante, ela vai escutar melhor, falar melhor, entender, vai melhorar nossa convivência”, disse a mãe, Ana Clara Ramos. 

 

Reabilitação auditiva

É através do Centro Especializado em Reabilitação (CER) de Ubá que, mensalmente, cerca de 20 usuários do SUS, pertencentes aos 20 municípios da microrregião de Saúde de Ubá, recebem aparelhos auditivos sem custo para o paciente, feitos sob medida para caber discretamente e confortavelmente nos ouvidos. “É maravilhoso trabalhar em algo em que podemos ver a satisfação e transformação na vida das pessoas. A perda auditiva prejudica o desenvolvimento da fala nas crianças, restringe as possibilidades de adultos e aumenta o isolamento dos idosos, entre outras consequências. O que presencio aqui é mudança para melhor na qualidade de vida das pessoas”, relatou Silvânia Gonçalves Lopes Passon, fonoaudióloga especialista em audiologia do CER-Ubá.

O benefício segue uma lista de prioridades, atendendo primeiramente crianças e adolescentes, trabalhadores, pessoas acometidas de agravos que prejudicam algum órgão do sentido e, por fim, idosos, que atualmente enfrentam uma fila para adquirir o aparelho via SUS. Ainda assim, alguns idosos são contemplados, como a moradora de Tocantins, Vitalina Antônia de Melo, de 76 anos, que foi outra paciente contemplada em novembro. 

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“Perguntavam se eu estava  triste, mas não era isso. Ficava calada porque não ouvia e não queria ficar falando ‘hein’, ‘não entendi’. É chato”, diz Vitalina Melo, explicando como foi ficando cada vez mais distante do convívio social, desde que se agravou a perda auditiva, há cerca de cinco anos. “É a primeira vez que coloco o aparelho e estou ouvindo tudo, até o barulho do ar condicionado! Estou muito alegre de voltar a ouvir, terei mais independência, sinto que voltei para o mundo de novo”, contou.

 

Custeio e recursos 

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Ubá é habilitada como CER III. Estima-se que, em média, um par de aparelhos auditivos tem o custo em torno de 10 mil reais. “Há um recurso mensal para ofertar serviços de reabilitação, advindos de fonte federal e estadual. São muitas pessoas beneficiadas dentre as três modalidades contempladas, a saber: física, auditiva e intelectual, seguindo as prioridades estabelecidas”, explica Ana Cristina Custódio, referência técnica da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência da Gerência Regional de Saúde de Ubá.

A regulação dos usuários para o  CER III ocorre via Junta Reguladora (JR) da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. “É através da atuação efetiva da JR que conseguimos articular para que todos os 20 municípios tenham acesso ao serviço, obedecendo ao fluxo assistencial estabelecido e atendendo aos critérios de encaminhamento previstos nas diversas modalidades. A composição e pactuação da JR é uma exigência da legislação para os municípios sede de Centros Especializados em Reabilitação ou qualquer outro ponto de atenção do componente especializado da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência.

Pela Resolução SES/MG 7.924, foi destinado um incremento financeiro para fortalecimento da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência que possibilitará atender a demanda represada do CER III de Ubá. O recurso já se encontra no Fundo Municipal de Saúde do Município e a previsão de repasse para início das ações assistenciais é para janeiro de 2024.

 

Serviço

O Centro Especializado em Reabilitação (CER) de Ubá realiza avaliação auditiva; seleção, adaptação e fornecimento de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI); acompanhamento e terapias de habilitação ou reabilitação auditiva.

O encaminhamento para estes serviços deve ser realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município de residência do usuário e o agendamento é realizado pela Junta Reguladora da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência do município sede do serviço. A SMS também é responsável por informar ao paciente quanto à documentação necessária e prover exames disponíveis no SUS.

Por Keila Lima

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