A Universidade Federal de Viçosa (UFV), com o apoio da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Ponte Nova e da Secretaria Municipal de Saúde de Viçosa, realizou em seu campus, no dia 20/2, o I Seminário Microrregional de Atenção ao Pré-Natal de Alto Risco. A iniciativa foi promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) do Departamento de Enfermagem e Medicina (DEM), como resultado de um produto científico proposto pelas mestrandas Fernanda Gonçalves Fontes e Simone Cunha Rodrigues, orientadas pelo docente Pedro Paulo de Prado Júnior. O objetivo foi discutir a rede de atenção à gestante de alto risco e seu itinerário terapêutico no município de Viçosa e na microrregião de Saúde de Viçosa, com destaque para o Centro Estadual de Assistência Especializada (CEAE), com sede em Viçosa.

Simone Rodrigues, que é enfermeira da rede municipal de Viçosa, ficou a cargo da apresentação do perfil da gestante de alto risco e explicou que o estudou procurou traçar o perfil epidemiológico e de assistência de 97 gestantes atendidas pelo CEAE entre novembro de 2022 e abril de 2023. “Entre algumas variáveis estudadas, observou-se predomínio de gestantes de 20 a 34 anos, faixa etária divergente daquela considerada de risco pelo Ministério da Saúde (MS), que é de 35 anos ou mais, autodeclaradas pretas/pardas/amarelas, em união estável, média de dez anos de estudo, com renda de até um salário-mínimo, possuindo três ou mais dependentes”, relatou.

Palestrantes do evento

A palestrante também abordou outros pontos da pesquisa, como as condições desfavoráveis no trabalho, estresse e esforço físico, redução do tabagismo, do consumo de bebidas alcoólicas e a permanência do uso de drogas ilícitas na gestação. Evidenciou-se, ainda, a presença de alterações clínicas antes da gestação, com predomínio da hipertensão arterial e obesidade e início do pré-natal no primeiro trimestre.


Por sua vez, a mestranda Fernanda Gonçalves, que também é auditora assistencial do SUS na SRS Ponte Nova, conduziu a palestra sobre o itinerário terapêutico da gestante de alto risco. “Trata-se do caminho percorrido na busca de cuidados para resolver questões de saúde/doença, explicou a mestranda. Segundo ela, “por meio da pesquisa, constatou-se que as gestantes analisadas percorrem os pontos de atenção e reconhecem a rede de assistência, como laboratório, farmácia popular, policlínica e Unidade Básica de Saúde (UBS), de acordo com a necessidade. 90,4% das gestantes iniciaram as consultas em UBS próximas à sua residência”.

Fernanda apontou como um fator positivo o alto nível de satisfação das gestantes (98,8%) assistidas pelo CEAE e o cuidado compartilhado entre os níveis de atenção. “Mesmo sendo encaminhadas à Atenção Ambulatorial Especializada (AAE), a maioria das gestantes manteve o vínculo com a Atenção Primária à Saúde (APS). É muito importante que essas mulheres não fiquem perdidas na rede, tendo sempre como referência e porto seguro a UBS, no seu território”, apontou. Outros dados trazidos na palestra se referem ao acesso: 95,2% das entrevistadas consideraram facilitada a entrada no CEAE e 91,6% tiveram consultas marcadas pelo serviço de saúde de origem - UBS ou Secretaria Municipal de Saúde.

Para a superintendente da SRS Ponte Nova, Josy Duarte, o estudo apresentado no seminário comprovou a efetividade do trabalho em rede por meio de uma assistência qualificada à gestante de alto risco. “Nós, que somos mulheres e mães, sabemos o quão necessário é termos um atendimento qualificado na gestação, ainda mais quando envolve riscos à saúde da mãe e do bebê”, disse. Josy Duarte acrescentou que “não podemos deixar de lembrar de que, mesmo encaminhada ao CEAE, essa gestante não deve perder o vínculo com a APS, que é a coordenadora do cuidado”.

O gestor de saúde de Viçosa, Rainério Fontes, mencionou a implementação de melhorias que têm sido feitas no CEAE, como a destinação de recursos estaduais no valor de cerca de R$ 1,2 milhões, já em conta, para aquisição de um mamógrafo e a aquisição recente de um ultrassom, também oriunda de recursos estaduais de investimento repassados ao serviço.

23.02.2024 - Ponte Nova-Pré-Natal de Alto Risco 3

Participação Regional
A coordenadora de Atenção à Saúde (CAS) da SRS Ponte Nova, Saskia Drumond, ao lado das referências técnicas Karen Ségala e Ana Flávia Mendes, enfatizaram o papel do CEAE na assistência à gestante de alto risco. Para Saskia Drumond, “como qualquer rede de cuidado, a de alto risco deve ser coordenada pela APS, porque é desse território que sai a gestante. É lá que ela tem que ser captada de forma precoce, onde é avaliado seu risco gestacional”, disse. A coordenadora reforçou a importância da manutenção do vínculo e da responsabilidade compartilhada entre todos os pontos da rede, por meio do conhecimento dos protocolos clínicos, das ferramentas, dos partogramas, do cartão da gestante e da estratificação do risco gestacional durante todo o percurso.

A referência técnica da SRS Ponte Nova Karen Ségala ressaltou a importância do projeto estratégico Saúde em Rede, que aconteceu em Viçosa ao longo do ano de 2021, e que se encontra em processo de expansão no município, chamando a atenção para a importância da qualificação das equipes de Atenção Primária à Saúde e da Atenção Ambulatorial Especializada quanto aos processos de trabalho voltados para a integralidade do cuidado à gestação de alto risco. “É notória a relevância do CEAE para a microrregião, porém existem desafios a serem superados para que o serviço seja mais efetivo em todas as suas linhas de cuidado, entre eles a organização dos fluxos entre os municípios referenciados e para a maternidade do Hospital São Sebastião, em Viçosa”, ressaltou.

A instituição do Qualifica CEAE foi abordada por Ana Flávia, referência técnica da SRS Ponte Nova, como um núcleo de qualidade composto por membros da SRS Ponte Nova, Estado, gerente e coordenadora do serviço, APS, gestão do município sede e gestores municipais representando os municípios da microrregião. “O núcleo se reúne ordinariamente a cada quadrimestre, discute e articula ações relacionadas ao serviço a partir de consenso. Dentre as ações realizadas, cito as reuniões com a equipe da maternidade para definição de fluxos, elaboração de propostas, encaminhamentos e comunicação entre os pontos da rede”, citou. Segundo ela, em 2023, foi proposto um fluxo para melhorar a interlocução entre os pontos da rede, favorecendo uma comunicação direta entre o CEAE, a maternidade e a APS. “A partir das discussões, foi proposta a identificação do cartão da gestante de alto risco como uma sinalização para os profissionais da maternidade que venham a atendê-la, seja no momento do parto ou no atendimento a alguma intercorrência gestacional e, posteriormente, no envio da informação ao município de origem após a alta hospitalar”, completou.

Por Tarsis Murad / Fotos: DEM/UFV e Simone Rodrigues

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