Com expectativa de ser difundido para os 853 municípios do estado, em uma iniciativa envolvendo as demais unidades regionais da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros iniciou neste mês, de forma pioneira, o repasse do Protocolo de Enfermagem para Atendimento Antirrábico Humano nos serviços municipais de atenção primária do Norte de Minas. O protocolo elaborado pela referência técnica das coordenadorias de Vigilância Epidemiológica e de Saúde da SRS Montes Claros, Amanda de Andrade Costa, visa agilizar o atendimento de pessoas vítimas de acidentes com animais transmissores da raiva, uma vez que se trata de doença com alta taxa de letalidade.

“O objetivo é validar a prática da enfermagem e ampliar as atribuições do(a) enfermeiro(a) na atenção primária da rede municipal, através de um guia simples e prático para a consulta do profissional quanto à prescrição de vacina, soro ou imunoglobulina antirrábicos”, explica Amanda Costa.

29.02.2024-Montes Claros - protocolo antirrábico

Em Montes Claros, a apresentação do Protocolo foi concluída na quarta-feira, 28/2, envolvendo 160 enfermeiros que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Também neste mês, o Protocolo foi apresentado a profissionais da atenção primária e da assistência hospitalar dos municípios de Monte Azul, Mamonas, Gameleiras, Catuti, Mato Verde e Espinosa. Em março a apresentação contemplará profissionais de São João do Pacuí.

Amanda Costa observa que, apesar da adoção e utilização do Protocolo ter respaldo legal dos conselhos Federal e Regional de Enfermagem, bem como da Lei Federal 7.498, que regulamenta o exercício da enfermagem, a utilização depende de aprovação de cada município. Porém, em novembro de 2023, o Comitê de Urgência e Emergência aprovou a adoção do Protocolo pelos 86 municípios que integram a macrorregião de Saúde Norte. Na SRS Montes Claros estão jurisdicionados 54 municípios; 25 pertencem à Gerência Regional de Saúde (GRS) de Januária e sete que pertencem à GRS de Pirapora.

O cenário epidemiológico preocupante com aumento de animais positivos para raiva; a rotatividade ou ausência de profissionais médicos em alguns municípios, impactando a assistência recebida pelos usuários vítimas de agressão animal e a letalidade da raiva humana que chega a 99%, foram alguns dos motivos que levaram a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS Montes Claros a elaborar o Protocolo de Atendimento Antirrábico Humano.

Dados do Centro de Controle de Zoonoses de Montes Claros apontam que, entre 2018 e 2023, foram capturados no município 27 morcegos, todos portadores do vírus da raiva. Além disso, em áreas urbanas e rurais, a doença pode ser transmitida às pessoas por cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e animais silvestres, entre eles morcegos, gambás, micos, saguis, gatos do mato e raposas.

De acordo com o Protocolo, entre os procedimentos que os profissionais de enfermagem deverão adotar quando uma pessoa vítima de agressão por animal potencialmente portador da raiva procurar uma unidade de saúde estão: consulta de enfermagem; limpeza do ferimento; confirmação da agressão; notificação do agravo; avaliação da imunização antitetânica e aplicação de vacina quando indicado.

O ferimento deve ser lavado imediatamente com água e sabão por 15 minutos, mesmo que o paciente já tenha realizado uma limpeza. Não é recomendada a sutura dos ferimentos. Quando imprescindível, as bordas podem ser aproximadas com pontos isolados, uma hora após a infiltração de soro.

O atendimento de pessoas menores de 18 anos e de portadores de problemas cognitivos, mesmo devido a idade avançada, deve ser realizado pelos enfermeiros mediante a presença de um cuidador ou familiar. A consulta deverá ser registrada em prontuário ou formulário específico cedido pelo município.

Equipe
Além de Amanda Costa, a elaboração do Protocolo contou com a participação de equipe multiprofissional formada por referências técnicas da SRS Montes Claros e profissionais atuantes em serviços de saúde do Norte de Minas nas áreas da enfermagem, veterinária e medicina: Agna Soares da Silva Menezes; Carlos Keliton Nunes de Oliveira; Eusane Ferreira Santos; Helen Regina Pinheiro Rodrigues; Hildeth Maísa Torres Farias; Lucélia Pereira dos Santos Cardoso; Raissa Maeiejewsk Quintino; Simone Queiroz Cordeiro; Thiago Monção; Carolina Lamac Figueiredo; Marcone Alkimim Oliveira; Raimundo Nonato Lopes e Milton Formiga Souza Júnior.

A doença
A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós-exposição ao vírus. A doença é transmitida às pessoas pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura. A doença também pode ser transmitida pela arranhadura ou lambedura desses animais.

Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nesse período, o paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaleia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia.

Pode ocorrer inchaço, aumento da sensibilidade ao tato ou à dor, frio, calor, formigamento, agulhadas, adormecimento ou pressão no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura e alterações de comportamento.

A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como: ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários generalizados ou convulsões.

A raiva não tem cura e sua evolução é muito rápida. Entre o começo dos sintomas e o estado de paralisia, podem se passar apenas sete dias.

É por conta disso que, assim que alguém é mordido, lambido ou arranhado por um animal urbano ou silvestre que não esteja vacinado contra a raiva, é preciso tomar a vacina e realizar os procedimentos para impedir que o vírus entre em contato com o sistema nervoso central.

Por Pedro Ricardo

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